sábado, 31 de dezembro de 2011

Mensagem Tamborínica de Ano Novo: 2012

Caetano Veloso - Amanhã (Guilherme Arantes)

A minha mensagem de Ano Novo do ano passado (no Facebook) foi:

"Este ano, mais do que desejar feliz 2011, desejo-vos feliz cada dia de 2011, e que isso seja fundado em infinda resiliência, esperança racional e vale a irracional também, fantasia e capacidade de auto-regeneração da poluição literal e figurada, das aporrinhações, da infinita canseira e do enorme tédio existencial que tantas vezes prevalece. Nas invisíveis trincheiras do dia-a-dia tudo se decide. Na noite de 31 para 1 será quando menos precisaremos de esperança adicional, porque nesse momento temo-la sempre instintiva e condicionadamente; mas importa como símbolo e ainda bem.

Só lembrar que essa entidade nova em folha e embrulhada em expectativa e inquietude que se sintetiza em "2011" será feita de todos os nossos momentos, todos os seus dias. Posto isto, feliz 2011, felizes todos os vossos dias. Ou seja, demandem (-se) e salvem-se em todos os vossos dias, independentemente do cenário. E que o PEC não nos faça pecar (muito)."

Pois bem, reitero tudo com as devidas actualizações. 2012 será certamente muito desafiante, trará enxaquecas, humores difíceis, adaptações. Mas tenho a certeza de que virão também risadas, amizades, amores, conversês magníficos, planos, dias bonitos. E, claro, o "acordio" ortográfico para animar as nossas vidas.

Da minha parte, devo dizer que amei o ano que passou. 2011 (e naturalmente que apesar dos pesares de diferente ordem), trouxe-me a ampliação de valores vitais e a sua vivência, a sua re-experimentação ou novíssima experiência, uma preocupação mais sensível e mais sincopada com o que me rodeia e uma tentativa de ensaio dos equilíbrios num exercício que se tornou decisivo e, de facto, um ponto de viragem.

Muito obrigada a todos os meus queridos leitores, comentadores e não comentadores, pela companhia e pela troca de ideias que é sempre permitida e alimentada nestes espaços tão libérrimos quanto privilegiados das arrobas.

A canção que escolhi para este post, uma esplendorosa composição de Guilherme Arantes numa sublime interpretação do Caetano Veloso (não é engraçada a diferença, aqui, do de e do do?), é uma linda ilusão que podia ser verdade. Pensar no que cada um de nós pode fazer para cumprir esse desígnio perfeito da canção é um desafio a que Vos convido, dilectos e deliciosos companheiros. "Sê a mudança que desejas ver no mundo", nas imorredouras palavras de Gandhi.

Que este ano em breve a estrear seja uma rota instigante na nossa Demanda!

Feliz 2012, felizes todos os nossos dias: Saúde, Paz, Amor, Humor, Tambor.

Beijinhos e abraços,

Tamborim Zim

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

E de modos que se chega a esta conclusão

Subia eu a calçada, Tamborim Zim sobe a calçada, quando passo pelo muito simpático senhor porteiro e gestor de arrumação da automobilada chique de um restaurante mais ou menos renomado, a quem sempre cumprimento, e lhe pergunto se está tudo sob controlo. Que sim, que não antevia problemas de maior. (Entretanto, já uma airosa segunda fila de estacionados brilhava, opulenta, na noite fria. Mas lá estaria o meu amigo para fazer abrir as necessárias alas, se necessário.)

Respondi que era bom sinal a movimentação ao que, com ar pensativo, me respondeu: "Sabe, chego à conclusão que os ricos estão cada vez mais ricos."

Assenti, e lá nos separámos em semi-trágica despedida bem-humorada.

"Que fazer quando tudo arde?"

Acabar com a pouca vergonha do fogo? Hum hum.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Sou só eu que acho...

... ou contra coisas (comezinhas, de resto) como razão, probabilidade, actualidade, etc., precisamos de um simbolismo "boa onda" para esta Passagem próxima?

Tudo bem que é um número que muda. Mas será apenas um número a mudar se nós quisermos.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Sabia que ia gostar muito mas amei



Nadine Nortier em Mouchette (Robert Bresson, 1967)

Lembram-se deste post? Após múltiplas investigações, pesquisas, labores, e finalmente ao cabo de uma viagem transatlântica, gentilmente trazido a pedido, ofertou-me a minha infindável Mana o filme cujas últimas cenas vira em Outubro e não esquecera, Mouchette.  Contei-vos que a realização é do Robert Bresson, e que a marcante interpretação principal coube a uma actriz não profissional (era essa a preferência de Bresson), Nadine Nortier.

Esta noite (bom, a noite de ontem e a madrugada de hoje), vi o desejado filme duas vezes. Seguidas. Simplesmente porque tinha de estar outra vez perante a presença da menina Mouchette (incrível que na realidade já tivesse 18 anos quando fez o papel!), de novo ante a sua face triste, os seus passos definitivos e magistrais. Outra vez diante da sua tristeza, da sua ausência, do seu fado, da sua sombra na rua clara de sol e da câmara de Bresson.

Amei o filme, como compreenderão. Mas mais a ela. A ela, Mouchette.

Pergunto-me quantos mais filmes não teriam sido pontuados por este ingente rosto e por tamanho assombroso talento (génio) caso Nadine Nortier não tivesse nesta a sua única personagem cinematográfica. Gostava de saber por onde anda e agradecer-lhe por esta presença (ainda a palavra) rara. E que me tomou.

domingo, 25 de dezembro de 2011

Mourinho, pssssttt: my blog is Special


- Zim, I am even more special  than you, eh eh eh eh eh!...

Ultimamente tenho tido uns encontros imediatos com...José Mourinho! Calma, não se agitem, não corram para o e-mail a vasculhar-me com pedidos de explicações. Eu digo tudo, a minha vida é um livro aberto e redigido na formosa língua de Camões.

Bom, entrei eu no banco a uma excelsa hora de almoço a fim de proceder em conformidade com já nem sei quais exercícios do Multibanco, e vejo que havia várias pessoas à espera do seu atendimento. Dentre os enfileirados, destaca-se uma figura alta, muito bem vestida, mais recuada que as restantes. Parece observar-nos com uma inteligência calculista e uma simpatia camarada. Às tantas bato o olhar de novo no atraente senhor e percebi tudo (claro que o intervalo entre o primeiro e o segundo momentos aqui narrados demorou muito poucos segundos): José Mourinho "em pessoa", ou seja, em tamanho natural, ou próximo sei lá eu, ali se postava, olímpico e sem movimentos, entre nós, simples mortais. Uau, o famoso e polémico treinador também se relaciona com estes universos terráqueos das contas e levantamentos e depósitos, todo o nosso universo onírico e a nossa mundividência podem transmutar-se de agora em diante, com esta nova visão da nossa proximidade do génio!

O mais interessante é que os nossos olhos vão sempre ter ao Mourinho, porque realmente ele é o mais alto por ali, à parte que também possui umas cores mais vibrantes que os demais clientes. Daí a nada vejo um senhor que, sem vergonha nenhuma (o que achei delicioso), ou talvez no meio da sua distracção curiosa, se aproximou da estátua de papel, medindo-a com o olhar. Dir-se-ia que ali se dava uma espécie de reconhecimento da diferença e da semelhança, e eis que o senhor começa a rodear o anúncio nos seus passos inquisidores. Sorri e apeteceu-me rir muito em voz alta, mas contive-me. Só faltava cheirar e tocar despudoradamente a imagem do special one.

Nos dias seguintes, confirmei a proeminência daquele cliente especial; então se entrava ao final do dia, parecia estar sempre a ser observada, ali sozinha mas não tão sozinha assim, a fazer os movimentos. É a loucura em pessoa.

Qualquer dia alguém vai pedir um autógrafo ao modelo de cartão.

(Dar-me ia ele uma entrevista? Afinal, seria para uma Alegoria...)

sábado, 24 de dezembro de 2011

Seja vegan, seja Amor


- Tchuak, tchuak, tchuakim!...
(Foto de Zim)
 
- Olá Zim e amiguinhos!...Estou a nadar:)
(Foto de Zim)

Tive oportunidade de apreciar e captar estes momentos de genuína paz e ternura, ao sol e à sombra, enquanto hoje passeava pelo meu bairro. Aqui fica esta partilha com o Planeta.

Pois é meus dilectos, os nossos companheiros de existência em geral e jorna em particular, os animais, não estão aqui ao nosso serviço para dispormos das suas carnes, dos seus olhos, dos seus afectos e da sua vida. Sim, têm eles próprios uma dignidade essencial insusbtituível, todos querem viver, todos temem a morte. Hoje em dia não há qualquer necessidade de matar (ou promover e financiar a morte e o sofrimento), para viver.

Portanto peço-vos, neste finalzinho de ano, que tirem um momento dos vossos agitados dias para considerarem a hipótese de se tornarem vegetarianos ou vegan (garanto que um mundo fabuloso de sabores se abrirá aos vossos digníssimos palatos), porquanto essas opções são sinónimas de refinamento existencial, respeito, gratidão, graciosidade, humanidade e amor.

Seja vegan, seja Amor!

Essa inesquecível alguma coisa e essa Arósio...

Como Esquecer - Malu de Martino (Dir.)


Ana Paula Arósio

 Acabo de ver o filme Como Esquecer, realizado por Malu de Martino e protagonizado por Ana Paula Arósio, Murilo Rosa, entre outras estrelas bonitas e boas.

Data esta película de 2010 e, tendo-a eu visto agora, com o 2011 quase a desaparecer na ampulheta voraz de Mr. Cronos, não posso deixar de pensar que é uma pena existir ainda um hiato temporal tão demasiado entre as (fantásticas) produções culturais do Brasil e o nosso País. Seja na vertente discográfica, livresca, cinematográfica, continuamos a ver mais tarde o que nos poderia satisfazer, embelezar, lançar em aventura mais cedo. E dizei-me, leitorado astuto, que não é essa a sublime ambição (será que é, sequer, ambição, e não apenas uma tensão, ou pulsão, apenas, apenas?...) da arte, a de exactamente nos lançar em aventura?

O filme: belo. Uma realização impecável, a meu literal ver, e uns actores em ponto de rebuçado. Muito bons, muito convincentes, senti-me na sua sala, na praia, no seu meio. A Ana Paula Arósio, em particular, fascina. Extrema delicadeza e acutilância na condução de Júlia, uma professora Universitária de Literatura que acaba de perder um grande amor.

"O que será o contrário do amor?", pergunta-se Júlia. E entre amores e o seu contrário e o haver-se consigo de cada personagem nessa jorna de desconforto, confronto e redenção que impera no Amor e no seu "contrário", eis-nos sem dar pelo tempo passar e a desejar, como os protagonistas do filme, alguma coisa. E essa tão imprecisa quanto espessa, coesa e intangível "alguma coisa", essa toda "alguma coisa" vigora e vence neste filme corajoso, moderno, e certamente intemporal.

A ver, e rever, e apaixonar.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Uma noite preta e fria

Alturas lunares

Está frio, os aviões cruzam os céus gelados. Eventualmente, e entre outras coisas, aquecerão distâncias, ou estreitarão pesares. Na A2 morreu há pouco mais uma pessoa em despiste automóvel. O meu coração fica sempre preto como alcatrão quando vejo estas notícias. Fico em cuidado por quantos vão, vêm, são. Por mim, mas nem tanto por mim.

Neste frio, o mar deve sentir-se especialmente solitário.

A cabeça dói-me, como nos últimos dias insistentemente se habituou a tratar-me.

Dir-se-ia um final de ano sorumbático, mas não. Não se trata de um regresso ao começo, e isso espevita aquela parte alegre do devir, e surpreendente, ou pelo menos desconhecida.

Alguém olhará a noite, agora, algures no mundo, pela pequena janela de um avião altíssimo. Não serei eu quem olha, mas sou também a noite escura, alta e fria.

Neste ínterim, uns bombons de chocolate e baunilha, oh...trazem umas calorias de esperança. Seja.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Brevidade sobre o ciúme

- Calma pczim, calma, há vida além dos pixeis!

Que a enxaqueca não volte, que consiga dormir bem, que mantenha a frescura, energia, temperança e afinamento encefálico para compreender profundamente tudo de tão bom que este ano me deu. E que daí haja estrada, ou melhor, caminho. Como o Kundera, também o caminho me parece muito mais resgatador que a estrada.

E para já um voto de supetão: que o 2012 venha com muito mais cheiro de páginas de livros: novos, velhos, assim-assim! Pois, computadorzinho, pois. (É tão ciumento!)

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Com papas e sopas e bolos...

Zummmmmmm!

O mundo envelhece e, além disso, amplia-se em fealdade e terror quanto mais repudia as nossas odes e as nossas ondas. O mundo gosta de sopas instantâneas e de previsões zodiacais, mas os sãos da aorta movem-se pela pulsação indecifrável de trovoadas formidáveis.

E se vos disser que o "sistema" não vai com a minha cara?

Barrinha lateral II

Não, não é só a alteração da minha foto que deve induzir a argúcia do Vosso detido olhar. Sim o poema, é o poema, o lindo poema do Ramos Rosa. Li-o pela primeira vez a acompanhar uma fotografia numa exposição em Salvador da Bahia, há quase 10 anos. Como é curioso e emocionante encontrarmo-nos na Outra margem!

Parar e mergulhar muitas vezes nos poemas que vou seleccionando para constarem, com foros de grave antologia, na minha e nossa Alegoria, proporciona-me um prazer de uma desmedida nutrição e apreço gigante pelos seus autores. As barcas podem ser do tamanho de um website mas as rotas, as rotas...sem tamanho nem detença.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Chover sobre o molhado (muitas vezes)

O problema de um ser aspirante a vegan e em francos progressos para tal ser presente num simples lanchinho social (laboral, por exemplo): passar parte significativa do tempo do convívio a recusar quase tudo o que é oferecido por conter ingredientes que não quer consumir (ovos, leite, etc.), e ter de explicar várias vezes as suas razões.

Naturalmente, nada disso é desconfortável do ponto de vista da minha relação com a minha escolha: é apenas, objectivamente, um pedaço cansativo.

Chá, por favor!...

sábado, 17 de dezembro de 2011

Cesária foi e é


Cesária Évora



Cesária, Caetano e Sakamoto - É Preciso Perdoar (Alcyvando Luz e Carlos Coqueijo - 1966)


Triste apontamento o deste dia, em que Cesária Évora nos deixa.

Como homenagem de um momento, aqui fica uma música que derrama emoção dentro de mim.

Essa a virtude magistral dos talentos, o de serem mesmo quando vão.

Por isso Cesária foi, e é, a diva da voz de mar grande, embalado numa morna cujo coração não cessa.



Em nome da seiva

Humpfff ahhhh humpfff ahhhh (respiro, Zim!)

Ver alguém que amamos a viver a sua vida no espírito em que mais acreditamos, no meu caso, o da Demanda, e perceber essa pessoa a abrir-se às tantas possibilidades de um, de muitos talentos, faz-nos subir vários degraus na nossa felicidade. A própria digitação destas palavras, o seu específico idear, trazem bálsamo aos meus dedos, olhos e coração.

Quantas vezes não pensamos no trágico "e se?", quantas não evitamos olhar para os nossos passos pretéritos com medo que a vacuidade, a desistência ou o desinteresse (ou todos juntos), se apoderem da nossa perspectiva sobre o caminho decorrido?

Admoestar temores, ver além do que as vendas que os contrangimentos reais, simulados e introjectados nos permitem, avançar e, mais importante, ser com a frescura dos cândidos, dos corajosos e dos atrevidos - eis o que nos traz os melhores sabores do existir, o que lhe finta a efemeridade e o transforma numa experiência inesquecível e numa aventura individual única. E isso vai sempre ser marco no chão para outras vias. Chamar-se-á, talvez, o vício da tão propalada joie de vivre. Mas nada a ver com uma alegria fácil/tola. Autre chose, autre chose...

É por tudo isto que me sinto cada vez mais feliz. Que o talento nos seja sempre companhia, máxima, limonada.

O presente é uma planta ávida com seiva a fervilhar em todos os poros para explodir mais vida.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Para mim, um dos homens mais bonitos do mundo

Seu Jorge
Seu Jorge - Seu Olhar (Seu Jorge)

E uma das vozes mais maravilhosas, e um dos melhores cantores, e um dos mais vibrantes compositores, e um dos mais excitantes intérpretes.

Já vos disse que o amo?

"Quero um pouco mais" e sempre deste mago preto maravilLHOSO.

Escutem esta belíssima Seu Olhar. Ai Jorge Mário!...

O Senhor Arrumador é que sabe

Pois vinha eu hoje do labor, naquela boa antevisão de dois dias de férias (como gosto de ver o fim-de-semana), galgando a calçada, depois em linha recta, a caminho do bairro, quando passo pelo senhor que arruma os carros e a quem cumprimento todas as manhãs e ao fim do dia, se o vejo, sempre em cordial reciprocidade. Hoje desejei-lhe bom fim-de-semana e eis que o senhor se me aprochega e diz, com  entaramelada mas genuína simpatia: "Quero desejar à senhora um feliz Natal!". (Não festejo a quadra, mas considerei que não valia a pena perder-me em explicações.) "Muito obrigada, tudo de bom para o senhor!", respondi, alegrinha. Vai daí, percebi que vinha um acrescento cheio de convicção por parte do senhor: "Eu queria dar os meus parabéns, porque eu admiro muito a sua personalidade!". Afaguei-lhe o braço cordialmente e, respondendo que era muito simpático, lá me despedi.

É isto, meus caros: personalidade. Foi o senhor que disse, não fui eu que inventei, correcto? Não fui eu. Personalidade. Ora tomai e embrulhai.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Não se faz

Sim, eu sei. Isto não se faz. Não se deixam os nossos mais-que-tudo, os nossos magnânimos, dilectos, algodónicos leitores sem notícias durante quatro    l   o   n   g   o   s    dias. É vil, tremendo, sinistro quasi.

Mas sabem lá...É um tal de tentar começar o não começado, de acabar o inacabado, de adormecer com o computador ao colo e assim passar a noite com o pescoço delicado de Zim todo torto e com a luz acesa...Baf. Como descrever-vos esta penúria de descanso, conforto e tempo, gentis entes, tempo?!... Sabeis que as palavras exigem tempo, carecem de lavra, de lábia, do palato que começa nos lábios e desemboca nas polpazinhas ridentes dos dedos que tamborilam...(TAMBOrilam?...), tamborilam aplicadamente as suas metáforas e decomposições dos veios existenciais em que damos por nós. E por onde andaremos, em que mó, em que nó, com que dó? Ah, ah, vamos rir juntos e espantar o FMI e o mundo!

Certo, poderei encontrar-me um pouco febril, por assim dizer, neste meu post à deriva, mas queria muito, precisava e queria muito dizer-vos que senti a Vossa falta e que aqui estou.

AbraZim.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Desculpa 33

Também é verdade que a semana teve momentos intensos...

Certo, certo, não vos maço mais.

Pensando bem...

Zzzzzzzzimm...

... talvez ainda possa surpreender-me um pouco-pouquíssimo-íssimo enquanto chega a hora (tardia), para as meninas do Lip Service. Sem muitas garantias, claro.

Depois poderei correr para os meus lençóis polares e dormir outra vez. Que tsé-tsé me terá mordido???

...Assim não vale!

Se uma desconhecida vos disser que tinha três coisinhas para fazer no fim-de-semana e que não fez nenhuma, isto é...

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço, cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser…
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto…
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço…

Álvaro de Campos
Retirado deste blog .

E agora é ter paciência para tudo durante a semana.
(Que, pensando bem, é quando se deve cuidar do trabalho.) 

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Prémio de consolação vai para... Tamborim Zim

Hienazim risonha

Muito bem: chegado o fim-de-semana  com a sua promessa de inércia, permissiva preguiça, tempo distensíííííííííssimo. E todavia? Ah, e todavia três assuntos, todos relacionados com labor e que não quero mesmo deixar saltar para segunda-feira, vão ter de ser resolvidos com cabeça, pena (ou seja, tecla) e paciência durante os próximos dois dias. Pormenorzinho: os três trabalhinhos terão de ser muito bem feitinhos. Ponto de honra.

Consolação? Fazer tudo isso devidamente acondicionada em cobertores quentinhos e a debicar chocolate (preto).

Como não tenho energias para chorar, o melhor é rirrrrrrrrrrrrrr (riso histérico).

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Memorandum

A superioridade moral em contexto específico e efectivamente aferível dá prazer.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O prazer do labor


Doutora Internet tudo explica...

Examinar as copiosas páginas dos dossiers, deter-me num documento de letra miúda. Imprimir, sequenciar, esquematizar, calendarizar. Telefonar ao parceiro francês; telefonar à parceira francesa; escrever ao húngaro, responder ao estónio, perguntar ao inglês, conversar com o tunisino. Assinar relatórios, mandar para assinatura, carimbar, enviar, acusar, avisar. Congeminar cenários, corrigir tabelas, acrescentar textos explicativos, responder a comentários interrogativos, rever tudo e colocar pacientemente à consideração de todos os parceiros. Responder a questionários, pedir respostas, enviar relatórios, travar conhecimento com diferentes bases de dados e solicitar levantamentos com centenas de resultados. Preparar reuniões, antever reuniões, telefonar outra vez ao parceiro francês. Trocar ideias, ler pontos de situação de coisas de que nunca ouvi falar, redefinir tarefas. Ler textos, editar textos, pedir inserções de editais na base, atender telefonemas sobre editais, regulamentos, regras, dúvidas, inquietações e inventivas. Esquematizar uma apresentação e pesquisar o significado de conceitos, siglas, programas. Estudar programas-quadro, observar boas intenções, diferenciar interesses, compreender ditames estratégicos. Apresentar ideias, adicionar sugestões. Fazer quadros, ler em linha recta e ler na diagonal. Pensar nas melhores formas de contribuir com actualização, modernização e reflexão crítica. Idear acções conjuntas futuras, pensar nas temáticas preferenciais a abordar. Participar na criação e aplicação de políticas de ciência e tecnologia. Repensar, aprender, perguntar, responder, defender, rever, remeter, acrescentar. Aprender, aprender, aprender. E ademais, aprender.

Trabalhar também pode ser um prazer.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Hum...

...no espaço de dois posts, duas louras.

Mensagem subconsciente: Zim quer pintar os cabelos de um centímetro de loiro platinado?

Nórdica eu fosse


Emagrecesteis Zim? Alourasteis? Crescesteis???

Amiúde acho que tenho um não sei quê, melhor digitando, um bastante quê de nórdica. Passo a elucidar as Vossas retinazinhas cheias de sageza e bonomia para comigo: tenho uma notória alergia à brincadeirinha parva e insistente, às tomadas de confiança um poucochinho a mais do que a inter-relação que se instaurou permite, a sensação de que somos todos uma carneirada porreira pá, portanto aqui vai disto e não destoes da massa faxavore.

Nórdica: alta e loura na minha frialdade anímica, contra o pior dos provincianismos nacionais, aqueles que emulam caciques e patos bravios. Nórdica nevada: contra o princípio do "tem sido assim até aqui por isso arreia". Alva: contra o princípio de ouro "se tens uma ideia original guarda-a para ti porque ninguém é obrigado a ouvir esquisitices e ainda mais a ter de dar óleo ao miolo para cogitar sobre as ditas".

Contra tudo isso. Iceberguianamente contra.

Percebeis, amadinhos?

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Lip Service


Ruta Gedmintas

Comecei há três semanas a ver a série Lip Service, que encontrei por mero acaso nos meus raros momentos de zapping. Gostei muito. Todas as interpretações são convincentes e há qualquer coisa de muito plausível e profundo em cada personagem, como um cofrezinho a investigar com atenção. A ambiência geral é séria mas a ordem dos acontecimentos, o seu ritmo e a realização são fluídos e envolvem-nos agradavelmente durante todo o episódio. Escusado será dizer que anseio o lançamento em DVD - pelas minhas pesquisas ainda não está disponível, se alguém tiver outras teorias/notícias queira ter a amabilidade de informar com um ar da sua graça, por favor.

A personagem Frankie, interpretada pela lindíssima Ruta Gedmintas (a quem também nunca vira mais gorda), toca-me especialmente. O misto de candura, atrevimento, fragilidade e persistência na perseguição da sua verdadeira história tornam-na uma figura muito cativante. Excelente actriz.

Continuarei a acompanhar com muito interesse, até dividir a casa com as novas amigas - "devedeicamente" falando, naturalmente.

domingo, 4 de dezembro de 2011

As causas da Alegoria - 100º post!

- Eu sou o Amor e não tenho género!


- Olá Zim e amigos, estamos juntos!

Dedicados leitores, chegámos ao centésimo post!

O tempo voa, as palavras são como as cerejas e candeia que vai à frente alumia duas vezes.

Posto isto, queria festejar este número bonito e, sim, já respeitável, já vetusto, da melhor maneira. Soube ontem que o Senado Nigeriano aprovou uma lei que pretende punir com prisão a orientação e a associação LGBT. Ora a homofobia é coisa absolutamente rejeitada aqui na nossa Alegoria da Primaverve, onde defendemos os direitos humanos, fundados na liberdade individual, com razão e paixão.

Assim, pedia-vos que lessem e assinassem a carta dirigida por  um activista nigeriano, Ifeanyi Orazulike, ao Presidente Goodluck Jonathan, para apelar ao veto da nefanda lei.

O link é: http://www.allout.org/pt/actions/nigeria .

Quando é que as pessoas vão parar de se inquietar, revoltar, amofinar e desumanizar, consumindo-se e consumindo por causa de quem os outros gostam, como e quando e quanto gostam? Quando contarão apenas a lisura, o respeito e a felicidade?

Tântrico pá!

Celebro com álacre prazer a procrastinação do fim do apetite.

Claro que deste tantra sai tofu!

sábado, 3 de dezembro de 2011

Uma Aventura em Serralves

Zeca Baleiro - Bienal (Zeca Baleiro/Zé Ramalho)

Este post do jaa, no seu excelente blog O Escafandro (mesmo do camandro!), relembrou-me uma cena que muitas vezes me vem à memória porque sintetiza de forma perfeita, fílmica mesmo, se fosse o caso, a nossa relação com algumas vertentes da arte contemporânea. Senão, vejam só...

Há uns bons anos costumava ir ao meu amado Porto várias vezes. Tenho uma paixão assolapada pela cidade e, se muitas vezes passeei por ela completamente sozinha, noutras ocasiões cedi com muito gosto ao convite de amigos e usufruí da sua companhia em alegre deambulação. A história que a seguir vos conto já tem, por isso, centenas e centenas de dias em cima. O meu querido amigo M. levou-me a conhecer a lindíssima Casa de Chá da Boa Nova, em Matosinhos, um primor do Siza Vieira - as linhas, o encaixe na paisagem, as vistas para os rochedos e para o mar, um êxtase. Entre vários acepipes, mimou-me o meu amigo com o primeiro vinho que eu gostei mesmo na minha vida até então, um soberano Quinta da Bacalhôa que ele, bom conhecedor, quis escolher para o nosso animado almoço. A benfazeja cadência báquica, a degustação da conversa, sempre uma peça de arte a deste meu amigo, o charme da Casa e o insinuante mar lá fora tornaram aquele momento uma delícia inesquecível, e lá saí coradinha e feliz daquele recanto. Passeio para lá passeio para cá, deixou-me o M. em Serralves antes de seguir para o seu trabalho. Foi, portanto, num contexto já de certo júbilo que entrei portas adentro daquela minha dilecta galeria.

Percorria as salas mas não me encontrava particularmente entusiasmada por nada do que via. Na procura por alguma coisa realmente fora de série, dei por mim numa grande sala vazia, por onde maquinalmente me vejo a andar com desconfiada precaução. Um vazio claríssimo enchia tudo, até que descortino, no chão, um copo com água. Não me lembro se olhei para o tecto para aferir de que lado vinha a ameaçadora humidade, mas creio que não (trata-se de mera hipótese para vos impressionar). Passei de fininho ao lado do objecto como se não me sentisse constrangida, e esperando que o funcionário da galeria que por ali estava considerasse o meu andar e a minha postura naturais. Os pacatos passos sala fora conduziram-me perto de uma parede na qual se apoiavam um vidro ou dois, não me recordo com exactidão, e nessa altura devo ter-me convenvido de que a referida sala estava em manutenção, ou que uma exposição ali se montava. Avanço e, quando já na sala seguinte perscrutava por mais novidades, ouço um barulho de vidros a cair da sala de onde viera. Burburinho, vozes, e alguém a exclamar divertidamente: "Olhe, já me aconteceu há bocado!" A reboque do Bacalhôa e da situação, e na sequência da minha indecisa caminhada, começo a juntar as peças e eis-me com uma incontrolável vontade de rir. Não resisto a passar pela mesma sala para sair. Quando o fazia, faceira e provavelmente já mais veloz, veio ter comigo o senhor funcionário. A sua face transparecia uma gravidade aplicada e uma atenção detida mas gentil. Acercou-de de mim, apontou para um espaço em baixo entre nós, e disse-me serenamente: "Reparei que lhe passou esta obra de arte." Eu, cheia de riso, zonza do vinho (ou vice-versa), fiquei por momentos suspensa do olhar hipnótico do homem. Pronta para tudo, embora, olhei para baixo: um quadrado de vidro repousava, quedo e mudo, sobre o chão. Ergui os olhos e encontrei a atenção do meu zeloso guia: "Olhe", respondi, bem-humorada, "devem ter-me passado muitas mais! Sabe eu até gosto de um certo minimalismo, mas isto para mim é um bocadinho demais...". O senhor encolheu elegantemente os ombros, em compreensiva mas compenetrada expressão, e lá me disse os nomes de uns certamente inexpugnáveis artistas, que imediatamente esqueci. Agradeci e saí, com gargalhadas a implodirem por mim adentro, e eu apressadamente a dirigir-me à saída, a rir sem detença. Deveras! O copo de água, os vidros pelo chão, encostados, as pessoas aos pontapés às "obras de arte", tudo aquilo na selecta sala de exposição da metafísica última da contemporaneidade. Que "ingnorância" a nossa, Céus!

E eu ria, ria, ria muito. E abençoo esta história, aquele momento, o M. que me tornou uma exigente apreciadora de vinho, e todas as irrefreáveis risadas que já dei ao recordar e a recontar a minha aventura em Serralves.

Para ilustrar este mimo, só me ocorre uma canção: Bienal. O vídeo que vos deixo tem a letra integral e saibam meus doces, saibam que o concerto do Zeca Baleiro a que assisti e em que ele cantou esta música foi o mais divertido de sempre, fiquei às lágrimas! Não percam - e cuidado, nunca se sabe que masterpiece podem pisar, estilhaçar ou perder se a subtil e artística antena não vos acompanhar. Quem avisa...

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Voto veloz, lenta ausência

Cazuza

Quase por acaso deixar-vos-ia esta canção do Cazuza no dia mundial contra a SIDA, flagelo que nos levou o nosso menino poeta e fazedor de músicas tão esmagadoras quanto inesquecíveis. Quase, porque já estamos no dia 2 de Dezembro. Esta realidade que toda a vida me espantou e continua a espantar, a do tempo com o fogo na cauda, bem poderia ser "ilustra-cantada" por outra música deste compositor do meu coração (O Tempo não Pára).

Mas o feriado acabou. (Só por enquanto, que o dia 8 também aí virá célere e lazeiro.) Por essa razão, opto por convocar para a Alegoria este rasgão energético e provocador, como Cazuza sempre foi. Um provocador genial. E percebo que as frases curtas não querem apenas dizer: sono; também: saudade.

Vamos então pela noite no melhor dos embalos, para que o dia nasça feliz.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Dúvida Impertinente

Hoje ao almoço discutíamos entre amigas a seguinte questãozinha: uma pena se a maioria das pessoas não se aperceber que o Orçamento de Estado é aprovado por causa da abstenção do PS, uma vez que o voto contra do principal partido da "oposição" (mas qual oposição caraças?) inviabilizaria o dito cujo. As minhas amigas defendiam que o facto passará ao largo da consciência popular. A que vos fala, sempre num misto entre a ingenuidade e a negação do real, que não senhor, que naturalmente as pessoas estarão conscientes do facto de o Orçamento de Estado ter sido aprovado com a abstenção - ABSTENÇÃO, repito - , do PS. Tenho razão, não tenho?