segunda-feira, 16 de abril de 2012

Um filme muito bem feitinho para um Grande poeta

Howl - Dir. Jeffrey Friedman e Rob Epstein (2010)


Allen Ginsberg

Vi há uns dias um filme em que agarrei com aquele entusiasmo infantil com que saúdo as boas surpresas. Estava em plena FNAC e vi, a um preço muito camarada, o título familiar para mim: Howl. Howl? Uivo? Ginsberg? Allen Ginsberg, filme sobre Ginsberg? Sim, isso tudo, mais especificamente sobre um dos mais longos poemas do fantástico poeta beat, Uivo (1956) e do seu debate em pleno tribunal. Desconhecia que se apaixonara romanticamente por outro dos meus amados literários, Jack Kerouac. Muito natural.

A realização está delicadamente desenhada ao longo da película, com sucessões instigantes de desenhos animados a representarem as toadas metafóricas do poema, intercaladas com os testemunhos do poeta interpretado por James Franco. Jeffrey Friedman e Rob Epstein realizaram.

Se tivesse de escolher um dos artistas (sim, para mim poesia é arte) que mais me marcaram, Allen Ginsberg não poderia faltar. Faz parte do grupo que eu chamo dos duros-ternos. Uma ferroada na minha perceção da literatura, um murro na minha quietude narrativa, um corte profundamente desvirginante, eis o que Ginsberg foi para mim, quando por acaso dei com a sua poesia num programa de televisão. A seguir corri à Biblioteca Nacional, queria traduções dos poemas, ler mais, sentir mais. Era complicado, arranjei alguns excertos que li e relia com desvelado afã. Foi seiva no meu coração e na minha pequena escrita. Anos depois uma editora de Famalicão, gerida por poetas, de seu nome Quasi, presenteava-nos com um nu Allen na capa cor-de-rosa: nada mais nada menos do que Uivo e Kaddish integralmente disponíveis para quem os quisesse snifar. A glória!

"Eu vi as mentes mais brilhantes da minha geração destruídas pela loucura(...)", mítico começo ginsberguiano. Longo Uivo, incessante, louco, lúcido, sonhador. Fiquei impressionada quando, durante o filme, e a algumas passagens do poema que desfilam pelo écran e pelos olhos ávidos da nossa cabeça, me senti em emocionada expansão - como quando se dão aqueles reencontros históricos do que faz parte de nós.

Recomendo. Do fundo, do recôndito, do amplo do peito.

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