segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Sem título

De Victor Sheleg

 
Depois. Mais tarde. Daqui a tudo. No mesmo sítio. Onde não foi combinado. Não. Deixemos estar. Deixemos não estar. Não quero. Mais tarde. Um pouco mais. Mais. Talvez. Noutro Inverno e noutro País. Que horas são. Não é uma pergunta. É uma afirmação. As horas que são. O dia que não é hoje. No café. No outro. Com soja quente. Muito frio. Que horas são? Não sei de cor as agendas do tempo. Em Dezembro. Em Novembro. Parto depois das treze badaladas do século. Um comprimido. Dois vegetais. Duas gramas de peso. Duas gramas a mais. Amanhã. Não quero. Fotocopia esta tarde. Entrega-ma para o ano que vem. Noutro horizonte. As mãos secas. É muito tarde. À porta do cinema em ruínas. Daqui a duas décadas. Férias grandes. Onde? Não posso. Na gaveta que não abre. Procura. Na gaveta que não abre. Talvez eu esteja. Na gaveta que não abre. Talvez eu seja. Um selo descolado. Adio, é muito cedo. Chocolate preto, é cedo. Para chocolate é cedo. Não sei. Onde as minhas malas. Não sei. Desinteressa-me a falta de necessidade de destinos. Não preciso. O telemóvel está desligado. Não tenho bateria. Vitamina. Depois. Compro depois. Farta de dinheiro. Vou desarrumar a casa. Depois arejo. Os bichos precisam de renovadas decorações. As traças, as joaninhas. Perdi o contacto. Perdi o cartão SIM. Perdi o não. À janela. Não sei. Extremo cansaço. Deixemos para amanhã. Não há amanhã. Sim outro dia. Novo. Sem ontem. Sem depois. Isento da arritmia. Do futuro. A pureza do primeiro ruído. Baixo o som. Demasiados os volumes do mundo. Muita matéria. Os barcos. O rio. Nevoeiro. Daqui a nada. Noite estrelada no prato com pão. Devagar. Nada nos consome. A vida é insone. E está.

2 comentários:

Anónimo disse...

ah... gostei tanto mas tanto de te ler, Tamborimzim.

Tamborim Zim disse...

Q magnífico, e tanto gratinzim! :)