quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O que eu quero mesmo saber

Marisa Monte - Descalço no Parque (Jorge Benjor)



Marisa Monte

A Marisa Monte é, para mim, A Diva. (Comigo, claro, cof).

Sou completamente fã de todos os trabalhos que publicou até agora, admiro imensamente a sua atitude indefectivelmente artística, discreta, elegantíssima, o seu amplo trabalho de recuperação da tradição oral do samba, a síntese esclarecida e criadora que opera sobre o antigo e o actual, permitindo-nos jóias de enorme beleza. Quer no que respeita aos inéditos, que ocupam a maior parte dos seus discos, quer a versões, para mim o seu talento é revigorante e não tenho dúvidas de que foi e continuará a ser uma das artistas-referência para mim, musical e esteticamente.

O seu próprio estilo pessoal é assumidamente inspirador para mim. A presença em palco, impressiva e inolvidável, para mim a criatura feminina mais encantadora no grupo das assim ditas "figuras públicas". O profissionalismo e o virtuosismo artístico e técnico, um exemplo por tantos reconhecido.

A sua voz...Bom, a sua voz..."Inefável" é o adjectivo. "Elo perdido entre o rouxinol e a flor", foi como o dinossauro Erasmo Carlos descreveu a sofisticada carioca. (Confesso que queria ter inventado essa metáfora tão bela e tão digna da "minha" Diva.)

Esta longa intro ajudará a que percebam o quanto amo artisticamente a Marisa Monte. E se agora me sinto desapontada, e inesperadamente desapontada com o seu disco novo em cinco anos, O que você quer saber de verdade, nem por isso deixo de me lembrar de tudo o que de maravilhoso já recebi via Monte. Sobretudo, no entanto, tenho de reconhecer que nem sempre é possível produzir resultados assombrosos e para mim, à excepção deste último disco e talvez de Memórias, Crónicas e Declarações de Amor, todos os discos da Marisa Monte foram assombrosos. O presente é para mim, e sem qualquer dúvida, o menos bom.

Mas e então Zim, o que te leva a perorar, a ressabiar, a embirrar com o disco? Então cá vai, mas só porque sois uns serezinhos insistentemente indagadores: as melodias, em geral, parecem-me lassas, sem alma, sem aquela elevação extraordinária a que a Marisa nos habituou. Até o canto me chega menos vibrante, menos "em cheio". Não descortino um espírito organizador entre as faixas, não me prende um perfume de conto, de canto, de caminho por entre a deambulação de O que você quer... A maior parte das canções parece-me simplesmente desinteressante e evitável.

Até a capa me parece aquém, muito aquém, do que poderia ser conseguido apesar de, no encarte, podermos apreciar um registo fotográfico gracioso e focado na imagem da Diva a caminhar pela rua, o que é bonito porque ali a temos a passear entre as canções, entre as tais que acho meio em desgarrada.

Dentre as 14 faixas, pelo menos até agora, só gosto verdadeiramente de três: a que dá o nome ao disco, dos companheiros Marisa, Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes,  Descalço no Parque, da pedra preciosa chamada Jorge Benjor e muito provavelmente a minha predilecta, e Verdade, Uma Ilusão, novamente uma colaboração entre os três amigos. Mas destas três gosto muito, e a cantora e intérprete está primorosamente presente.

Quanto à Diva...continuo a sentir-me feliz e agradecida por existir e pelas suas criações. Mesmo que nem todas estejam ao seu verdadeiro nível de ilimitado talento.

E o que é que eu quero mesmo saber? Cá vai...quando um novo disco, Marisa? Fala sério, de verdade.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Será que o frio emagrece?

Hmmm...cevada somos para ti, Zim!

Objectivo para este fim de dia:

- Um hamburger de espelta, cheio de sementes e de um sabor que faz o meu palato exaltar de felicidade.

- Um arroz (a regenerar da melhor forma possível, já que se encontra num estado de alguma dubieza de...textura, digamos), com feijão encarnado...

- Júbilo quentinho a acompanhar: cevada!

- Cobertores quentinhos.

Sou pessoa de prazeres simples.

domingo, 27 de novembro de 2011

Todos os "ais" são nossos

- É o Fado é a loucura é a troika, éééééé a troikaaaaa!!!...

Hum, estou aqui a pensar com o meu quentinho roupão de Inverno que esta distinção do Fado como Património Imaterial da Humanidade, pela UNESCO, até pode ter água, a bem dizer, no bico. Explico: dada a actual conjuntura económico-financeira, a crise teimosa, os ratings endemoinhados, não quererão  consolar-nos com isto e, ao mesmo tempo, avisar o mundo que os "ais" e os cruéis destinos vão aumentar de tom, aproveitando para insinuar, criativamente, "Já viram os 'uis' dos portuguesinhos não já, eles têm mesmo jeito para o sudário, vejam o exemplo de uma Nação que sabe exorcizar a sua desgraça cantando..."?

Por mim tudo bem, até fico contente com a honra. Desde que não venham aí mais uns quantos pregos para as tábuas do nosso caixão.

Assinado:

O Nacional Cepticismo ou O Fado Nacional

Amô

Carlinhos Brown e George Israel - Linhameyer

A propósito do preto e branco (combinação de que tanto gosto), deixo-vos nesta résteazinha simpática de Domingo uma mimosura sem preço. Linhameyer é o nome da canção do meu amado (artístico, não inventeis, não inventeis) Carlinhos Brown e de George Israel para o meu também amado (e também artístico, portanto sem devaneio p.f.) Oscar Niemeyer, o arquitecto-poeta, porque são poesia em estado puro as suas edificações tão...lindas (sim, apeteceu-me uma palavra simples).

Foi há uns anos a música de lançamento de uma colecção da H Stern desenhada por Niemeyer. Com quase  104 anos, continua este génio imerso em múltiplos projectos. Saúde infinita para ele!

A canção é amor em estado sonoro, ora ouçam.

sábado, 26 de novembro de 2011

Assalto de Lady Dúvida

Será que num dado momento, talvez em certos finais de vida, ou sob uma experiência de auto-abandono, verão os poetas, os romancistas, os pintores, os artistas, enfim, certos conceitos mais como palavras do que significados e sentimentos? Entenderão "amor", "felicidade", "beleza", e até "vida", por exemplo, como partículas estéticas formais, como próteses funcionais de um poema, de uma história, de uma história na tela, do seu idear? Sofás e caramanchões da inapelável solidão? Ou não, ou não?

Pistas para o Mapa da Mina

Mondrian - Composition in black and white with double lines

Pensamentos simples como o acto anódino de pestanejar conseguem prender não apenas a minha atenção, mas a minha contemplação de inabalável "fruidora". Comparo a situação à apreciação de uma tela.

Então há pouco ocorreu-me tão somente isto: tendo em conta o carácter altamente desgastante de múltiplas variáveis existenciais, uma boa maneira de não nos acabarmos em cada esquina da viagem é ...

----» tentar ao máximo ser correcto, sempre;

----» defender com a força dos argumentos, da inteligência e da sensibilidade as posições que considerarmos melhores e...

----» saber ficar bem connosco haja prevalência ou derrota do nosso ponto de vista, caso a decisão última não nos caiba; bem de consciência e de saúde emocional.

E em termos pictóricos imagino esta ideia como uma linha negra, por acaso semi-ondulante, numa tela branca, branca, alvíssima.

Simples, não?

Procura-se

Zim Borim

Alvíssaras a combinar. No topo dos mais procurados tamboristas.

Jerónimo de Sousa


Jerónimo de Sousa

Vi há bocado a entrevista do brilhante, amorável, irresistível Daniel Oliveira a Jerónimo de Sousa. Fiquei deliciada. Para já porque o talento do entrevistador permite aos entrevistados brilhar naturalmente. Depois, a força de carácter e a limpeza que irradiam dos olhos e de toda a expressão facial e corporal de Jerónimo de Sousa são tremendamente cativantes. Concorde-se ou não com a ideologia política perfilhada pelo líder do PCP, creio que é consensual a seriedade e a convicção com que o mesmo tem dado de si ao longo de tantos anos.

Homens feitos a pulso, com infâncias cheias de trabalho, com percursos provados em mil escolhos, mas com a saúde de quem defende e pratica aquilo em que acredita.

Sairá da sua carreira política, nas palavras do próprio, "como se saísse da fábrica" onde trabalhou duramente. Na justa igualdade da sua convicção.

E cheio de vontade de viver e de fazer muito mais.

Delicioso, sim - e dá que pensar sobre o tipo de pessoas em cujas mãos pomos, queremos e devemos pôr o nosso País.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Greve aos bancos faz parte da Greve Geral - se quisermos

O grupo-movimento wAllBalloon - A Bolha Rebentou, propõe que hoje façamos uma greve aos bancos  - nada de levantar dinheiro, depositar dinheiro, mandar dinheiro dentro de aviõezinhos de papel para os bancos, em suma, greve às transacções bancárias durante todo o dia.

Adiro a esta iniciativa, e conto ainda não efectuar qualquer tipo de aquisição de bens e serviços durante este dia. Parar os gestos do quotidiano e activar o alcance da nossa mente e das efectivas possibilidades de fazermos a diferença - eis o mote.

Greve Geral - Eu faço


- Socorro, estamos aqui debaixo, socorroooo!!!...


Talvez por me sentir mais motivada por alguns factores gentis da minha vida, com várias coisas a germinar em mim, talvez porque, por outro lado, me sinta cansada e já tão expoliada pelas vicissitudes desta pestilenta crise financeira (+crise de valores+crise de imaginação+crise de vergonha), este ano demorei muito mais tempo para decidir se iria ou não aderir à Greve Geral de 24 de Novembro.

Depois é a tal história: vemos o que nos cerca, entendemos que os prejudicados são sempre os mesmos, que os sacrifícios mais pedidos são sempre a quem menos pode, que a banca, as empresas, os mercados mundiais zelam pelo lucro e impõem a sua bitola (monetária e apenas monetária) à política, aos Estados, às casas das pessoas e às particulares e universais vulnerabilidades e apreensões das pessoas, de todos nós.

Cito um excerto da obra  Understanding Environmental Philosophy, de Andrew Brennan  e Y. S. Lo, que li na página de FB do Professor Paulo Borges: "... naturalmente que os governos não querem interferir com as empresas, dados não apenas a enorme influência do sector privado, mas também os perigos associados com mudar para algo novo. A crise financeira de 2008 não levou a uma acção para reformar substancialmente o sistema financeiro, mas antes para o reforçar e manter a funcionar. Considerar controlar ou limitar o poder das grandes empresas levanta o espectro de uma intervenção que possa fazer com que as coisas vão para pior em vez de para melhor e este receio é agudo em países com horror do socialismo ou do comunismo (vistos como as alternativas óbvias ao capitalismo de livre-mercado). Um tal quadro do presente conduz a uma questão final. Há esperança para o futuro?" (2010, p. 206.)

Seja o que for o "algo novo" a que os autores aludem, terá forçosamente de passar pela revisão desta voracidade gananciosa sistémica, pela denúncia da irracionalidade e dos efeitos tragicamente lesivos da antítese lucro fácil e mirabolante/debilitação, pobreza e fome, pela erradicação das imensas marcas feudalizantes que orientam as relações entre o poder político e o poder civil, a dinâmica das relações laborais, o binómio ética-conveniência pessoal/grupal.

Como o próprio Professor Paulo Borges afirma, cada um deve entender-se como uma solução para a crise. Mas é certo que há factores objectivos que, como ferros que moem, pressionam contra essa solução e ajudam a cavar o fosso das desigualdades e do desespero.

Pagamos os despautérios, as gestões criminosas, o enriquecimento. Dilectos, pagamos com os nossos direitos, as nossas parcas economias, o nosso quinhão de esperança, pagamos com tudo isso o enriquecimento diarreico da alta finança, a estultícia e venalidade dos governos, a impassibilidade mental e actuante das massas. A nossa impassibilidade crítica face à crise. Assinamos por baixo, anuímos tácita ou explicitamente a teorias que dão como inevitável o caminho do estrangulamento dos povos, fazemos vénias desgostosas, mas ainda assim vénias, à ilimitada crueza da especulação, especulação, especulação.

Eu sou daqueles que querem pôr em causa o sistema e as prioridades que nos aprisionam. Dos que acreditam que é possível a promoção da paz e da dignidade de todos, mas que justamente esses valores obrigam a alterações revolucinárias na nossa mentalidade e na nossa praxis cidadã.

E é em nome dessa convicção que adiro à manifestação efectiva e simbólica que é a Greve Geral para dizer que sou mais uma contra a onda do "vale tudo". Por um novo paradigma.

É o "algo novo", é o "algo novo" que se impõe. E agora, como sempre, é a Hora. Mas há agoras mais prementes do que outros e este é definitivamente um desses.

Bem vistas as coisas, foi a minha consciência que ouvi.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Carta aos campos


A Ribeira - Foto de Zim

Verde são os campos, da cor... cof, cof, não é isto.

Desta Lisboa fria e agora sempre molhada, escrevo-vos vales, escrevo-vos flores, sóis, luas à solta, cheiros do mato, copas que escondem e dançam segredos sem cansaço nem última revelação, em todo o ofuscante e demiúrgico esplendor da Natureza.

Escrevo ao rastro dos pássaros, ao perfume do ocaso, ao apocalipse do meu coração que ali e assim bate, em  paz comovida, de pão, de trigo.

Tenho saudades de passear muito livre pelos verdes, almejando azuis, a subir a cumes, a errar sem pressa. Mas bom é saber que está tudo lá, que temos onde voltar. E que num instante cada sombra e cada detalhe se reconstituem com a precisão do botão de rosa a crescer, túrgido, ou com a eternidade do cantar dos grilos -  mesmo aqui no peito dentro da nossa carcaça citadina embrulhada em roupa e saudade.

Faceiros apontamentos de Mãe

Sabem como é que a minha Magnificente Mamã agora acaba os telefonemas e os bilhetinhos que me deixa?

"Você é o elo mais fraco. Adeus."

Nunca viram nada igual pois não? Nem eu!

Notinha

Desculpem mas não resisto: já repararam no novo poema na barrinha lateral? Babem poesia...Eugénio.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Toutefois, nevertheless, contudo

Balão de ar quente - Irmãos Mongolfier, 1763

Mas, meus caros, é persistir. E persistir não é exactamente "malhar em ferro frio", ou insistir na "pedra dura" com a água mole. Persistir na anuência vital, e na assunção da vida enquanto viagem e Demanda. Significa isto que não há muito tempo a perder. O pulso acelera, os olhos querem horizontes para ver e criar, o balão solta-se e... zássss. É a aventura que recomeça. (Sem, na verdade, ter cessado. Só temos de estar conscientes da sua biologia e dos seus pés de sonho.)

Quem não apalpar cada dia novo como a um tenríssimo legume fresco, com prazer e virtude, perde a intentona a cores. O que é pena, convenhamos, o que é pena.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

IVA sobre as lembranças - perguntinha

Não sei que escalão terá o IVA sobre as lembranças do que foi e deixou de ser. Ou 6%, se forem entendidas por banais/essenciais, ou 23%, se consistirem em luxo suplementar aos olhos do legislador.

Andaremos todos a tentar esquecer alguma coisa? Porque nos lembramos, é isso? Persistimos numa convocação teimosa de factos, de idos, de passeios por uma tarde adentro, de confortos imensos mas rápidos na vida.

O que esquece usted, querido leitor? De que se lembra?

domingo, 20 de novembro de 2011

Não sei se estão a ver o problema desta perspectiva mas...

- Psssst...Portoghesini, destruam o vídeo, ouçam a Zim!

É preciso ver bem as coisas antes de falar, porque temos a tendência de muito verberar sem detença nem sentido.

Afinal, qual é o problema daqueles jovens? O Miguel Ângelo para a Mona Lisa? E depois? Já todos sabemos que o Miguel Ângelo e o Leornardo estão sempre associados! Tipo Da Vinci e Os Resistência, estão a ver? O Leonardo Di Caprio, bom...quiçá dê também uma perninha na pintura, não é artista? Os tectos da Capela Sistina...o Miguel Arcanjo? Mas com certeza que há aqui uma certa epifania não despicienda, o menino lembrou-se das alturas, da evocação celestial do universo pictórico...Todos sabemos que ficamos um pouco tontos de tanto olharmos para os tectos da Sistina, e é claro que isso pode induzir confusão, com o seu quê de trompe l'oeil a ajudar à festa. Não me parece tão grave assim.

E o realizador é ou não é o escritor de um filme? Manoel de Oliveira escritor...qual é o drama? De escritor e de louco todos temos um pouco, minha boa gente! Quanto à parte de Os Maias (o meu livro preferido, saliente-se) ter sido escrito por um tal de Egas...até devia ser elogiada essa pequena gralha. É que por certo o jovem recordava-se da figura intempestiva, inesquecível de João da Ega, um dos personagens que dão vida ao romance queiroziano. Não é que tenha treslido, ou sequer que não tenha deitado um soslaio à obra, apenas baralhou os nomes no stress inopinado da entrevista.

Nesta conformidade, tendo em conta a doce e pura frescura da nossa cândida juventude e, principalmente, o facto da troika andar aí e, se apanhar este vídeo, nos deportar inequivocamente, e a todos, para um qualquer território selvagem e desabitado a sul do Sahara, exortava fortemente a que retirassem a famigerada gravação de TODO E QUALQUER sítio por ponde possa andar a ser clicada, sublinhada, citada e gargalhada. Ai deixa-me cá falar baixo que até tenho medo que me descubram isto via Alegoria. Vamos a tirar o vídeo de circulação, ouviram, tirem o vídeo. Tirem o víííídeooooooooooooooooooo!!!...

Dois Meses


- Bilu, Zim!...


A Alegoria da Primaverve completa hoje, e muito feliz, dois meses de existência.

Sim, é um blog bebé, ainda rosadinho e fofo, mas já traquina, afoito e gracioso (gaba-te, cesto).

Muito obrigada a todos Vós, sublimes, dilectos e mais do que queridos leitores, por aqui virem, por comentarem, gostarem, lerem, dedicarem tempo e paciência a estas linhas tamborínicas.

Ao cabo deste período a Alegoria da Primaverve tem já centenas de acessos, muitas páginas lidas em países vários, da Rússia ao Brasil, da França à África do Sul, dos Estados Unidos à Espanha e à Holanda, etc....mas a maior parte delas, é claro, no nosso Portugal.

Gratíssima a todos os que, muito perto ou longe, nos visitam. A todos os bloggers amigos um grande obrigada, e a expectativa de vos ir tendo sempre por aqui. Um especial agradecimento aos seguidores da brincadeira.

Já sabem, sintam-se muito bem-vindos e...ainda a verve apenas despontou!

Abracinhos para todos.

sábado, 19 de novembro de 2011

Formosuras do Palato

Garden Tea - Susan Rios

Estar com fome e congeminar descontraidamente o que degustaremos ao almoço-lanche-jantar (caso desta minha refeição compósita que se seguirá ao presente post), é um prazer sempre reconfortante.

Antevejo pequenas rodelas de chouriço de seitan (100% vegetal, portanto), primorosamente temperadas com pimenta branca, gengibre e geléia de pimenta vermelha. Torradinhas com azeite (delícia!) e uma colherzinha de açúcar amarelo. Feijão...ou grão-de-bico a acompanhar. Um chá a escolher. Uns quadradinhos de chocolate preto (sem leite).

A vida, dilectos, é agrabadilíssima. Brindezinho.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

A virtuosa nudez na voz brasileira e na lente fotográfica ucraniana


João Gilberto canta Da Cor do Pecado (Bororó)


Foto de Mikhail Palinchak

Se o João Gilberto apenas tivesse gravado Chega de Saudade  trazendo assim, nas cordas do seu inefável violão, a abençoada Bossa Nova, esse facto bastaria para que o amasse para sempre.

Mas o oceano de veludo da sua voz é inestancável. Assim como o da insustentável maciez dos sons produzidos pelas suas mãos rigorosas. Como exemplo, confiram esta outra jóia da autoria de Bororó.

Viva a nudez impune do talento e da beleza.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Também vou comentar a polémica

- Vão de retro patetas unidos!

Salve, salve leitorado!

Pois é, já todos devem ter visto as imagens do novo anúncio da Benetton. Deu a marca betinha de ensandecer e de escarrapachar altas figuras da cena política internacional aos beijos na boca umas às outras, entre uma aura pretensamente casta e a desbunda geral.

O meu veredicto é que o dito anúncio devia ser retirado imediatamente de todo e qualquer sítio onde possa ter sido colocado/divulgado. De facto, desde quando é que aquelas pessoas deram a sua autorização para figurar em tais montagens e em semelhantes preparos? A mera utilização da imagem de qualquer pessoa num anúncio sem autorização deveria ser, e é certamente, proibida e ilegal. A acrecentar ao uso indevido, o abuso das circunstâncias em que as imagens são apresentadas.

Ah, é polémico. Pois, mas assim é facílimo polemizar, com as caras alheias, com os outros a fazerem as figuras por nós. Por que razão não dão os anunciantes a cara, e o que mais desejarem? Ah, pois, é refresco, está bem, e tal.

Vetado. Totalmente. Fora o mau gosto e fora a apropriação ilícita!

Uma grande língua de fora para este odioso "unhate". Se não adorassem tanto o vil metal, talvez se poupassem a estes papelinhos.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Pequeno devaneio tamborínico...

...ou A modelo passada ataca com as suas maravilhosas NAE B-Gun



Biqueiras de aço que dançam
 

Obrigada NAE!


Sossegai multidão! Este blog não começará a desfilar modelitos a cada posta. Não que não sejam lindos, os meus...

NAE - No Animal Exploitation: a entrevista por Tamborim Zim


No Animal Exploitation

Fabulosas Nae B-Gun (fotos do site da NAE)
Contactos:
NAE
Rua Dr. Mário Charrua, nº35, RC – FTE. 1495 – 169 Algés. Portugal
Tel: + 351 910 535 595 email: info@nae-vegan.com

Queridos e atentos leitores, tenho a honra de iniciar do melhor modo a rubrica de entrevistas aqui na Alegoria da Primaverve, cuja periodicidade é totalmente descomprometida (na justa proporção do "quando calhar" e sempre que surgirem entrevistas interessantes no horizonte). Em jeito de nota brevíssima mas devida, faço questão de esclarecer que esta entrevista não implicou qualquer tipo de retorno material, financeiro ou outro, uma vez que foi em gentil resposta ao meu convite que se tornou realidade. As únicas trocas? As melhores: ideias, palavras e paixões.

Nuri Blue & Grey (foto do site da NAE)
Posto isto, escrevo-vos ao som de uma chuva e de uma trovoada épicas. Tudo a ver com os meus primeiros entrevistados: NAE (No Animal Exploitation). Esta empresa de calçado reúne todas as características que conquistam a minha admiração por uma marca: ética, elegância, conforto, resistência, profissionalismo e simpatia. Como perceberão, não se trata de uma simples marca, é um projecto que se desenvolve num propósito e com uma missão. Dei com eles quando procurava afanosamente sites onde encomendar calçado sem qualquer produto animal, ou seja, vegan. Dentre marcas italianas, norte-americanas, inglesas, etc., surgiu-me uma loja on-line de...Algés! Foi amor à primeira vista com um par de ténis e um par de botas, e tenho a dizer que fiquei fã da eficácia do serviço de entrega. Tudo é bonito e tudo cheira a elegância e a lisura - e nem um bocadinho a couro e a tortura de animais. Afinal, qual é a justificação para tirar vidas ou impor sofrimento para nos calçarmos?

É para dar a conhecer aos meus dilectos leitores o espírito deste meritório projecto que defende e pratica um comércio justo e ético que pedi à NAE uma entrevista, a qual simpaticamente me concederam e que muito agradeço. Não percam.

TZ - Muito obrigada por aceitarem esta entrevista a convite da Alegoria da Primaverve. NAE: No Animal Exploitation. Como é que surgiu a ideia para o nascimento desta empresa de calçado? Parte de uma filosofia, de uma necessidade?

NAE - A NAE nasceu de um desejo de criar um negócio que não fosse um negócio meramente com o objectivo do lucro, mas que fosse baseado numa filosofia com a qual os seus criadores se identificam que é uma filosofia vegana. Como tal, pensamos que seria interessante estando nós em Portugal, um país produtor de calçado por excelência, criar uma empresa de calçado vegano, i.e., sem qualquer produto de origem animal, com toda a sua produção feita em Portugal, para dar resposta à crescente procura deste tipo de produto.

TZ - Como responderiam às pessoas que afirmam que a indústria do calçado é um subproduto da exploração animal, e que os animais não são mortos de propósito para o fabrico de sapatos?

NAE - Comprar artigos em couro, nomeadamente sapatos, significa apoiar diretamente a indústria da carne e o sofrimento que ela implica, sobre os animais, as pessoas e o ambiente. Grande parte do couro produzido vem das vacas que passam grande parte das suas vidas confinadas num espaço reduzido sujeitas aos mais variados tipos de procedimentos dolorosos, como sejam a castração, corte de chifres, marcação a ferros etc., sem que tenham qualquer tipo de cuidados médico-veterinários. Está também comprovado que a indústria de curtumes produz resíduos sólidos tóxicos que têm  consequências terríveis no meio ambiente e na vida humana, por via da contaminação do ar e dos rios. Nada disto é justificável, pelo que é importante que cada vez mais as pessoas se questionem acerca da origem do que compram e usam. É urgente um aumento da consciência social relativamente ao impacto que determinadas indústrias têm na vida humana, não humana e ambiental.

Dito isto, a indústria da pele (calçado) NÃO é um subproduto da indústria alimentar, muitas vezes é o contrário, a procura da pele é tão elevada que faz descer os preços da carne. Deixe-me colocar só um pequeno exemplo que clarifica o argumento: imagine uma família com quatro elementos. No pior dos casos essa família come 2 kg de carne por dia, o que é um exagero, mas se assim fosse daria 730 kilos por ano. Isso é algo mais do que o peso de uma vaca. Portanto essa família super-carnívora cria uma procura de uma vaca por ano pela carne. Tente imaginar a quantidade de pele que pode consumir por ano uma família: sapatos, malas, cintos, casacos, pastas, etc. A pele de uma vaca não chega nem por perto para satisfazer a procura de pele de uma família para um ano, e agora imagine que essa família decide comprar um sofá em pele de quatro lugares ou comprar um automóvel com estofos em pele. Será necessária a pele de pelo menos duas vacas durante dois anos, contando que comem DOIS KILOS POR DIA.

Portanto, os animais são mais explorados pela pele que pela carne. Se deixássemos de utilizar artigos em pele, quando temos alternativas, a procura da carne iria diminuir porque o seu preço vai aumentar, um princípio básico da economia. Os animais explorados seriam menos, e o meio ambiente iria sem dúvida agradecer.

TZ - Quais são os produtos utilizados nos vossos sapatos, e quem é o responsável pelo seu design?

NAE - A NAE utiliza normalmente microfibras para substituir a pele. As microfibras são compostas por uma mistura de poliester, nylon e algodão. As percentagens variam dependendo da microfibra. Algumas mais resistentes, outras mais finas. São microfibras certificadas para calçado. Impermeáveis, transpiráveis, antialérgicas, etc. Também temos calçado com algodão, e a nova coleção de verão 2012 vai ser baseada na cortiça, material vegano, ecológico e biodegradável. Muitos destes produtos vêm da Itália uma vez que ali se fazem coisas de muita qualidade. O resto é de Portugal e Espanha. Não compramos nada fora destes países, mesmo que os preços da Ásia sejam muito mais baratos. A nossa filosofia de produzir o nosso calçado localmente também se aplica na compra das componentes. Para as solas temos muita variedade, utilizando em algumas sandálias pneus reciclados. Vamos tentar implementar este tipo de sola reciclada em mais modelos.

Em relação ao design do calçado temos diferentes maneiras de trabalhar. Alguns modelos são encarregados a designers de calçado externos à NAE. A maior parte surge de nós próprios com a ajuda dos gabinetes técnicos das próprias fábricas.

TZ - Têm verificado um aumento de procura dos vossos produtos?

NAE - Embora tenhamos começado com a NAE logo no meio desta crise, onde as pessoas perderam poder de compra, a NAE tem visto aumentar a procura dos nossos sapatos. Isto é devido a uma visibilidade maior da nossa marca nos meios, fundamentalmente na internet, assim como ao incremento dos consumidores "éticos". Por exemplo em Espanha, este último ano, onde se fecharam imensos comércios, vimos que abriram muitas lojas veganas. Isto significa que a cada dia que passa há mais pessoas a consumir de maneira mais consciente e ética, com as pessoas, com os animais e com o meio ambiente.

TZ - Qual é a sensação de se ter um negócio que é mais do que um negócio, fundamentado numa filosofia e numa ética deste modo activos - e criativos?

NAE - A sensação que sentimos é de uma grande satisfação cada vez que vendemos um par de sapatos. E essa satisfação é por saber que além de estar a fazer crescer o nosso negócio, estamos a divulgar uma filosofia em que acreditamos fortemente e a contribuir para um comércio mais ético e justo com respeito pelo meio ambiente, o sofrimento animal e a exploração laboral.

domingo, 13 de novembro de 2011

Mousse da felicidade *

O sabor da vida

Pensamento apurado + pitada de paciência + entusiasmo a escorrer fresco, depois de batido com alegria + ciência + coragem + uns bons grãozinhos de resiliência + sabedoria + trabalho movido a paixão = Amor pelo que se faz < Amor pela Vida que se vive.


* Para a Pagu.

sábado, 12 de novembro de 2011

A Intervenção Certa - it's up to you!


Cartaz e foto de Zim

Estimados leitores, um rápido postar para chamar a vossa atenção para duas petições da maior importância.

BASTA DE TOURADAS - Para quando o fim deste selvagem suplício de touros, cavalos e da nossa própria humanidade, em nome de uma diversão hedionda? Não vamos continuar a penhorar a razão e os nossos melhores sentimentos, e a promover a alienação. Por favor considerem e assinem:

http://www.peticaopublica.com/?pi=010BASTA

STOP AO USO DA PELE ANIMAL - Quanto viveremos em sintonia com os nossos corações, com a nossa plena capacidade de compaixão? Arrancar peles, pêlos, infligir sofrimento, matar...para usar? Vamos ascender na escala civilizacional todos juntos, por favor, por amor aos animais e a nós mesmos! Por favor considerem igualmente e assinem:

http://www.mesopinions.com/stop-a-la-fourrure-animale-petition-petitions-26451ed422a7ec7f7e5913dd0f815711.html#signer-petition

Gratos abraços. Estamos juntos.

Objecto de desejo urgente


Young Woman Reading - Jean Honoré Fragonard

Resistir à tentação do tempo curto implica voltarmos ao princípio da paciência, essa fonte original e, deseja-se, incessante, da arte de bem viver. Porque é tudo demasiado clicado, scannerizado, fotografado, rabiscado e ultrapassado.

E a estrutura? Fernand Braudel...e a estrutura, o tempo lento? A delonga, muitas horas páginas adentro, o pensamento alerta, em concentração detectivesca, o filme lento dos olhos a perscrutar o romance? A teia, a íntima civilização.

É preciso dormir. É preciso acordar para alguns finos mas basilares princípios da lentidão.

Isto para vos certificar, fiel e belíssima multidão dedicada, que este fim-de-semana quero mesmo ler, ler, ler. Ler muito. (Um livro - analógico, em papel, cheiroso, livro.)

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Serviço Público de qualidade superior *

Uma das fotos que me encantou no blog de Jane Librizzi - The Ring Toss, Clarence White (1899)

E isto é para que não digam que aqui na Alegoria da Primaverve, este verdadeiro primor de blog, apenas olhamos para o nosso quintal e nos achamos o melhor blog do Cosmos (que é facto a não necessitar da sempre inestética auto-adulação). Para que vejam que há gente por aí muito, muito interessante, que vive como quem navega, que aprecia realmente a paisagem, as infinitas possibilidades de ser e ver paisagens. Para que saibam que estou encantada com este blog, de seu nome The Blue Lantern, redigido da Big Apple para todos os que gostam de arte e de a conhecer sem fronteiras. Na expectativa de se deliciarem, como eu, com as mini-lições preciosas de História de Arte, das Mentalidades, da Cultura, ou tão só com uma pintura ou uma fotografia inesperadas.

Por e para tudo isso, aqui fica uma pontezinha que sai da Alegoria para esse magnífico guache da radialista e escritora Jane Librizzi.  Enjoy.

http://thebluelantern.blogspot.com/

* Pá!

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

A persistência é doce ou salgada?

- Por aqui Zim, por aqui...

O último comentário da minha dilecta Mana Pagu, no post anterior, vem curiosa e precisamente ao encontro de um tema que cogitava hoje ao lavar a louça - sim, pasmem, também exerço essas actividades dos simples mortais! Podeis perguntar no que se entretinha a minha complexa mente enquanto as mãozinhas dóceis e engenhosas lidavam metodicamente com os artefactos do quotidiano, e eu respondo: pensava eu que a persistência é uma arte. Temos, contudo, que acertar aqui uns detalhes, e isto exige, porque agora me apetece, um parágrafo.

Uma coisa é a persistência cega, surda, seja muda ou matraca. O insistir por insistir, a vaidade da teimosia sem razão nem meta adicional que não a de fincar o pé e abrilhantarmos dessa maneira, na nossa ilusão, uma "personalidade forte", ou "vincada". Não confundir, amistosos leitores, nunca confundir virtude e carácter rijo com o fincar do pé zangado no chão ou com a disputa salobra. Nunca confundir. Mas prossigamos: outra coisa, e já bem diferente, é a persistência adensada num claríssimo auto-esclarecimento sobre o seu fundamento, alicerçada numa motivação salutar de constância num pensamento/plano/acção acalentados, alimentada por uma vontade de produtiva construção de alguma coisa boa para as nossas vidas. Esse será o melhor grau de eficiência, o da plena adesão do nosso pensamento e do nosso sentimento ao que se pretende. Névérdeléçe (ihihih), há sempre um porém. E o porém é que muita coisa nos distrai, cansa e dispersa e é nessas adanças, ou melhor, nessas paranças, que amiúde se dilui a vitamínica persistência. Ainda por cima com a crise, a troika, a roubalheira, a incompetência, as antipatias, e por aí além.

Vamos dar as mãos, inspirar e expirar profunda e tranquilamente, e fazer o seguinte exercício conjunto: imaginem uma pessoa que tenha um talento inato para a arte da, deixem cá ver...culinária. Ah, deliciosa arte esta dita! Pois bem, acrescendo a esse talento natural, a essa espontânea inclinação com excelentes resultados, essa pessoa conhece, ainda, um prazer imenso quando cozinha, recriando ou inventando pratos, doces, salgados, molhos, massas, um sem número de delícias. Para além de ter um talento que lhe fervilha dentro do ser e da sua culinária lhe proporcionar um grande prazer, essa pessoa reflecte recorrentemente sobre técnicas e tácticas da cozinha, faz cálculos, antevê texturas, congemina sabores, pesquisa meticulosamente ingredientes, marcas, inquire os profissionais do ramo sobre as suas opções, troca ideias e experimenta, assim, uma incessante aprendizagem neste vasto e guloso campo. Vamos lá fazer as contas: esta nossa pessoa é talentosíssima, sente um genuíno e renovado prazer no exercício desse talento e, ademais, mostra uma vocação indiscutível para a gastronomia, para o universo gourmet, para seduzir e fazer viajar com as suas indizíveis tentações.

E pergunto: quantas coisas esta pessoa não poderia fazer nessa área? Quantas pessoas não amariam trabalhar com ela, experimentar as suas obras de arte, aprender a desenvolver o seu próprio talento com ela, adicionar cor às suas vidas com as perspectivas que um grande talento partilhado e experimentado (prato), pode sempre permitir? Quantas oportunidades de trabalhos interessantes, eventualmente em lugares diferentes, perto ou distantes, não poderia esta pessoa vir a ter? Que grande sonho não poderia, enfim, concretizar, quem sabe uma constelação deles?

E agora, reconcentremo-nos. E se essa pessoa nada fizer, para além de se divertir pontualmente com um ou outro prato, uma ou outra façanha? Se não sistematizar, calendarizar, escolher formações a fazer, realizando-as efectivamente? Aprender mais fazendo, ampliando o curriculum trabalhando, palmilhando, reescrevendo a sua história particular tão única, especialíssima? Como a de cada um de nós.

Ora, se esses "ses" ocorrerem, então essa tal pessoa, essa tal tão talentosa pessoa, não persistiu na sua verdade, não perseguiu o seu dom, não conheceu, ou não conhecerá, a sintonia de poder viver do que mais gosta de fazer.

Esta pessoa é um exemplo. Há tantas assim, e certamente demasiadas. Talvez dentro de cada indivíduo exista alguma coisa de desistência juntamente com alguma vaga ou veemente vontade.

O desafio que  aqui deixo, nesta posta de hoje, véspera de 11-11-11? Ei-lo: que cada um saiba escalpelizar dentro de si e trazer à tona o seu mais autêntico gosto, a sua vontade, e coloque essa substância de sonho e de concreto querer como um dos luzeiros norteadores do seu caminho. Tenho a certeza de que a demanda disso que estimamos e queremos trará um sabor inédito à sucessão dos nossos dias e uma fruição ainda mais inesquecível do tempo que temos, enquanto o tivermos. Enquanto o comermos, degustando-o.

Por isso, grata aí Pagu - valeu!

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Com esta chuva todos os poetastros são pardos


Título do poeminha


Massa

Afia com dentes de chuva cálida e vento
Em vagar de tardes que nunca caem
O lápis vertiginoso e fiel das palavras
Guardião das tuas labaredas que, silenciosas
Se vertem sozinhas através da madeira,
Do olho de carvão
Deixa somente que o teu olho oceânico as vele,
Zele pela sua semente
E se acontecer que dele chova
Uma angústia, um desenhado presságio, uma saudade
Seja a rega e a vontade
De voar
E o sal

Esperarei pela tua lavra
Repousarei em atenção de ceifa
Ficarei sentada no muro das pedras milenares
Deste horto primordial
À porta do forno
De onde virá quente, glorioso
E fundamento do corpo
O pão do teu verbo

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Hum...Lá vem ela!

Jorge Benjor, Oba, Lá Vem Ela*

Mas poderia dar-se o caso, algodónicos leitores, de a pensarem longe. Resolvida, arrumada, aninhada em cúmulo-nimbos grandiloquentes e serenos. Ah, ah...doce ilusão.

É que ela volta, amoráveis, volta para nós, sobre nós, sob e supra nós!

Falo da chuva. Da chuva, sim, da chuva! De que(m) mais??

Vamos bisar o Benjor?

* Amo tanto esta canção que queria ter feito a música, a letra, os arranjos, tudo tudinho tudo. "Estou de olho nela". E em Vós, decerto.

Jorge Benjor chove sobre nós

  Jorge Benjor, Chove Chuva

Para estes dias de Outono molhadinhos, vulgo uma molha só, não vos trago o Samba de uma Nota Só. Trago Chove Chuva, do tão cool quanto virtuoso, sensualão quanto poeta, carnal quanto sonhador Jorge Ben......Jor!

Embalem-se ao som da chuva com a ginga quente, interessante, inteligente, boa prosa, avassaladora e dona-propiciadora de um insolente prazer deste eterno namoradinho do (melhor do) Brasil.

Pleut la pluie, pleut sans s'arreter...

Nem Medina nem Meca nos salvam!

Foto de Zim: De tanto pensar no apagão e na solução nacional fiquei assim


Bom, como se não bastasse o dia de molho que passei, ainda me calhou na rifa (não, brinco, foi intencional) assistir ao programa Olhos nos Olhos, que nunca vejo. E se há coisa verdadeira é que ao olhar de águia alerta do Medina Carreira iam respondendo os olhos arregalados da Judite de Sousa, numa quiçá tentativa de estancar o inestancável, ou de evitar o inevitável, ou de mudar o imutável. Para mim a demógrafa também esteve muito bem, era o que mais faltava o factor envelhecimento ser um problema em si mesmo! Evidentemente que o que há a fazer é saber responder às exigências da sociedade tal como a temos, até porque países sãos terão velhos, e muitos, e bons velhos, e nem ousem tirar-me de mim porque quem pensa que os idosos são trapos velhos imprestáveis é que não deve mesmo servir para grande coisa, concretizando, para nada.

Mas isto também para dizer que serviu este programa para me clarificar alguns pontos-chave:

1º - Não é assim tão preocupante não ter ainda uma casa. Segundo Medina Carreira, o que acontecerá é que as pessoas irão massivamente entregá-las aos bancos porque...

2º - Não haverá reformas para ninguém, ou serão simbólicas, como o próprio esclareceu a uma palidíssima (mas era da maquilhagem) Judite de Sousa. (Eu gosto muito da Judite de Sousa, atenção.)

3º - Isto não vai lá, ainda segundo Medina Carreira, com o aumento da idade para reforma, com trabalhos em tempo parcial, com mais gente a trabalhar até mais tarde, simplesmente porque...

4º - Não há o que trabalhar. Sim, não há trabalho para tanta gente, afiança o fiscalista.

5º - A economia encontra-se em processo de desindustrialização, a estrutura socioeconómica divergindo, assim, dos fundamentos nos quais se criou e consolidou, o que vai dar...

6º - À dura e crua realidade de: não haver trabalho para todos, de não haver trabalhos para a vida, mas sim uma precariedade em acentuada expansão, de não haver cá reformas garantidas e de os direitos adquiridos serem "quando houver dinheiro".

Pois, e o optimismo, etc..."Ó Judite mas estamos aqui para dizer a verdade às pessoas ou para fadinhos?", exasperava Medina Carreira.

Bom. E é isto. O que há a fazer? Segundo este lúcido profeta da desgraça, puxar por nós. Ok, contudo fica a pergunta...como? E, já agora, puxar por...onde?

Mas tudo se transforma. À velocidade da luz, já noutro canal se discutiam matrizes igualmente fundantes de uma cosmogonia consciente e à frente do próprio Cronos. Com foros de filologia e hermenêutica, discutia-se com pressurosa ciência o caso de Javi Garcia ter ou não chamado "preto de merda" ao Alan, ou aliás...optava-se por uma espécie de agnosticismo quanto ao tema: vá lá saber-se, é uma palavra contra a outra. E logo se convocavam dixotes à escala internacional, como uma vez em que um chamou a outro "preto do diabo", certamente em carga significativa menos pesada, ou aventando-se quantas vezes o Eusébio terá ouvido referências cromáticas à sua passagem. Cogitações, no entanto, mediadas por outro grande adensar da dúvida nacional, ou melhor: qual a verdade sobre o apagão de Braga? Bandarra, fazes-nos falta! Um triplo apagão, para mais. Agora que escrevo sobre estas dialécticas ocorrem-me as palavras de Teixeira de Pascoaes sobre a luz ser "cada vez mais clara, e a treva cada vez mais negra". Calma, calma, que com luz não estaria com certeza o grande pensador a falar da...cof...da Luz. Correcto?

Não sei o que pensam aí desse lado, mas eu creio que, face a tudo isto, um cidadão teria direito a, no mínimo, exigir dois dias para meditação, extra férias. Há que decidir com alguma calma se faz sentido continuar, se retiramos para o campo e preparamos uma Reconquista Cidadã, ainda que com "avanços e recuos" como a outra. Mas claro, com esta espúria lei do mais forte todos nos sentimos enfraquecidos, e já se sabe que a fraqueza nem sempre convida à franqueza.

A propósito, tentava ainda Judite de Sousa uma variação sobre o real quando arremeteu, esperançosa, com o "darwinismo laboral" (oba, oba, há que ser muito bom e o mais forte no batente, porque esses sim, vingarão!), mas foi água mole contra a pedra dura da robusta consciência pragmática: "Isso são fadinhos!", dedurava Medina.

Sinto-me A Pensadora de Rodin, se a houvesse. Sentamo-nos? Sentimo-nos, (para sermos filhos de boa gente, segundo o povo), alienamo-nos e formamos uma cooperativa de amantes de dança contemporânea difícil, ou mesmo hierática?

Quem tiver uma grande ideia disponha da caixinha de comentários - livre até começar a cobrar pelo espacinho para fazer pela vida. Vamos lá pôr essa inventiva a funcionar, que o sarilho está entre nós.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Crush on me


Paul Delvaux - Femme au Miroir (1945)

Por que será que tenho cada vez menos paciência para a arrogância à excepção (honrosa? leda? intrépida? fofa? ingénua e pura?)... da minha própria?

(Averiguar é tão mais desinteressante do que poemar e, assim, reeditar o mito!)

domingo, 6 de novembro de 2011

Barrinha lateral: novidades

Meus queridos, já repararam na barrinha lateral direita da Alegoria? Pois é, resolvi povoá-la um pouco mais e fazer entrar nesta cósmica salinha de estar mais beleza e mais extensão de Demanda. Quando aprender a colocar musiquinhas na barrinha haverá ainda mais festa.

A propos...Já viram/leram/releram/babaram o e com o poema que lá está agora à espera de nadar dentro das vossas retinas retintas de...

...

...

Terminem ustedes, para mim este poema é inefável.

Ínsito


Foto de Zim com a escultura "In-cinta", de Rabarama

Perto

        fica   mais

    que

                             perfeito

Estados bífidos

Zzzzz, hummmm...

Não sei o que aconteceria ao mundo (ao resto deste mundo!) se tivessemos polígrafos à nossa disposição para qualquer situação diária. Certamente que teria de ser alguma coisa mais discreta, talvez uma espécie de spray que, ao absorver os tons de voz, o ambiente, a assim chamada energia, despoletasse um cheiro a esturro, ou assumisse uma cor de burro quando foge em plena atmosfera quando o interlocutor em causa estivesse a ser falso, cínico, dissimulado ou simplesmente dúbio. Era coisa para dar o seu trabalho a inventar e quem sabe o QREN desse uma perninha, mas iria sempre levantar a sua carga de desconforto presumindo-se que, às tantas, o visado iria associar as suas tonteiras/dissimulações/falsidades a cheiros e a cores fora de série.

(Terão de me perdoar, estou ainda sob o efeito da constipação provocada pela famigerada descarga de água de todos os céus desse célebre 2 de Novembro, e pode ser que delire um pouco.)

É que mesmo aos 35 anos continuo a questionar-me se, por vezes, aquela pessoa estará a ser querida, solícita e boa onda, ou se enveredou, por estratégia de necessidade ou de macerada hipocrisia, por uma senda aparentemente bondosa e descomplicada. Sucede, por exemplo, em alguns elogios que nos podem fazer em privado, mas que por qualquer razão não fizeram em público, quando o assunto era comezinho. Ou quando essa certa, determinada e aludida pessoa exibe um olhar e uma carranca ferozmente mudos mas passado um momento sugere um lanchinho futuro. (Esturro, esturro, esturro?)

As pessoas predominante e marcadamente frescas, melífluas e joviais no seu trato levantam-me algumas suspeitas, penso sempre a quanto custo manterão essa fachada de alardeado equilíbrio e de pródiga simpatia. Mas reconheço que posso cair na esterilidade do preconceito.

Ora bem, postas assim as coisas, apraz-me concluir que cautelas e leite de aveia com chocolate quente nunca fizeram mal a ninguém. Afinal, a nossa ajuda a todos. Mas a nossa intimidade e confiança só para os escolhidos (mesmo que alguns destes possam mudar). Vero?

sábado, 5 de novembro de 2011

Torço o nariz

Calções curtos para o trabalho?

Hummmmmmmmmm.

Não gosto.

A chuva que dá flor


Vincent van Gogh, Amendoeira em flor - 1890

Para o justo tom da coerência.

O sonho das sextas

                                                                           Belô Velloso

Para o sonho de todas as sextas, incluindo quando já é madrugada de sábado (dando-se assim a abençoada ilusão de uma noite de sexta e de um sábado com muuito mais de 24 horas...), esta lindíssima Toda Sexta-Feira, da Adriana Calcanhotto, aqui magistralmente interpretada por Belô Velloso.

E ao ouvir a canção agora, que preparo o post para a apresentar aos meus leitores amigos, recordo-me de um dos últimos momentos em que a ouvi: em fruição extática no Museu Van Gogh, em Amesterdão, com o meu campo (porque não dizer seara??) auditivo devidamente protegido e embalado por música. Esta canção e a voz da Belô colaram todos os Van Gogh ao meu coração, e creio que nunca mais andarão indissociados. Ligações amorosas no imprevisto da sucessão das faixas sonoras.

Brinde às sextas.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Das actrizes mais bonitas do mundo...a mon avis



Letícia Sabatella


Ou a eloquência da simplicidade, da classe de um rosto e do poema no olhar. Muito fã.

Grandes datas da História da Humanidade - em apontamento nada aleatório

Zzzzocorro!...


- c. 4000 a.C. - Invenção da escrita

- séc. V a.C. - Democracia ateniense

- 387 a.C. - Academia de Platão

- 27 a.C.- Império Romano

- c. 36 E.C. - Morte de Cristo

- 476 d.C. - Queda do Império Romano do Ocidente

- 1143 - Tratado de Zamora

- 1212 - Batalha de Navas de Tolosa

- 1415 - Início da Expansão marítima portuguesa

- 1453 - Queda do Império Romano do Oriente

- sécs. XV e XVI - Renascimento; Expansão europeia

- 1498 - Caminho marítimo para a Índia

- 1500 - Descoberta do Brasil

- 1640 - Restauração da Independência

- 1761 - Abolição da escravatura em Portugal

- 1789 -Revolução Francesa

- 1820 - Revolução Liberal portuguesa

- 1888 - Publicação de Os Maias

- 1910 - Implantação da República Portuguesa

- 1914-18; 39-45 - Grandes Guerras Mundiais

- 1958 - Nascimento da Bossa Nova

- 1974 - Revolução dos Cravos

- 1976 - Nascimento de Tamborim Zim

- 1989  - Queda do muro de Berlim

- 1991 - Dissolução da URSS

- 2002/2003 e 2003/2004 - F.C. Porto vence a Taça UEFA e a Champions League, respectivamente

- 2008 - Crise económica mundial

- 2011 - Primavera Árabe

- 02-11-2011 - Tamborim Zim sofre a mais funesta, ininterrupta, cerrada, até aos ossos, para lá dos ossos, despencada, diluviana carga de água, com os pés a boairem dentro das botas e a chegar ao labor depois de atravessar sucessivos Mares Vermelhos desde o seu bairro. Um marco na História do Mundo, uma charneira na lenta estutura das Mentalidades.

Claro que estou constipada, fungona, fungosa, a Ilvicos, a Vicks, tudo isto por causa destas transições abruptas de estações. Quero o meu suave, doce, revigorante Outono, antes da catadupa chuvosa! Vai uma petição, magnânimos leitores queridos?

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Petição


O tanas, ne c'est pas???

Acho que a França às vezes devia levar umas lambadas para ver se deixa de ter ataques fascizóides. O último de que tive conhecimento resulta na proibição - leram bem -  da alimentação vegetariana nas cantinas das escolas francesas, públicas e privadas .

Ora o que é que isto significa? Que independentemente da aprovação da dieta vegan (bem para além da vegetariana) por organismos como a FAO, do suporte científico que atesta a correcção de uma dieta vegetariana e vegan equilibrada e variada, das convicções éticas e morais de cada um e do âmbito puro e simples da liberdade de opção, decide então quem de "direito" em França que não senhor. Não querem matar para comer? Azarinho, toca a estraçalhar a vaquinha no prato porque cá seitans e tofus e "esquisitices" (tudo da terra, tudo tão bom) é que não.

Meus dilectos, contra esta atitude tão ignorante quanto ditatorial e invasiva dos direitos humanos (ironicamente perpetrada pelo país berço da Declaração Universal dos Direitos do Homem),  há já uma petição para cuja leitura solicito a Vossa maior atenção.

Por favor leiam, assinem, divulguem: pela ética, pela liberdade inidividual, contra a manietação da vontade pela podridão dos poderzinhos. Aqui fica abaixo:

http://petition.icdv.info/#.Tq_W0DqZH-s.facebook

Muito obrigada!

Estamos juntos.