quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Declaração de Amor

Foto de Zim


Sempre intuí, seguramente muito antes de pensar, que o mar impele à partida, e o campo ao recolhimento, a ficar.

Ao longo da minha infância, adolescência, e juventude adulta, tive a sorte de ter longas férias de Verão entre a praia e o campo, a Terra. E a Terra, que emula com o próprio planeta nesta abundante designação, é a terra que viu o meu Pai nascer. Uma aldeia para onde os meus pensamentos mais puros e iniciais sobre Natureza, Campo, enfim, Paraíso terreno, são prontamente convocados, uma espécie de pureza à desenho animado, nesses onde há gnomos e borboletas cintilantes e água de riachos a reverberar miríades de formas e cores. Não faltam no cenário as congeminações de fábula. A aldeia, as lembranças da aldeia, da tão velha e tão mágica casa antiga, as nossas memórias mais pessoais, consubstanciam um património de inigualável riqueza no meu coração e luzeiros indefectíveis do meu sonho.

Tenho a certeza de que um dos fascínios da natureza, e em particular no que à floresta respeita, reside na majestosa temporalidade que ecoa pelas suas sendas, sombras, colinas. Olho para o velhíssimo carvalho, para o encantador verde profundo do cedro, reconheço a pedra no caminho de há décadas. Sei que me sobreviverão. Companheiros de síntese de imaginários e da mais eloquente tangibilidade, assim são os carreiritos, as acácias, os pinheiros, a flores, algumas casas, os ruídos da noite, profetiza de auroras de vida silente a subir do chão. Também a lua e sempre o sol.

Não sei explicar. É um ímpar perfume de universalidade a pousar irreversivelmente (fossem tão doces todas as irreversibilidades),  na intimidade destes vales, nos muros centenários e no meu coração.

Foi dentre estes verdes e cantos de passarinhos que nasceu a Alegoria da Primaverve, durante umas bem-aventuradas tréguas que a cidade grande me concedeu sob o nome de férias. E em tão bons ares só pode dar-se coisa boa!

2 comentários:

Pagu disse...

Eu diria, só pode dar-se coisa muito boa.

E deixo aqui o prazer inesquecível que foi levar-te a essa aldeia que hoje evocas quase como mágica, quando tinhas apenas dez dias de vida e tornaste esse lugar ainda mais bonito.

Tamborim Zim disse...

Mana, prazer maravilhoso o dessa recordação, grata do lado esquerdo do peito:) (Perceberás, todavia, que n me recorde absolutamente bem...tenho laivos, diria. Mas julgo q tenho uns restos de romance q escrevinhei por aqui aos meus vinte e tal dias. Precoce, trop precoce!...)