segunda-feira, 29 de abril de 2013

A depuração vibrante de Rogê

 
Rogê - Depurando Ideias (Rogê/Wilson das Neves)
 
 
Torrente sem fim, sempre a música tupininquim (cit. Gabriel O Pensador) a dar sempre o seu melhor. Mirem, ou melhor, escutem num balancinho sambalanço-maracatu-sambístico, esta Depurando Ideias. O título já é de instalação plástica de primeira ordem, estão comigo? Como se diz, já nasce clássico.
 
Simplesmente Rogê.

É impossível estar sozinho

Macieira - Klimt (1912)

Eis o que vos digo. Ou, nas palavras imorredouras (e quais dele o não são?) de Caetano Veloso, "O Mundo Não é Chato" - título de um dos seus belos livros que, julgo, já aqui citei. O mundo não é chato? Não será chatíssimo? Hei-de morrer, quiçá, sem saber responder a isto. Horrível não é, afinal, a mesma coisa que chato. Vero?
 
Sabeis que por vezes o intróito vale o corpo, supera o corpo e fá-lo desvanecer na penumbra do sem sentido. Salvemos, destarte, o corpo, por assim dizer: é impossível estarmos sozinhos num mundo cheio de sinais, impressões, ofuscações, FMI, FDP, etc.. Mas também não se possibilita a solidão absoluta (sendo até parcialmente complicada), com as quantidades ilimitadas de obras de arte que temos ao nosso dispor via PC, TV, livros, portanto, papier, música, filmes, exposições de pintura, escultura, gravura, formosura, etc.! Impossível: há miríades de rotas para os nossos olhos se perderem, milhões de vozes ou de ideias silentes mas incessantemente percussivas, na nossa cabeça, que vêm do mármore, do óleo da tela, do verso, do canto ou dos prolegómenos do narrador. Não há como escapar, mesmo se não formos estetas ou, mais plenamente ainda, demandantes. Não será todo um demandante, minha gente, um esteta?
 
Mesmo que não haja pessoas, há pessoas. Muitas, criaturas e criadores. E recetores, perplexos ou aturdidos, o que acaba por ser a mesma coisa, mas de qualquer forma, de ínvias maneiras, com desajeitadas abordagens ainda que seja o caso, a comunicar. A receber. E a refabricar para nós mesmos. Tudo húmus, tudo substrato para a nossa dita essência. Enfim, pelo menos nas coisas que ficam e se sedimentam. Não serão tão poucas assim.
 
Não serão tão poucas assim.
 
As palavras são mesmo como as maçãs. Isto tudo porque queria aqui deixar esta maravilha de Klimt. Não há escapatória. (Só falta o Maktub!)
 
 

Do que é crucial

Como 3 e 3 serem 6: às vezes um tem que simplesmente perguntar.

sábado, 27 de abril de 2013

Espaço Brasil reluziu



Maíra Freitas
(Fotos de Mana e Zim)


Marcelo Caminha
(Fotos de Mana)

Quem avisa, algodónicos estetas, amiga é.
 
Mais uma noite brilhante no Espaço Brasil, LX Factory, ontem. Maíra Freitas (passou por nós na rua, passou por nós na rua), rebentou em palco, e para mim irá explodir grandemente, e a breve trecho, como um dos nomes mais interessantes da nova geração da MPB, se é que já o não é. O timbre, a pureza de uma juventude descontraída, a riqueza do repertório e a elegância do gingado - 100 mil valores.
 
Marcelo Caminha trouxe um estilo muito diferente, mas a festa gaúcha, cantada com fervor e tocada com paixão, marcou pontos. O público bateu palmas finamente orquestradas e a simpatia deu-se. Viva a diversidade minha gente!
 
Este Espaço tem sido mesmo muito especial. Entramos lá, e sentimo-nos entre velhos conhecidos. Os seguranças simpáticos, o gentil senhor da loja de música, os frequentadores entusiasmados e alegres.

Que Junho demore a chegar!
 
 


Como sou facilmente enganável, até prova em contrário!


Que a poesia não lhe falte!
 
Pode ser pelos comentários que li na última meia hora sobre a figura em causa, pela oblíqua que dediquei ao seu perfil, pelo interesse nos temas da justiça, liberdade, Europa (por que não, afinal?), pelo discurso articulado no seu Facebook. O doutoramento em Florença, e nós já a imaginar a sua sapiencial matéria espelhada sobre o Arno, em entardeceres teóricos e afoitos de porvir.
 
Mas se querem realmente a verdade verdadinha, diletos, o que mais me impressionou foi esta sua citação: "Um bom político para mim tem que ser uma mistura de um cartógrafo, de um poeta e de um Juiz". Pronto. Zim rejubila.
 
Talvez, ainda, claro que em detalhe minimalista, uma certa alguma coisa desprendida dos seus olhos verdes adensem a impressão.
 
Enfim, é esperar e ver o que Miguel Poiares Maduro fará como ministro Adjunto e do Desenvolvimento Regional - a quem possa interessar.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Piedosamente extremistas

"Os vegan são extremistas? Sim, somos. Somos extremamente contra um mundo construído sobre a extrema crueldade, a extrema violência, o extremo egoísmo, a extrema apatia."
(Trad. de Zim)

O Corselet de Maíra

Maíra Freitas - Corselet (Maíra Freitas)
 
Um delicioso vídeo desta irresistível Corselet, cantado e tocado primorosamente pela mana da dama Mart'nália, e filha de Martinho da Vila - Maíra Freitas. Pianista premiada, aventura-se agora na MPB com um disco cheio de classe.
 
Amanhã, no Espaço Brasil da LX Factory. Lá estarei.

Abril águas mil

E agora, qual vai ser a fastidiosíssima sucessão de metáforas, alegorias, fábulas, hipérboles e verborreia analítico-comparativa entre o "espírito de Abril" e a nossa decadente crise? A democratização e a frustração de algumas expectativas como derradeiro óbice ao estabelecimento de um regime mais decente? Ai que Abril não se realizou? Ai que sai ou vai a Grândola do/para o hit?
 
É que estou a ficar um pouco entediada de tanta mesmice e de tanto alho com bugalho. Como dizia o outro, "uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa". Hélas, mas também não estou a dizer nadinha com tino, vero? Mais non, quase nadinha. E este quase, diletos, é um intransponível abismo para o bem geral e, especialmente, para minha particular redenção.
 
Viva a liberdade e, já que é o que se pode ter e à falta de melhor, como também bem sabia e dizia Churchil, viva a democracia. E fora as análises chatinhas, sim? Fora. Puníveis com impostos vitalícios e de geração em geração. O povo ressabiado é capaz de tudo, de um tudo!

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Tevê Cabo da Boa Esperança

Se um dia (e o mais certo é: quando um dia) deixar de ter TV Cabo, o canal que me custará deixar para trás será, definitivamente, o Mezzo. Não sendo um tipo de música que me prendesse desde sempre, podendo mesmo chegar a enervar-me com perigo e algum alarde, pela sua toada incisiva e incansável, devo contudo admitir que cada vez gosto mais de jazz.
 
Fico a deambular nas melodias, nas dissonências, e vem-me à mente que como que se viaja. O próprio jazz parece-se com uma demanda aventureira, na qual nunca sabemos onde chegar, mas onde somos arrebatados pelo processo. E há tanto de tocante, de pele e de tato nos emaranhados doces e agrestes desta música, que enreda mais do que afasta, menos esclarece do que galvaniza o prazer físico do mistério.
 
Mezzo. Sem fim. Sem princípio. Devir e jazz está.

A pura da excentricidade

Dalí - e basta!
 
Hoje uma querida colega minha ficou espantada quando lhe disse que se pudesse me reformaria hoje mesmo. Claro que já sei que não posso, por causa da idade (sim, gosto de ainda ser nova, se bem que não já fresca jovem), que não é cogitável. Mas se fosse, caso reunisse as condições ah, sim, amaria.
 
Gosto do trabalho que estou a fazer e do local onde trabalho, mas tenho de dizer que me ocorrem incontáveis coisas mais interessantes para fazer da vida.
 
Viajar, viajar, viajar, estar como nativa e não turista, regressar e repartir, estudar matérias diferentes em distintos locais, escrevinhar daqui, rabiscar de além, dormir sem controlo, disciplina, culpa ou qualquer plano, recolher ao campo, recuperar a paciência, a detenção necessária à leitura. Ouvir mais música e ver mais bom cinema, voltar a viajar... Se me aborreceria? Não sei. Em caso afirmativo, podia sempre ser exótica e trabalhar um pouco, abrir uma editora, uma produtora musical, ser curadora ocasional.
 
Ah, sim... esqueço-me de referir que para poder fazer isso tudo, não bastaria reformar-me. Havia que ter saído um possante Euromilhões.
 
Mas se saísse o dito cujo  também não se punha a questão da reforma, era zarpar pela casa da partida fora, sapatas para que vos quero. Mas, bom, algumas coisas sempre se podiam fazer mesmo sem Euromilhas, não é vero? E não pode ser, hum?
 
Baffff...oh, realidade! Travestis-vos!

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Pergunta brevíssima mas muito cheia, ou melhor, farta

Por que será que ainda não me apetece tirar do destaque o poema Não há vagas, do Ferreira Gullar? (Barrinha lateral.)

O que patrocionamos com o nosso dinheiro - transgénicos

Esta notícia, integralmente publicada na página de Facebook da RiseUp Portugal, e neste site,  aborda uma investigação sobre óleos alimentares trnasgénicos, realizada tendo por objeto os principais super e hipermercados do País.
 
Como é possível, pergunto-me, que Continentes, Pingo Doces e Intermarchés (este último aparentemente mudou de política mas afirma estar ainda em uso sotcks anteriores) lideram o que de piorzinho existe em Portugal quanto a óleos alimentares? Com os lucros rocambolescos que fazem, permitir-se este despautério só deve ter uma resposta dos consumidores: boicote. Se isto é com os óleos, o que será com os restantes produtos? Como controlar, como saber? Desconfiar, desconfiar sempre.
 
Da minha parte, embora não o faça totalmente, já compro muito menos no PD, e cada vez o pretendo fazer menos. E azeite marca PD já não compro há algum tempo.
 
De facto, os supermercados biológicos pagam-se bem, mas em vários aspetos é um descanso consumir o que lá se compra.
 
Rise up, smarty people!

domingo, 21 de abril de 2013

Bossacucanova



Bossacucanova e Cris Dellano
(Fotos de Zim ou Mana)

Rio (Roberto Menescal/Ronaldo Bôscoli)


Mais umas horas muito bem passadas no Espaço Brasil. Foi a vez dos Bossacucanova rebentarem com a bossa, samba e mais umas botas eletrónicas, com muita simpatia e total adesão de um público bem bailante. Um repertório ginasticado e diverso brindou este espaço de à vontade e expectativa.

Já era fã.

sábado, 20 de abril de 2013

Elas é que a levam direita

Max de Castro - Samba Raro (Max de Castro)

Curvas, ondas, linhas reluzentes de brilho auto-bronzeador ou contro-bronzeador ou hidratante all day long. Meneios, folhos de saias, ou semi-saias sem sombras na calçada, "panturrilhas" (amorável vocábulo!) cheias de tónus e verve, cinturas impressionistas mas em magreza surrealista e cabelos curto-convincentes, ou imensamente esvoaçantes, ondulados ou liso-índigeno-sensual-escorrido. Olhos apressados, pés lânguidos, braços esbeltos e flancos ágeis. Bustos lentos, pela rua. Olores indecifráveis, que podem vir delas ou dos folhos ebúrneos de Primaveras cândidas.
 
Eis, supra, o quadro que arranca comentários ladinos, do trolha ao homem de negócios, do malandro perspicaz ao insosso distraído. A juventude, em geral, a firmeza carnal e as formas definidas emaranham devaneios e soltam a lírica frustre dos pobres a arder em deslumbre e falta de dicionário para descrever a fruição aos quatro ventos.
 
Claro que entendo estas fadigas. Qualquer um que esteta seja tem de compreender os rigores e as perturbadoras consequências da beleza e da energia magnética da juventude espaventosa.
 
Aproveito, contudo, para dar humildemente conta do que acicata a minha mirada contemplativa e invejosa, todo o meu despeito oblíquo, em boa verdade o meu olho gordo. Quem não sente não é filho de boa gente, n'est-ce pas?
 
Acontece quando as vejo, em pequenos passos de pomba, pelas ruas claras do bairro. Aprecatam-se, confortáveis e ledas e leves, a condizer com o dia soalheiro. As bolsas possuem todo o aparato necessário à sua beauty e às necessidades comezinhas do dia-a-dia. Porque cada dia é um dia. E, sei lá, se o dia. Sabem perfeitamente onde vão, subtilmente voluptuosas e apenas aparentemente não frenéticas. Voejam por todo o lado, enquanto os seus cabelos azuis, lilases, luminosos, mixed colours, arrastam consigo feixes de luz e apurada paz. O tempo por sua conta, os gestos sem a programação contínua das obrigações. As conversas duram segundos, ou horas, indiscriminadamente, numa liberalidade cool e everything friendly.
 
E depois, quando enfim se cansam do frio, ou do calor, ou do convívio com as gentes, recolhem ao inenarrável aconchego das suas moradas, ao desmedido prazer do choco. Leem, veem televisão, pintam, conversam com o preguiçoso, delicioso vagar. Dançam com as memórias no alto do seu Olimpo. Dormem soninhos de beleza, tomam chazinhos de cores fortes, onde molham biscoitinhos de outras eras, vestem indumentárias caseiras, floridas, leves, armaduras indefetíveis da sua beatífica onda. Numinosas gaiteiras. Azougadas, elegantes, luminosas, bem-falantes, argutas, amistosas e sorrateiras bailarinas diáfanas andantes. Mas muito reais.
 
São as velhas do meu encantamento, da minha paixão. E repetir não me cansa: elas é que a levam direita, as velhas. Chiques e plenas e leves e sãs. Elas é que a levam direita, e podem fazer o que lhes dá na veneta. Elas é que sabem da coisa. Super fã.

Uma pessoa sabe que tem kgs de interesse quando...

... sonha que a Paula Morelenbaum está a cantar uma canção do B Fachada.

Amo os dois!

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Elegância

William-Adolphe Bouguereau - The Wave (1896)
 
A própria palavra já exala uma aura de leveza, a um tempo finamente sofisticada e essencialmente natural.
 
Uma pose artificialóide e em bicos de pés (figurativamente, entenda-se), é muito pior do que um gesto naturalmente desastrado e ou palonço. Dentre essas duas margens a desenhar, precisar, colorir e, por que não, fantasiar um pouco, surgirá, viçosa, a flor da beleza de bem ser e estar.
 
O resto é treta, e era mesmo concluir em jeito de pirraça.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Cada vez Menos e cada vez Mais

Cada vez Menos tenho paciência para dar oportunidades de me sentir defraudada por certos entes.

Cada vez Mais procuro não me defraudar.

Cada vez Menos aceito estupidez.

Cada vez Mais tento não me consumir tanto com a estupidez.

Cada vez Menos há gente que não nos dececione.

Cada vez Mais procuro a redenção na minha interioridade, no meu espaço e tempo.

Cada vez Menos me sinto devedora.

Cada vez Mais sei que tenho de assumir as consequências do cada vez Menos - e não soçobrar por isso, se e quando coisas mais dificultosas ocorrerem.

Cada vez Menos suporto sem uma careta de desagrado o politicamente correto, e a politiquice baratéfila.

Cada vez Menos dou Mais sem restrições.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Pensamento Porto




Fernanda Porto na Musicbox
(Fotos de Zim)
Fernanda Porto - Pensamento 4 (Fernanda Porto/ Arnaldo Antunes)
 
E, mui jeitoso leitorado, a saga dos concertos continua e no fim-de-semana passado lá fui eu, em estréia absoluta pessoal na Musicbox. Fiquei um pedacinho siderada quando percebi a rua em que aquilo fica, mas dizem as boas línguas que o panorama se alterou muito para melhor.
 
Estavam poucas pessoas, muitos espaços vazios no pequeno recinto, e um som que deixou as artistas a desejar e muito. Porém, foi bom ouvir a energia sonora potente de Porto, a sua Drum n'Bossa jazzística cheia de charme, e a sua voz muito bonita.

Deixo acima a belíssima Pensamento 4.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Dá-lhe Dalai!

"O Planeta não precisa de mais pessoas de sucesso. O Planeta precisa desesperadamente de obreiros da paz, curandeiros, restauradores, contadores de histórias e amantes de todo o tipo." (Tradução de Zim)


Publicado no Facebook pelo meu querido Professor Carlos João Correia. Obrigatoriamente partilhável.
 
E, à laia de boa Agente Provocatrice, ainda deixei também no LinkedIn. É curar!

sábado, 6 de abril de 2013

A fatídica hesitação que pesa sobre Portugal Nacional

Quando uma pessoa hesita entre ficar sem subsídio nenhum e ainda carregar com o bruta corte de ordenado e a tortura de aturar o Seguro, isto é....
 
 
....
 
 
desespero tugolês.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Gente chata e lamurienta - e um pouquinho de Axê

- Estou siderada. Vou pós-corujar-me.
 
Pronto, já conseguiram que o Relvas se demitisse, ai, ui, já há um processo onde se apurou que, entre quase 400 alunos, um deles poderá ter-se licenciado à margem da lei. Cá a mim não há de moer a incólume consciência, uma vez que em boa hora esgrimi o direito à defesa do agora ex-Ministro, como bem poderá o meu sagaz leitorado aquilatar na pecinha relativa a esta insidiosa temática.

Agora um pouco mais a sério, confesso que sempre me irritou a veemência de "pegar" o homem "para Cristo", no meio de coisas tão mais graves. Obviamente que se a Licenciatura não é válida deve ser invalidada, e pronto. Ai, ui, o Ministro, o cursinho, os créditos, o catano. Para já, não tenho necessidade nenhuma de ter membros do Governo licenciados. Claro que se o forem terão muito mais possibilidades de ter uma abrangência maior no domínio da vastidão (como sabemos incomensurável e quase metafísica) dos assuntos a resolver, mas para mim um grau académico superior está longe de ser essencial, ou a medida da qualidade política. O mesmo, é bem certo, não deve dar-se jamais com a honestidade, pelo que o seu a seu dono, e a horas. Cem por cento de acordo. Só que, meus caríssimos, todo este chilique coletivo com a Licenciatura do Relvas me irrita, e reforça a minha convicção de que as gentes são mesquinhas e de que adoram presas fáceis e grandes verdades superficiais, preferindo manter-se cegas e surdas a questões cuja profundidade certamente lhes maça as extensões de cabelo. E a Lusófona, responde ou não responde pelas trapalhadas? É que a culpa maior é de quem oferece os servicinhos, vero?
 
Vá lá, uma notícia interessante, a Daniela Mercury casou em Lisboa com uma jornalista baiana porque esta Pátria tristonha, apesar de tudo, tem dado passos inportantes numa questão tão básica dos direitos humanos individuais (ainda que australopitecamente ainda não se autorize a adoção por pessoas do mesmo sexo). Saravá!

De lascar

Ai, como dizia o Poeta, o prazer " de não cumprir um dever"!... Ultimamente tenho acordado a pensar que, se um dia tiver a grata surpresa de ganhar um opíparo Euromilhões, não me levanto antes da uma da tarde. Qual Linda Evangelista e os seus milhares reclamados para se levantar de manhã. Pensando bem, também seria o diacho, fiquemos pela hipérbole da coisa.
 
Mas como evitar o pensamento de que há tanta coisa enfadonha, e tanto sono, e cansaço, e de que as pessoas nos maçam aflitivamente - não todas, valha-nos isso, e nem todas ao mesmo tempo.
 
Depois, certamente, temos os nossos espaços acolhedoro-redentores, seja a casa, sejam companhias, gostos, pequenos prazeres... E os dias correm e amiúde nem medimos (e será possível fazê-lo?) a importância desses lapsos salvíficos de tédios, canseiras e desapontamentos. Porque, leitores argutos, não se trata só do spleen do quotidiano, do bocejo perante o expectável, da monotonia das nossas ruas e do desfecho muito idêntico dos nossos dias. Passa-se que esta grande bola cósmica caminha, ou rebola, ou empanca, desabaladamente, ou estupidamente, em processos de tanto escândalo, de tamanho mau gosto e de tão destrambelhada maldade e injustiça, que a incansável chibatadora que reside dentro de mim não teria mãos a medir. Aliás, como costumo dizer, mandasse eu alguma coisa e teria uma bala na cabeça em duas horas: atentado por atentado (meu) ao despudor.
 
Leiam e vejam bem: isto é o aborrecimento de uma Diva, uma parcela de desolação existencial de uma daminha que, não obstante a sua própria dimensão mimosa, tem uma fera enjaulada e injuriada dentro de si.
 
E que bichanos vos habitam?