quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Mudar

Foto de Zim


Mudar, diria, é do camandro.

Mudar de cores, de ideias, de sonhos e de pesadelos.

Mudar de casa, mudar de labores, mudar de penteado.

Mudar os preconceitos, torná-los preceitos de bem pensar.

Mudar de livro, de música, de bebida, de dieta, de regime (mas sempre para a República, até não vir nada melhor).

Mudar de sexo, se mudar de sexo se impuser.

Mudar o usual destino dos passeios e vogar noutras águas, voar noutros ares, se possível distantes, intensos, secretíssimos e intocáveis pelos olhos gordos do mundo.

Mudar de rumo.

Mudar o coração. Abri-lo, dissecá-lo, regá-lo e drená-lo com foros de cirurgião-artista-pintor-poeta-louco.

Somar o pouco, resultar em tanto.

Mudar de assunto. Mudar de ponto. De vista, de partida, de chegada.

Ser, com a maior das lealdades, o maior cúmplice do tempo, entendê-lo por fim no seu irresistível fluir de rio, e navegá-lo com desvelada atenção sem nunca perder da vista e do sentimento o imenso, eterno apelo da aventura.

Mudar a cura.

"Sê a mudança que queres ver no mundo." - "You must be the difference you wish to see in the world." (Ghandi)

2 comentários:

Pagu disse...

Gostei muito da frase do magricelas pacífico mas se ele tivesse que andar no meio do trânsito todos os dias, trabalhar com gente reles, lidar todos os dias com imprestáveis, ter um ordenado para gerir num país caótico, aí sim, queria ver até onde ía a prosa dele.

Viver no meio da montanha, de túnica, chinelos, discursar ali e acolá e ter a malga sempre cheia de arroz, isso sim, é vida.

Como é que ele pode não dizer coisas tão bonitas?

Mas mudar sim, sempre. Haja tomates.

Tamborim Zim disse...

Ó menina Pagu, ora ora! Pois o Gandhi teve as suas provações, e não foram pequenas, desde logo tentar coisas como "não violência" e, ao mesmo tempo, resistência.E, claro, num mundo imperfeito e caótico, pq esse é o nosso onde quer que vivamos, na geografia e na diacronia histórica, ai sim.

Mudar...haja:)