sábado, 14 de julho de 2012

Cansada de matéria

Summer Skin (Gibson?)

Não, nem tudo o que perfilho ou faço por se me abater no pensamento ao sabor do momento ou das idiossincrasias tem por detrás um complexo esquema ideológico ou filosófico. Claro que, como sou dada à meditabundice, acabo sempre por relacionar muitas escolhas, das mais prosaicas às maiores, com os seus fundamentos primeiros e últimos, e o facto é que muitas vezes essa relação é real. (O que não sucede, por exemplo, com os meus mais curtinhos desbastes pilosos na cabeça, dos quais se não infere, conforme esclareci a uma simpática colega recentemente, que integre o movimento Hare Krishna.)

Bem, mas tudo isto para explicar que cada vez vou tendo menos apetência para fazer listas de aniversário com as coisas que gostaria de receber. E por quê? Porque sempre preferi que me oferecessem livros e discos e, nos últimos anos, também filmes. O que se passa é que tenho montes de livros por ler há não sei quantos aniversários, alguns filmes por ver e vários discos para ouvir e outros para ouvir com atenção. Incomoda-me já a acumulação de coisas. O espaço é pouco, o pó aumenta, as coisas extravazam das suas linhas e isso, infelizmente, nem sempre é sinónimo de serem devida e enriquecedoramente interiorizadas em mim. Essa ideia é, de resto, central neste assunto: sinto necessidade de interior. Talvez por demasiadas vezes considerar o meu abalado, com algumas doses de desertificação a mais, com detenção a menos, com produto a menos. Todos tentamos o que achamos que podemos, o pior é o aquém de tudo isso. O grande Variações cantava "Estou Além", e eu sinto-me aquém.
Por isso, este ano, o que mais gostaria que as pessoas próximas me oferecessem é uma pequena história da sua autoria, sobre o que quiserem, no mínimo de uma página A4. Embrulhada, com laçarote, ou apenas em papel. Era isso, de facto, o que gostaria que me dessem. Uma coisa sua.

Temo não ser compreendida e ser tudo remetido para as preocupações (nada despiciendas, porém) com a crise - faz parte da crise sermos submersos pela mesma. Mas é muito mais e para além da abundância ou da carência de tudo o que seja matéria.
Trata-se do meu pequeno património imaterial, que é do que mais preciso. Isso, pão, e uma viagem maior por ano, e acho que conseguiria viver. (Talvez com uma ou outra cosita mais...)

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