quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O que eu quero mesmo saber

Marisa Monte - Descalço no Parque (Jorge Benjor)



Marisa Monte

A Marisa Monte é, para mim, A Diva. (Comigo, claro, cof).

Sou completamente fã de todos os trabalhos que publicou até agora, admiro imensamente a sua atitude indefectivelmente artística, discreta, elegantíssima, o seu amplo trabalho de recuperação da tradição oral do samba, a síntese esclarecida e criadora que opera sobre o antigo e o actual, permitindo-nos jóias de enorme beleza. Quer no que respeita aos inéditos, que ocupam a maior parte dos seus discos, quer a versões, para mim o seu talento é revigorante e não tenho dúvidas de que foi e continuará a ser uma das artistas-referência para mim, musical e esteticamente.

O seu próprio estilo pessoal é assumidamente inspirador para mim. A presença em palco, impressiva e inolvidável, para mim a criatura feminina mais encantadora no grupo das assim ditas "figuras públicas". O profissionalismo e o virtuosismo artístico e técnico, um exemplo por tantos reconhecido.

A sua voz...Bom, a sua voz..."Inefável" é o adjectivo. "Elo perdido entre o rouxinol e a flor", foi como o dinossauro Erasmo Carlos descreveu a sofisticada carioca. (Confesso que queria ter inventado essa metáfora tão bela e tão digna da "minha" Diva.)

Esta longa intro ajudará a que percebam o quanto amo artisticamente a Marisa Monte. E se agora me sinto desapontada, e inesperadamente desapontada com o seu disco novo em cinco anos, O que você quer saber de verdade, nem por isso deixo de me lembrar de tudo o que de maravilhoso já recebi via Monte. Sobretudo, no entanto, tenho de reconhecer que nem sempre é possível produzir resultados assombrosos e para mim, à excepção deste último disco e talvez de Memórias, Crónicas e Declarações de Amor, todos os discos da Marisa Monte foram assombrosos. O presente é para mim, e sem qualquer dúvida, o menos bom.

Mas e então Zim, o que te leva a perorar, a ressabiar, a embirrar com o disco? Então cá vai, mas só porque sois uns serezinhos insistentemente indagadores: as melodias, em geral, parecem-me lassas, sem alma, sem aquela elevação extraordinária a que a Marisa nos habituou. Até o canto me chega menos vibrante, menos "em cheio". Não descortino um espírito organizador entre as faixas, não me prende um perfume de conto, de canto, de caminho por entre a deambulação de O que você quer... A maior parte das canções parece-me simplesmente desinteressante e evitável.

Até a capa me parece aquém, muito aquém, do que poderia ser conseguido apesar de, no encarte, podermos apreciar um registo fotográfico gracioso e focado na imagem da Diva a caminhar pela rua, o que é bonito porque ali a temos a passear entre as canções, entre as tais que acho meio em desgarrada.

Dentre as 14 faixas, pelo menos até agora, só gosto verdadeiramente de três: a que dá o nome ao disco, dos companheiros Marisa, Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes,  Descalço no Parque, da pedra preciosa chamada Jorge Benjor e muito provavelmente a minha predilecta, e Verdade, Uma Ilusão, novamente uma colaboração entre os três amigos. Mas destas três gosto muito, e a cantora e intérprete está primorosamente presente.

Quanto à Diva...continuo a sentir-me feliz e agradecida por existir e pelas suas criações. Mesmo que nem todas estejam ao seu verdadeiro nível de ilimitado talento.

E o que é que eu quero mesmo saber? Cá vai...quando um novo disco, Marisa? Fala sério, de verdade.

2 comentários:

Pagu disse...

Ora aqui está um exemplo de que quem espera às vezes não alcança.

Depois de cinco anos a seco, a tua Diva decepcionou-te. Isso não se faz e só por isso eu tenh vontade de lhe bater.

Em 14 gostares apenas de três, embora muito, parece um score bem deficiente. 11-3....hummmm

Mas deixa, ela voltará, resplandecente e bela.

Lembra-te que uma coisa é soltar e verve e a voz numa casa recehada de sossego e paz, outra bem diferente é tentar compor e cantar entre biberons, fraldeas, guinchos, dores de barriga.....rsrsrs

Tamborim Zim disse...

Ai ai ai, olha o respeito com a Diva, quais bater-lhe quais quê, mas nem com uma flor, nem com uma pétala de flor! Hélas, é assim a vida. Mas entre tantas lindíssimas canções de uma carreira com mais de duas décadas, estas coisas esquecem-se, esquecem-se e esperam-se novas. Sei que sim, brilhantes. Sim, a maternidade, hum...sim.