sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Sensualidade e Bom Senso da Grande Idade

A Mãe - Dir. de Roger Michell (2003)

A pele e o amor e muito tempo

Pure charming
Beijar é renascer
Novo antigo
Classe é posto
Old Man Thinking - Leonardo Da Vinci
A Old Woman Reading - Rembrandt
Woman with a lantern - Marianne von Werefkin

Gostamos de História, dos mistérios recuados da Arte, amamos viajar e ganhar espaço, perspetiva e profundidade. Somos irremediavelmente atraídos pelo requinte, pela serenidade forte e pela ternura, emociona-nos a delicadeza. Apreciamos genuinamente a amabilidade do gesto e da palavra, a demorada maturidade da forma sábia de ver o mundo e as pessoas. Prezamos as atitudes respeitosas, encantadoras, deleita-nos e aquece-nos o peito uma meninice que não deixa de ser formosa em idades não meninas. Somos irreversivelmente seduzidos pela familiaridade dos sorrisos, pelo apelo a alguma proteção tão cheio de graça.

Por que razão, perante todos os atributos mencionados e o ingente caudal de informação cumulativa de que hoje dispomos, e que tanto contribui para alterar mentalidades, prioridades, até sentimentos e razões, por que razão leitores estimados, são os idosos esquecidos? Maltratados? Desconsiderados? Preteridos? Desrespeitados? Não amados como deviam, sem usufruirem da reverência que lhes é devida pelo simples facto de terem sobrevivido mais tempo às coisas tão difíceis da existência, criado famílias, contribuído com esforço, empenho e tenacidade para um mundo que os olha de lado, ou ignora, ou não vê o encanto das suas rugas, marcas, da lentidão imersa em tempo, experiência e saudade do seu caminhar, da doçura infinita dos seus olhos vivos? A fragilidade que a depauperação da saúde e todo o complicadíssimo processo de envelhecimento comportam seria, por si só, um motivo gigante, tremendo, gritante, para os defendermos e mimarmos e estimarmos com carinhos diários, numa poesia constante e gratidão por beneficiarmos da sua presença, da sua atenção e do seu tempo que, a cada dia, se torna mais e mais raro.

Somos tão ávidos de nós, de todos os nossos minutos e segundos, de um dia-a-dia esfomeado, tão ávidos de vento afinal! Atirados ao chão, ao solo seco de afetos estriados, sem água, sem viço e sem flor, porquanto não regados com todas as fabulosas possibilidades da nossa juventude, da nossa saúde, do nosso alento.

Não me entendam mal. Não santifico nem diabolizo estados etários. Mas digo o que sinto. E o que sinto não toca apenas, nesta dimensão, aos que chamamos de nossos. Toca à vizinha, ao senhor com quem nos cruzamos na rua, no trabalho, aos casais de há décadas no supermercado, aos que dormem num beco qualquer escuro e frio, aos que habitam solidões, mesmo com teto, aos tristemente desalojados dos corações dos outros, e tantas vezes dos outros que continuam a chamar de seus.

Novidade: os idosos, esses seres dignos e encantadoramente vetustos, e que amam quando sorrimos para eles, são homens e mulheres. Têm ideias, corações a palpitar, sonhos, desejos, sexualidade, necessidade de conforto e beijinhos e atenção e humanidade como, adivinhem, cada um de nós. São dotados de uma força ilimitada quando se trata de ajudar e proteger os que amam, tornam-se ainda mais imensos, quase sobrenaturais. Enfeita-os uma beleza que o seu pleno desabrochar não apagou, mas modificou. Possuem outros corpos, outras peles, outras estruturas ósseas. Mas quantos romances sem preço se escreveram na avançada idade, quantos poemas, descobertas, ensinamentos, filmes, composições musicais, filosofias e mundividências se erigiram com a clarividência, a perspicácia, a sensibilidade do poder dos anos! Quanta riqueza.

Um idoso é um tesouro. Como eu, como usted. Foi, continuará a ser, como nós seremos. Irrepetíveis, fugazes e merecedores da maravilha. Vamos ser amor. Por favor. Dignos do sublime.

4 comentários:

ALI disse...

Gostei bastante do filme que aqui mencionas! The mother.

Tamborim Zim disse...

Magnífico e inesquecível, cheio!

Imperatriz Sissi disse...

Concordo tanto com este post que me faltam as palavras. É o velho problema da inversão de valores. Mas também fico triste quando ouço um idoso dizer "no meu tempo". Respondo-lhes sempre que o tempo deles também é este, que o tempo é nosso enquanto por cá andarmos. Nunca devemos pensar o contrário! E fico tão contente quando vejo uma senhora de idade divertida e bem arranjada. Aquece-me a alma...pq a beleza verdadeira não desaparece, mesmo que mude um bocadinho...

Tamborim Zim disse...

Certamente Sissi, subscrevo. O tempo deles é este, o outro, todo aquele a q têm direito! E é tão bom q haja pessoas q podem reforçá-los e acompanhá-los nesta partilha de ser.