quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Sobre os desencantos com a blogosfera ou Do que o mundo precisa


A jardinar é que a gente se entende meu povo

Ainda enquanto apenas espectadora blogosférica, apercebi-me do desconforto, da insatisfação e até de uma certa carga saudosista por parte de vários bloggers e leitores quanto aos rumos do mundo dos blogs. Confesso que a minha vivência do meio data de apenas dois ou três anos, por aí, pelo que não serei propriamente experiente, mas esboço aqui a minha investida altamente sócio-blogo-lógica acerca do fenómeno. Desconheço se antes o cenário era idílico ou mais talentoso. Reconheço, porém, que é perfeitamente possível que, como talvez aconteça com todas as coisas, se respirasse uma pureza maior no início, e até um perfume de reconfortante exclusividade.
Mas, dilectos leitores, é como tudo: cresce o interesse, cresce o público, crescem os produtos ou, neste caso, os blogs. Milhares por dia. É assim. Da minha parte, gosto muito deste libérrimo acesso. Toda a gente, desde que tenha acesso à Internet (bom, neste caso não será toda a gente, mas percebe-se aqui a generalização), pode criar o seu blog, divulgar os seus gostos, confrontar as suas opiniões, publicar finalmente poemas e poemetos, raciocínios inauditos e o que lanchou. Livre acesso, livre utilização.
No meio de uma ou outra análise mais sincera e avisada sobre os blogosféricos rumos, abunda a invejite, a sonsice, a ferroada, a tristeza dos ressabiados e os puramente desprovidos de qualquer interesse que não seja a ofensa cega e abstrusa.
A menina que mostra sapatos (mas que mostra muito mais do que isso) e tem sucesso com o seu blog logo é atacada por fundas consciências literatas que, não deixando de ler atentamente o tal blog, se confessam exauridas do seu espírito. E, claro, fashion blogs, ou pretensamente fashion, nascem como cogumelos. Ainda assim, parecem-me bastante preferíveis aos faxina blogs, ou blogs de lavagem de roupa (entre outros) suja. Se é campo aberto, é campo aberto, meus caros. Não há livros de conteúdos e qualidades tão díspares, não sucede o mesmo com a música, com a pintura contemporânea, com o cinema, com um rol de coisas? Pretenderemos que os blogs sejam uma espécie de sacrossanta criação exclusiva de raríssimas pedras preciosas, de tiradas magistrais, de prémios Nobel?
O que tenho a bitaitar sobre o tema, e já o fiz em comentários a outros blogs, é que cada blogger deve zelar pelo seu espaço. Fazê-lo diferente, sim, seu. O voltairiano “cuidar do seu jardim”. Quanto mais seu, mais interessante será partilhá-lo. O mundo precisa de regeneração da pureza. Que isso vos inspire o espírito blogueiro. Renovem-se, abram horizontes, ou continuem os vossos bons trabalhos e bons textos. Há muita gente a gostar de ler diferentes tipos de escrita, muita gente que perfilha mundividências diversas, gente que gosta de inteligência, de humor, de charme, de encanto e de conversar. Com bem vestidos, com mal vestidos, com ricos e pobres, com novos e com vetustos.
Acabei de criar este meu blog, e é isso que pretendo tentar. Com, espero, muito prazer. Não é por bons momentos que fazemos isto?

2 comentários:

Pagu disse...

Eu cá gosto deste blog mas regra geral não tenho paciência para andar a "cuscar" na vida, gostos, férias, gostos da vida alheia, quando não tenho tempo para tudo o que preciso para a MINHA vida.

Ainda assim, congratulo-me por haver blogs como este, inteligentes, sérios e de humor fabuloso. É por isso que sempre que passo aqui à porta, entro, sento-me e fico encantada.

Dispenso blogs que exibam modelos de saias, botas, camisas, brincos, que digam onde jantaram, lancharam, cearam, que noticiem sobre a vida privada e sobretudo ODEIO as pessoas que invadem blogs para ofender, magoar, manchar o bom nome de outro, enfim, para mandarem cá para fora toda a infelicidade em que vivem.

Tamborim Zim disse...

Minha mais que dilecta Pagu, não tenho palavras à altura para agradecer sua generosidade, mas cá vai uma tentativa: muito obrigada! Creia que é um prazer encantá-la.

Concordo com o que diz sobre a maledicência. Quanto ao resto, que cada blog tenha o rumo escolhido pelo seu blogger, que afinal o divirta e o acompanhe nas suas demandas narrativas.

Volte sempre, é mais que bem-vinda!