terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Feliz 2015!

Ágata

 
Formosos leitores, autênticas ágatas como a belíssima que tão bem ilustra este bilhetinho, já sei o que vão dizer. Que eu saio para comprar chocolates e não volto, que admito, sim, que a Alegoria é errática mas que se espera possa sê-lo um poucochito menos e depois pumba, um ano com menos de 50 posts, o mais despovoado deste blog intermitentis. (Oooops, lá tive de interromper pois recebi SMS com novidades das boas de uma querida amiga...ai, a vida múltipla, a vida surpreendente!)
 
 
Mas voltando ao tofu frio: não é bem como dizem, na verdade o meu coração está sempre convosco. A propósito, tenho de agradecer muito aos resilientes visitantes que continuam a frequentar esta saleta apesar da ausência prolongada da anfitriã: obrigada, muito!
 
 
Espero para o ano ter mais disposição para escrever (voltar a usar o portátil, que o tablet para escrever longamente não dá para mim), para ler, para fazer coisas de que gosto e para descobrir outras novas.
 
 
E por isso vim aqui hoje, desejar-vos um ano novo maravilhoso, embrulhadinho com grandes laçarotes cor de rosa, e que se mantenha no seu decurso o entusiasmo da sua chegada! Recebam-no como um delicioso bombom!
 
 
Muita saúde, paz, amor, e que dê para o gasto!
 
 
Abraços e beijinhos tamborínicos!
 
 
Deixo-vos com este belo poema da Sophia de Mello Breyner Andresen, que li ontem, e que tão bem se adequa a este momento de passagem, sobretudo simbólica:
 
Revolução
 
Como casa limpa
Como chão varrido
Como porta aberta
 
Como puro início
Como tempo novo
Sem mancha nem vício
 
Como a voz do mar
Interior de um povo
 
Como página em branco
Onde o poema emerge
 
Como arquitectura
Do homem que ergue
Sua habitação
 
27 de Abril de 1974
 


quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

O mundo é assim tão pobre?

Muito comovente a história contada pelo outro laureado com o Nobel da Paz, Kailash Satyarthi, interpelado há uns 20 anos por um menino magricelas nos Himalaias: " O mundo é tão pobre que não me possa dar um brinquedo e um livro, em vez de uma arma ou ferramenta?"
 
Parte-nos em vários estilhaços.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Barro

Poeta-esplendor, Poeta-pássaro, Manoel de Barros
 
 
Terra, à terra voltamos.
 
Desde ontem, dia 13, o mundo ficou mais baço. Repararão num trinar mais modesto da passarada, um esmorecimento nas cervicais da flor, uma redobrada palidez das pétalas.
 
O mundo fica menos enigmático, mais nu e frio dentre toda esta chuva, num distar lacrimoso do Verão.
 
Voltei. Tornei para afiançar que os versos ainda por nascer já mirraram, que as
possibilidades escondidas desmaiaram um pouco mais pelo chão, um pouco mais não sendo.
 
Ao barro.
 
Desde ontem, há um embargamento alojado em alguma parte da minhas entranhas, talvez do âmago, dos ombros, pesados de não haver. Do pouco que li, que foi tanto. O suficiente, para saber que desde ontem as aranhas não brilham nem se aplicam da mesma forma, a letra não tem a mesma forma, os idiomas caminharam no sentido inverso ao coração, as metáforas desmantelaram-se em luto, cheias de sono, adormecidas numa praia com a lua apagada.

Morreu Manoel de Barros.


O apanhador de desperdícios


Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato
de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.


Manoel de Barros

sábado, 20 de setembro de 2014

Parabéns e Abraçaço!

Caetano canta Parabéns no seu lindo Abraçaço



Pois algodónicos, ninguém o diz mas já lá vão 3 anos de Alegoria da Primaverve, nado a 20 de Setembro de 2011. Mesmo com intermitências, apesar das suas maluqueiras, das suas maleitas cerebrais, dos seus desconchavos, é sempre comovente a fina camada de sabedoria e extrema sensibilidade que perpassa nestas etéreas páginas homéricas.
 
É uma sensação um pouco estranha porque, se por um lado, o tempo voou e voa, parece que estou aqui convosco há muito mais tempo. Com os textos, com a Jangada Poética lateral, com todos os separadores de cima com tamborínicos rastros.
 
Nada melhor do que comemorar com o que é para mim o maior artista vivo - e bem vivo! - , Caetano Veloso. Intimamente, e nesta canção, agradeço a todos os magos que me inspiram e vão salvando: músicos, cantores, pintores, realizadores, criadores, talentosos fofoqueiros, amigos e, principalmente, aos meus fiéis e maravilhosos leitores. A si, leitor, a si, leitora, em qualquer canto do mundo onde esteja.
 
Estamos juntos.
 
Beijinhos e abraçaços, e grata milhões.
 
Parabéns Alegoria!

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Eu no Ciência Hoje

Ao deixar a Gestão de Ciência e a Tecnologia (mas não a Gestão de Administração Pública, acalmem-se, estruturas da Nação!), deu-me para escrever este artigo simples mas creio que bastante significativo para o Ciência Hoje.
 
Psssssst, espie, leitor d'aquém e d'além mar! Estou à sua espera entrelinhas.

sábado, 13 de setembro de 2014

Um elixir feliz



Odette Toulemonde (Lições de Felicidade em português) - trailer


Odette Toulemonde encarna a alegria leve de um espírito simples e delicado, na sua vida organizada e fisicamente apertada, nos seus trabalhos regrados, na generosa atenção que vota aos outros e ao facto, por acaso não um pormenor, de estar viva. Odette sabe ser arrebatável, e continuo a achar que esse é o prumo seguro, o rumo desejado, a rota mágica da nossa sobrevivência maior, para lá da vida de todos os dias - a farinha, o açúcar e o sal da nossa demanda de felicidade.

Esta mulher, cujo sorriso nos inunda a existência, acaba por ter a oportunidade que sempre desejou: conhecer o seu escritor preferido, o que lhe tira os pés da terra, o que toma como seu pessoal salvador. Escritor de massas e boa pinta, não atravessa porém o melhor dos momentos, e é entre tensões, apreensões e simplicidades complexas que os seus caminhos se encontram face a face. De que valem os estereótipos na literatura e, mais ainda, na vida?

Um filme franco-belga delicioso e com um comovente perfume de surpresa, escrito e realizado por Eric-Emmanuel Schmitt, e interpretado por uma esplendorosa Catherine Frot, que bem prova não terem a beleza e a frescura qualquer data de validade credível. Credíveis são os olhos dela, credível é a imagética feliz desta história.

Não percam, há na FNAC baratinho. Deixo o trailer.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Como inundar uma cozinha


- Zzzocorroooo!!!...


De boas intenções está o inferninho apinhado e é bem certo, e eu que o digite, leitores empáticos, eu que o digite.

Houve obras no apartamento ao lado. (Em breve, também as haverá, essas harpias medonhas, no prédio inteiro, mas sobre isso quem sabe, com o tempo, outros posts se levantem.) Resumindo, achou-se por bem retirar as lindas plantas que tínhamos nas escadas, para não estragar o soalho novo que foi posto no dito cujo andar. Claro que ressabiei, sobretudo interiormente. Que se dane/wjrh394o/34 bc23 o i84cncgbc/dpçdldd/ jhfjerr do soalho! E a beleza luxuriante que todos os dias sorria esgaçadamente para mim ao subir as escadas, ao chegar a casa, ao felizmente meu querido último andar? Agora nada, é a lisura, o minimalismo no seu melhor, no seu maior, mas pelo menos o soalho fica intacto. Isto por causa da água das regas, etc.. Tudo bem. No fundo, o problema seria livrar-me de dois vasos enormes, um deles com uma planta enorme, alta, larga, folhuda, e o outro vaso (mas também enorme), com uma plantucha altinha mas para aí com uma folha e meia. Os dois pesadões. 

Importunar os senhores das obras, mediante um pagamento simbólico, para arrojarem com os vasos era uma hipótese, mas que não tive coragem de levar a cabo. Não me largava a ideia de que não tinha nada de aborrecer os trabalhadores de outrem com os meus dramas. Possuída, como habitualmente, por uma ideia palpitante, brilhante e fritante (e como a mesma me fritou!), resolvi-me a colocar as plantas na cozinha com a ajuda do tapete da entrada. Uma a uma, depositei-as no tapete, cujas pontas depois puxava, comigo obviamente de cócoras, até pertinho da janela da cozinha, para o soleil, para o solene bem-estar vegetal. Certo. Não fosse mal poder mexer-me entre as duas plantas, a despensa com o escadote encorpado preso na porta, as estantes dos sapatos e a máquina de lavar roupa. Tinha uma visita a fazer à minha querida amiga M. e à sua encantadora filha MM., minha sobrinha de coração. Atestada a exiguidade do espaço, resolvi dar um empurrãozinho à referida máquina de lavar. Ajoujando um pedaço o elemento, aumentava-se (ligeiramente) o espaço e senti-me um perfeita dona de casa e uma pessoa apta à imponderabilidade do aperto. Satisfeitíssima, pus roupa a lavar. Saio pela casa. Volto à cozinha...

Antes de entrar na cozinha, avistei, apavorada, uma maré de água a aproximar-se perigosamente do soalho do corredor. Entro na divisão: "água água água pra lavar a sede dessa multidão/ água água água pra lavar a alma e o coração", como canta a Daniela Mercury. Água! E mais água! Água a crescer, a avançar, a invadir. Precipito-me para a máquina, aborto-lhe a operação trituradora. Olho para trás do mostrengo, e percebi toda a origem do drama: ao empurrar a máquina, o tubo/borracha desprendeu-se da parede e, portanto, tudo o que entrava na máquina... saía para o chão, qual natural fontana das trevas! O horror, o exaspero. Tratei de ir buscar balde e esfregona, mas os meus tormentos mal tinham começado. A água acantonava-se, em resistência ibérica, atrás da máquina, e era impossível solucionar o caos se não fosse atacá-la na fonte. Claro que... empurrar é bem menos custoso que puxar, ora bien! Mas puxar, meus amigos, era o que me restava. Como puxar, porém, uma máquina maior do que nós, mais larga do que nós, mais possante do que nós? Ah, ah, mas não mais teimosa! Lá me agarrei aos ângulos da sinistra, eu própria angulosa, eu própria sinistrada, puxando como podia a máquina para a frente, ou simplesmente seria impossível retirar a água, que teimosamente refluía lá para trás. E era ancada para um lado, e mãozorras por outro, e suspiros e encontrões; dentre tais exercícios, o espaço entre a máquina e a parede proporcionou-me um campo de manobra impiedosamente mínimo, mas ainda assim um campo de manobra. Probleminha... acima da máquina temos uma estante em madeira, e acima desta um armário. Havia, portanto, que adestrar com fina sabedoria a capacidade do esgueiranço. Sento-me na capivara, voltada para a frente, agacho a cabeça e o torso o mais que posso, sucedendo-se um bolshoiniano rodopio de ambas as pernas em direção à parede. Rodo, portanto, sobre mim mesma, descabelada, exausta, cansada e atrasada, e esgueiro-me para o buraco, onde obviamente não conseguia permanecer de pé. Com a esfregona, balde, vassoura, faço o meu melhor. Quase urrei: parem as águas, ao invés de as separar. Com mosaica resiliência, e verificando que era debalde que o balde se esforçava só com a esfregona, voltei a pular para cima da máquina, desta feita virada para a parede, rodopio sobre mim mesma, reviro-me, bufo, esbravejo, bato com os braços, faço nódoas negras, e salto para o chão em busca de toalhas turcas. Muitas, várias. Espalho por todo o chão, levo um monte para a máquina. Volto a pular, a rodopiar, a acachapar, fico no buraco a mandar cabeçadas, a soltar imprecações e a atirar toalhas turcas para o chão, e a torcê-las. A torcê-las como ao pescoço da máquina, a pôr-lhes a alma para dentro do balde. Mas ah!... A água era tanta! Não chegavam as toalhas. Salta, rodopia, escorrega, chão, mais toalhas. Bingo, ideia-luz: fui buscar lençóis polares. Sim, lençóis polares! Bela absorção, tamanhaço convincente, avante camaradas, pula, bate com a cabeça, rodopia, etc.. Esgotada de água sobre água, rodeada de água por todos os lados, e depois dos turcos e dos polares, tiro as próprias calças de pijama que tinha vestidas e atiro-as também para o chão. Todo o tecido é pouco, e quem o não aproveita é louco. Bah, baf, sim! A repetição desta gestualidade frenética funcionou, e aos poucos, e com grande intensidade depositada na cena, venci as águas.

A conclusão do assunto passava por voltar a pôr a máquina lá para trás sem dar cabo do tubo outra vez. Estava descabelada, encharcada, exaurida, atrasada (mas já tinha remarcado), sem forças, ah... mas elas vieram. Agachei-me, e foi um dar graças aos glúteos gigantescos, e um agradecer mentalmente às pernas entroncadas e à fortaleza-delicada da coluna, e à resistência corporal que a minha vertente campestre me deve ter enxertado... Às calorias em reserva, à força bruta que sempre dá um arzinho da sua graça quando necessária. E foi rabada, ancada, pernada, tudo eu e toda mim para cima do instrumento... Mas com medida delicadeza, com ansiosa espera pelo seu exato mover, para que não se reproduzisse o drama, para que o tubo/borracha não alterasse o seu lugar na ordem do mundo. E dando graças pelas centenas de kms que mantinham a Mana afastada do cenário fairy tale... Foi duro, mas consegui.

Bafffffffffffffffffffffffffffffffffff.

Depois foi tirar água dos armários dos sapatos, repor cartões molhados no lugar, minimizar as provas do crime.

(A trasladação das plantas acabou por ser feita também por moi même, mas noutra ocasião (queriam o quê?!), e tratou-se de jungir o vaso ao meu corpo, e de descer os 3 andares como uma anormal, como se a planta me fosse um apêndice. E repetir com o segundo vaso. E oferecê-las à minha amiga e vizinha do rés-do-chão. E certamente tomar analgésicos depois.)

Ainda fui fazer a minha visita e outros afazeres externos. Mulher moderna, mulher moderna - que canseira, e que grotesca invenção!



domingo, 31 de agosto de 2014

Mirai a barrinha, escutai o silêncio..

... o perfurante silêncio de Hilda Hilst, felizmente publicado na excelente página Templo Cultural Delfos.
 
Atente, leitor, e releia.

Assim gira a bola azul

Foi esta a foto


A gente roda muito, pouco ou mais ou menos em passeio pelo mundo, intra ou extramuros, é mundo na mesma, mundo igualzinho, e bastou ver agora uma fotografia linda da página do FB Just Lovely, amantíssima da natureza e mui inspirado lugar online, para que o pensamento me voejasse.
 
Pensei nos veados, nos leões no Krueger Park, a esta hora a passear, ou a descansar, ou a evitar as ávidas lentas dos deslumbrados turistas como eu. Na Avenida Atlântica, o tráfego de sempre de beleza e gosto de estar à beira mar e à beira Rio. Em Veneza, uma foto deve estar a tirar-se timidamente, de costas para a lagoa de S. Giorgio, e fotos espalhafatosas flasharão em frente a S. Marco. No Gerês, caminhantes solitários e gregários suam, sob o mesmo sol, encadeados de fascinação e ar puro, no Porto a Ribeira estará colorida e cheia de cores, com sol e com alguém a fumar, alguém a beber água, alguém à espera do seu almoço, outro alguém a perscrutar um mapa a antecipar o que lhe reservará a tarde em descobertas e palmilhares. Em Serralves, alguém estará encantado com a exposição do Marwan, como eu estive, e noutras salas alguém rirá muito, como eu também, mesmo que para dentro por vergonha. Em Paris, o Sena brilhará, um pouco fatigado do bulício do Verão, mas sempre a dourar, a dourar. Numa rua de Jaipur, pessoas coçam-se no passeio inexistente e meninos lindos riem e correm.
 
Nem quero pensar nem evocar as infelicidades de tantos outros lados, contíguos ou muito distantes  dos citados. Como sobreviver sem egoísmo?
 
Assim vai a bola, apenas um berlinde em mãos misteriosas.

Zim, estou aqui!


- Zou eu!..
(Foto de Zim)

Pareceu-me ouvir uivos do alto de inacabáveis montanhas, penares de mil almas folhadas a arrastar-se dentre indecifráveis breus, nevoeiros adensando-se em augúrios temíveis, todo o Verão fora. E as vozes, e os uivos, e as brumas bramavam, gasosas, tenebrosas, saudosas:
 
- Zzzzzzzimmmmm!....
 
- Onde estás?.....
 
- Ao menos o corpo para velarmos em paz!.... Zimmmm!...
 
Calma, mundo, aquiete-se a vozearia e sane-se de imediato a lancinante chaga nos Vossos bondosos corações.
 
Voltei, ou melhor, estou aqui. Não sei por quanto tempo, nunca sei. Esta Alegoria  é uma alegoria, e o meu tempo e disposição não são de profissional. Antes, é puro amadorismo, puro diletantismo, total primavervismo a gasolina ecológica deste lugar. Mas ah, algodónicos e preciosos leitores, quando estou, estou por supuesto inteiriça, cada post me traz, cada ponto final me leva, mas tal qual a maré. Por falar nisso, já ouviram o Vista Pro Mar, do Silva? Sim? Sublime, não? Não? Não se façam isso, está disponível no Youtube mas o disco merece ser comprado, e sobretudo nós merecemos escutá-lo como se o bebêssemos.
 
Tantas coisas se passaram, decerto nenhuma mais importante que os banhos públicos (bahhhhh...tristeza quando a solidariedade tem de funcionar deste modo apalhaçado), o Mundial (por falar em tristeza), a Primavera que decorreu sorridente, quase todo o Verão... Novidades tamborínicas de que em breve darei conta geral, as férias, a minha primeira ida ao Ermida Gerês Camping, dois anos e doiddias depois de abrir... e voltei lá duas vezes desde Junho! E mais viagens pelo país, cujos retratinhos também deixarei por aqui, porque o solo nacional merece ser calcorreado. Reencontro da cidade amada, visita a novas cidades e lugares... muitos comboios, muitos passeios campestres, algumas excelentes leituras. Sim, mais houve depois do Ulisses! Sabores de bradar aos céus do palato, um espaço encantador de um casal ainda mais encantador, de que em breve falarei com detalhes de bem querer em forma de entrevista...  O meu próprio aniversário esse advento cósmico, cosmogónico e mundial, oh sim, trinta e oito séculos que voaram. E que mais?
 
Estimados leitores, é muito bom voltar a falar-vos, amo saber que estão desse lado a seguir as minhas maluqueiras e snobismos, e é com espantado prazer que verifico que, mesmo em meses em que nada escrevi, as visitas são muito interessantes! Obrigada Estados Unidos, o segundo país, a seguir ao nosso Portugal, que mais lê a Alegoria, obrigada Brasil, e a todos os outros amigos leitores. Estamos aqui. Inteiramente, e por agora. Assim é a vida, camaradas, assim é a vida: inteiramente, e por agora; brinde a que por muuuuuito tempo.
 
Brinde à eternidade!

Ah, que coincidência, vi agora no FB d' A Pipoca Mais Doce que hoje é o dia internacional do blog... eh bien, excelente para voltar, três meses depois!

sábado, 31 de maio de 2014

Na peugada da beleza



Zinzinhos felizes
(Fotos de Zim)
 
 
Beleza no conceito, beleza nos materiais, beleza na forma, beleza no pisar, beleza no design, beleza no estilo, beleza no serviço, beleza em toda a parte da NAE (No Animal Exploitation). 
 
Vegan e preocupada com a não exploração ilícita da mão de obra, esta empresa portuguesa, da qual sou fã confessa e que me continua a surpreender com os seus modelos e técnicas só adquire produtos em países em que, no que seja possível controlar, a referida exploração não se verifique. A ética  e a confiança, desde a conceção, passando pela produção e até ao consumo constituem as meninas dos olhos deste projeto encantadoramente belo e que gera beleza.
 
Acima, as minhas novas paixões, compradas há muito poucos dias! As botas para a caminhadas campestres, os sapatos... bem, para a própria da lua, de tão lindos. Cortiça I love you.
 
Relembro a entrevista que fiz à Paula Pérez, fundadora, há uns anos, para o Ciência Hoje.
 
Brinde à beleza que alegra a vida!

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Silva, Vista Pro Mar - É favor parar tudo, preciso dizer o quanto amei

 
É Preciso Dizer foi a primeira do disco a apaixonar-me, com esta batida que cai como... cacau, festa, avião a jato, sei lá... 
 
 
Meus caros, há aqui "acontecência", e da melhor. Já tinha ouvido desatentamente uma música, e ouvi falar muito bem. Mas hoje, sabem, hoje, a doçura das coisas presentes e que, revelando-se, também nos reinauguram. Hoje fui à FNAC e atraída pelo destaque, pelo nome, pelo título, pela capa, quis ouvir um pouco. Trouxe-o, evidentemente, comigo.
 
Este novo disco do brasileiro Silva, Vista Pro Mar, foi lançado num ainda jovem 2014, com gravações em Vitória, no Brasil, e Lisboa, Portugal. Quem faz isto aos 25 anos já tem de ser um músico gigante. Nem sei por onde começar.
 
Vista Pro Mar é uma arquitetura sublime em cada faixa e no seu todo, uma prodigiosa engenharia sintetizadora da mais cativante e elegante eletrónica e do intemporal, perfeitamente tangidos pela voz tão bonita de Silva, ora distante ora bem perto do nosso ouvido. Tem a modernidade em flecha e um travo enxuto dos 80's, num torvelinho emocionante difícil de conter. Silva disse que queria um disco com "cara de praia". Sim, mas é muito mais do que esta aparentemente simples alusão poderia deixar supor. Este disco é um mar a invadir-nos os olhos e todos os sentidos, desde a frescura levíssima do Báltico não se apossara de mim uma tamanha sensação marítima de aventura e delícia. Vista Pro Mar inclui mergulhos no mar, léguas liquefeitas num prazer sofisticado, alegre, contente e extasiado, cheira a maresia, protetor solar, sabe à nossa comida preferida, queremos usá-lo como um vestido leve e ser astronautas em Terra. É uma vela a içar-se, um barco a partir e abraços carnais cheios de risos. É um azul que se dilui em exultação muscular, em elixir existencial, em turbina, em altifalante de criaturas feéricas e urbaníssimas, o sol a estalar, como pão quente, a apascentar a sua bênção nas paredes das casas. É eletricidade lunar. É uma manhã interminável, um dia com a justa isenção das horas. Justa como o exato virtuosismo de Silva. É a dança infrene da espuma das ondas e os gritos das gaivotas. É o corpo reunido ao sonho e elevado ao prazer num marulhar beatífico de extra ultra luxuosa e sugestiva impressão. É uma felicidade.
 
Proibido perder isto.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Obrigada leitores deste Mundo!

Apesar do caráter irrequieto e errático deste blog, tenho verificado um crescimento de alguns públicos, e fico muito contente quando vejo que Estados Unidos, Ucrânia, Rússia, Suécia, China, Holanda, entre outros, aumentam o seu número de leituras, ou as inauguram. Grata muito ao meu Brasil querido, e ao meu querido País, Portugal, que naturalmente lidera o ranking dos leitores.
 
Estamos juntos, obrigada!

Ulisses

 
 

Foto de Zim
 
 
Começo por admitir as minhas falhas quanto à literatura clássica: não li a Odisseia na qual Homero, ou outro(s) por ele, narra as aventuras de Ulisses.  Ilíada sim, foi escrupulosamente lida até ao seu término. A duras penas, mas nos meus 18 anos que sabia eu de leituras realmente difíceis.
 
Do que eu me recordo, tive três grandes intentonas literárias, no sentido de terem representado um esforço hercúleo (seguindo na matriz clássica) para prosseguir e concluir a sua leitura: Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, Ontem não te vi em Babilónia, de António Lobo Antunes, e Ulisses, de James Joyce. Dos três,  a minha preferência vai integralmente para o primeiro, apesar da estrondosa dificuldade que  coloquialidade sertaneja da narração impõe - um peso pesado, mas uma maravilha. O livro que refiro de Lobo Antunes foi o único seu que li, a justaposição permanente de episódios, discursos, reminiscências, fizeram desta uma experiência de leitura interessante e intrincada, mas muito incompleta e baralhada. À última obra citada (com o peso de mil construções graníticas!) acabei-a ontem.
 
Comecei a ler Ulisses (que comprei por impulso ao ver a bonita edição da Relógio D' Água, lançada em Novembro último) nos últimos dias de 2014. Das poucas vezes que lhe peguei desde o início do ano dei-lhe uns bons avanços. Não interrompi com outra leitura: o sacrifício impôs-me uma fidelidade pragmática. Este foi, sem dúvida, o livro mais difícil de ler, para mim, até hoje. As razões são várias, e dada a natureza da sua escrita, aliás, das suas escritas, até a sua dimensão, umas potentes 730 páginas, dá uma ajuda para exaurir o leitor. Mil saravás ao tradutor, Jorge Vaz de Carvalho, porque deve ter sido absolutamente exasperante, talvez tanto quanto fascinante, traduzir o inglês, o inglês-onomatopeico, o inglês-doidivanas e o inglês inventado de Joyce. Joyce parece, com efeito, pretender enlouquecer-nos, levar-nos por um labirinto de horrores, de truques filológico, de detalhes sordidamente despropositados, deslocados, mas que de ínfimos e presentes findam por autenticar o mundo que descreve, ou melhor,  narração em que nos arrasta, de uma forma muito peculiar. Hoje percebo bem a importância do livro, a razão de ser uma referência, e para muitos o instaurador do romance moderno: não creio, de facto, que o arrojo, que as diabólicas tropelias de Joyce tenham lugar em muitas obras editadas. O fôlego, a perdição e a obstinação, quase irracional, da sua porfiada demanda de cenários. O autor demorou sete anos a finalizar Ulisses (1914-21) mas a história passa-se num único dia, em Dublin. Não há um grande enredo, como de resto costuma suceder nas minhas histórias preferidas. Há três personagens que se destacam, na proa Leopold Bloom, e contam-se encontros, conversas filosóficas, conversas ébrias, desconexas, mutações de seres que julgamos oníricas (mas, naquele contexto, naquele texto, ao sabor daquela pena doida, por que não reais??), uma jornada atribulada entre dois homens de diferentes gerações, as fugas de si de Bloom, talvez sobretudo para trás, os seus ideais e as suas peias, e a figura velada de Molly Bloom, apenas cruamente autorrevelada no final da história. Ao longo de diversos capítulos com estilos literários muito diferentes, está presente uma relação com a Irlanda, uma espécie de convocação da gesta antiga, esta, e uma certa vontade de emulação épica da Inglaterra. Uma obsessão de menção religiosa  malcriada de Joyce, provocadora, execrável também, na boca de alguns personagens (o que, entre outros detalhezinhos do livro, lhe valeram uma adicional Odisseia quando se tratou da sua publicação, com tribunais ao barulho, o costume), a loucura alienada, a sexualidade latente e, por vezes, fremente das figuras que desfilam ao som da dissonante sinfonia do autor. Uma pequena peripécia, cheia de enormes pequenas histórias. Dizem os críticos que  organização da obra pretender representar, no seu estilo, as diferentes fases da Odisseia. Disso, como vos disse, não posso falar. Mas posso dizer-vos que achei logo que a Beat Generation, da qual sou uma fã entusiasta, tiveram de ter tido uma inspiração Joyciana tempestuosa, e fiquei contente por ver que um dos críticos literários, quando do lançamento de Ulisses, afirmou que depois de Whitman não lera nada assim. Sabe-se da referência de Whitman nos beats...
 
Não foi, e duvido que alguma vez se torne um dos mus livros preferidos. Duvido, mesmo, que o queira reler. Talvez, daqui a vários anos,  como exercício literário-cerebral-ginasticante. Até porque o desentendo, mais do que entendo. Para mim a forma é essencial no romance, e na maior parte das vezes a forma de Ulisses desagrada-me. Há, no entanto, rasgões geniais, percebendo-se que o autor dominava com absoluta excelência a arte da escrita refinada, elevada, que sai numa correria poética desenfreada e que nos deixa, naqueles momentos, encantados. Mas não era essa a maneira que entendeu contar-nos toda esta história. Ulisses é um pugilato literário, uma luta estrénua para ser escrito e para ser lido, e se Bloom sua as estopinhas quem somos nós, leitores audazes, para não passar pelo mesmo?
 
Deixo alguns excertos abaixo. Aventurem-se, quando vos apetecer. Respirem fundo, e força.


"Rapazes, é agora. São 12 e 25 hora de Deus. Digam à vossa Mãe que vocês lá estarão. Despachem-se com o vosso pedido e jogareis o ás de trunfo. Alistai-vos aqui mesmo! Reservai bilhete para a eternidade, trajeto sem paragens. Só uma palavra mais. Sois deuses ou uma cambada de imbecis? Se o segundo advento chegar a Coney Island estamos preparados? Florry Cristo, Stephen Cristo, Zoe Cristo, Bloom Cr...isto, Kitty Cristo, Lynch Cristo, depende de vós sentir essa força cósmica. Estamos com miúfa do cosmos? Não. Fiquem do lado dos anjos. Sejam um prisma. Vocês têm aquela coisa dentro de vós, o eu superior. Podem ombrear com um Jesus, um Gautama, um Ingersoll. Vocês estão todos nesta vibração? Eu digo que estão. Uma vez que saquem isso, congregação, uma passeata até ao céu torna-se algo trivial. Entendeis-me? É um abrilhantador de vida, asseguro-vos. O que de mais excitante já existiu. É uma torta inteira com doce dentro. É simplesmente a linha de saída mais catita e animada. É imensa, supersumptuoso. Restaura. Vibra. Eu sei e sou uma espécie de vibrador."
 
 "Você morre pelo seu país, digamos. (...) Não que eu lhe deseje isso. Mas eu digo: o meu país que morra por mim. Até ao presente foi isso que ele fez. Eu não quero que ele morra. Que se dane a morte. longa vida à vida!"
 

" - Não podemos mudar o país. Vamos mudar de assunto."
 
 "Porque havia uma frustração recorrente de o deprimir mais?
Porque no ponto crítico decisivo da existência humana ele desejava corrigir muitas condições sociais, o produto da desigualdade e da avareza e da animosidade internacional."
 

" Que afinidades lhe pareciam existir entre a lua e a mulher?
A sua antiguidade em preceder e sobreviver a sucessivas gerações telúricas: a sua predominância noctuna: a sua dependência satelítica: o seu reflexo luminar: a sua constância durante todas as suas fases, erguendo-se e pondo-se às suas horas marcadas, crescendo e minguando: a invariabilidade forçada do seu aspecto: a sua resposta indeterminada à interrogação não afirmativa: a sua potência sobre águas efluentes e refluentes: o seu poder de enamorar, de mortificar, de conferir beleza, de enlouquecer, de incitar e auxiliar a delinquência: a tranquila inescrutabilidade do seu rosto: a terribilidade da sua isolada dominante implacável resplandecente propinquidade: os seus presságios de tempestade e de calmaria: o estímulo da sua luz., do seu movimento e da sua presença: a admonição das suas crateras, dos seus mares áridos, do seu silêncio: o seu esplendor, quando visível: a sua atracção, quando invisível."
 
"(...) oh e o mar o mar carmim por vezes como fogo e os esplêndidos poentes e as figueiras nos jardins de rosas e os jasmins e os gerânios e os cactos e Gibraltar quando eu era rapariga onde eu fui uma Flor da montanha (...) e depois eu pedi-lhe com os olhos para pedir de novo sim e depois ele pediu-me se eu queria sim dizer sim minha flor da montanha (...)."


sábado, 17 de maio de 2014

Bikanal

 



Escolhas tamborínicas

Não se tratou de uma bacanal, mas de uma verdadeira bikanal. Onde?, perguntam os mus mimosos e afogueados leitores. No El Corte Inglês, onde hoje me deu para ir depois de muuuuuitos anos. Passei por lá umas ótimas horas, e gostei de ver que, entre coisas caras de dar dó, há muitas coisas a excelentes preços também, e foi isso que aproveitei.
 
Entre as aquisições, contam-se as de bikinis. Sim, a vossa Zim perdeu umas toneladas e já concebe bikinizar-se novamente. Não que antes não fosse o que usasse. Bom, mas isto tudo para vos alertar que o 7º piso do El está cheio de bikinis e fatos de banho de todos os tamanhos, feitios, cores, padrões e preços. E deliciosos! Por isso, e sem publicidade alguma que não gratuita, espicaço as queridas leitoras a voejar por lá.
 
Dois dos modelos que comprei, da giríssima coleção da Sfera, acima, para vossos venturosos olhos.

Quanto ao supermercado do El, pois bem, foi a primeira vez que visitei: deslumbre! Muita oferta biológica e muito razoável presença vegan. Brindinho.

domingo, 4 de maio de 2014

Amar Portugal

 

(Portugal - Foto de Zim)
 
 
Continuando no meu internamento campestre, com vários passeios deliciosos cada dia, ocorreu-me hoje o que, em boa verdade, me tem vindo sistematicamente ao pensamento nos últimos tempos: como não amar Portugal? (Ok, e a Espanha, a França, a Itália, o mundo, mas...) Numa curta estadia na Dinamarca, em conversa fortuita com uma simpática local e com direito a uma sessão fabulosa de jazz onde ela não ia há séculos, diz-me a senhora do seu país que não tinha a diversidade do nosso. Acreditei piamente, pois fiz uma viagem de comboio até Helsingor (famoso local shakesperiano), e a natureza pareceu-me bonita e monótona, na sua direiteza verde, na ausência de incidente orográfico, na discrição dos efeitos da paisagem.

O nosso pequeno País consegue concentrar em si um delicioso punhado de uma generosidade estética incrível. As maravilhas do Douro, as fragas e as serras, os rios e os regatinhos, as curvas e contracurvas transmontanas, a doçura montanhosa do centro, as nossas latadas, os nossos carvalhos, o nosso pinhal, as festas da aldeia, a poesia da lezíria, a imensidão alentejana, os mares sem fim e as fofas areias algarvias. As nossas aldeias de pedra, as nossas cidades de luz, as nossas quatro estações e a delícia do nosso sol e céu azul! Os nossos costumes brandos, às vezes de endoidecer qualquer um, mas muitas vezes gentis e solidários. O nosso património literário de infinita beleza e impressão, impressão queiroziana, camoniana, camiliana, pessoana, andradiana, o'neilina, breyneriana, carneiriana, jorgiana, saramaguiana, fonsequiana, rosiana, garrettiana, pascoaesiana, borgiana, rodriguesiana, migueisiana, tantas mais anas! Os semblantes inesquecíveis de Teixeira Lopes, para sempre esculpidos na sua saudade, o sol frutado nas telas de Silva Porto, a demanda de Amadeo Sousa Cardoso, a avalanches retas e errantes de Vieira da Silva, talentos musicais (muito menos do que gostaria, mas puríssimo luxo quantos existem maiores) como Madredeus, Teresa Salgueiro, Sérgio Godinho, Fausto, B Fachada, Rui Veloso, Abrunhosa, Sara Tavares, os filmes fábulas fabulosos de Manoel de Oliveira, as personagens de Leonor Silveira, de Maria de Medeiros, de Luís Miguel Sintra, de Eunice Munõz, os traços viventes de Siza, o desenho de Souto Moura, a imaginação instigante de Ana Salazar, o Cristiano Ronaldo, o Mourinho, o FC Porto, o fado (não muito fã, mas com estes pensamento hoje até me veio à mente "é uma casa portuguesa com certeza" ), o deslumbramento dos nossos vinhos, da nossa Sagres, da nossa comida e doçaria (versões vegan  é claro), a nossa Farinha 33, o nosso pão! Os nossos guinesses malucos, a nossa História rocambolesca, apaixonante, pioneira, referência, o encontro de culturas em que participámos. A nossa revolução com cravos, a nossa lógica felizmente republicana, a nossa língua! A língua mais bonita do mundo, aos meus ouvidos, às minhas retinas, às minhas sensações, ao céu da minha boca. A nossa aspereza meiga, o nosso pensamento-seiva, o nosso desenrascanço, diacho! O nosso Humberto Delgado, o nosso Aristides Sousa Mendes, as nossas pronúncias!
 
O nosso caminho, a nossa alienação entre o totó e o búdico, o nosso provincianismo por vezes torpe, por vezes terno, o nosso portal Sapo. A nossa proximidade de fechar o País num abraço, de Miranda do Douro a Sagres, de Vila Real de Santo António a Caminha! As nossas águas frescas, os nossos olhos castanhos, o nosso Interior, o nosso Litoral, a nossa Psique psicadélica, o nosso rir de nós próprios, as nossas ilhas oníricas floridas, verdes, douradas e lindas, a nossa paixão que, aqui e ali, pisca luminosa e fecunda, o nosso Império da saudade.
 
Antes dizia amar o Brasil. Continuo a amar, é o meu outro país, o país-casa, o país-palavra-língua-casa também. Mas aprendi e felizmente, a percorrê-lo, a desesperar-me, a desentendê-lo e a fruí-lo, a ser com ele no tempo, a ser com ele no espaço, a amar Portugal.
 
Como não?




sexta-feira, 2 de maio de 2014

Esmeros campestres

 




 
 
 
 
Fotos de Zim
 
 
No campo, onde me dedico a tentar esquecer que Lisboa, em particular, e o Planeta Terra, em geral, existem, emergem das sombras e das clareiras solares ânsias laboriosas que urge atender. Há que não empurrar a formiga com demasiada força, que observar a pegada do porco javali, que beber água diretamente do regato corrente deitada no chão, como o meu Pai me ensinou hoje (beijinhos querido, se estiver a ler). É necessário apalpar a rosa que, fechada e gorda, guarda seleta a pulsação gloriosa do seu porvir. Polpuda e linda, aquela rosa cujo olor o nariz investiga e a mente expande um pouco mais. É preciso, para alívio são da consciência, certificarmo-nos de que não há já, efetivamente, rastro de flor das acácias. Mas aplaude-se a giesta remanescente, que bebe o sol e no-lo devolve, amarela, com a sua dançante claridade e deliciosa alegria. Imperiosa é a deteção exata da melhor sombra para mastigar, mascar e snifar o bom do Ulisses - Joyce, seu grande malandro! Atentar nos sabores maravilhosos que a terra dá, na hora do piquenique. Descortinar a ribeira aos pés frescos dos salgueiros e ficar perplexo ante uma árvore que pinga água. Ensaiar meditações, mergulhar na vetustez amantíssima da solidão da natureza, saudar os raios de ouro do fim da tarde e nadar no céu estrelado, transbordante de noite e de imensidão.
 
It's a dirty job, but...

sexta-feira, 25 de abril de 2014

O 24, o 24!

 
A propósito do meu post sobre o 25 de Abril, deixo-vos esta pérola, que tudo diz sobre o tema sem ser preciso mais nada:
  
Poema-mensagem de Rui Zink *
 
 
Celebremos 24, o dia em que estávamos mudos.
Bons tempos, não o sabíamos,
mas éramos felizes assim
não havia cá complicações
Emigrava-se, trabalhava-se,
era tão bonito assim.
Celebremos 24, o dia em que estávamos mudos
éramos felizes e não sabíamos
uns sacanas duns sortudos
não sabíamos o que queríamos...
estávamos melhor assim.
Celebremos 24, data maior e verdadeira
se a liberdade é uma canseira
e a democracia a parte gaga
já o silêncio vale ouro.
Voltássemos hoje a 24
e a dívida ficava paga.
estarmos sossegadinhos
era o nosso maior tesouro.
A guerra? Era lá longe
e eles gostavam de nós
Mandava em nós um monge
vivíamos orgulhosamente sós.
Celebremos 24, o dia em que estávamos mudos.
 
 
 
* Publicado no seu Facebook.
 Obrigada pela liberdade de o publicar aqui!

Outro 25 de Abril

Dez anos. Bandeiras nas janelas, um país em êxtase, mas isso teria sido depois. Primavera de túnica vermelha e fita, aquela aragem fria e a camisola. Onde estará a camisola, e o cheiro, qual será a memória do Tejo a respeito? Testemunha do silêncio e do verso. Uma Primavera sem estiar, bilhetes,  adeuses, offline.  O meu coração batucada, percussivo como nunca, acho, nunca. Chocolates, tarde, surpresas, mousse, história, CV na mesa, e a sucessão do abandono a perfilar-se na outra margem, numa Outra Margem que desconhecia. Dez anos, Abril, "ao luar e ao sonho" de Campos, Pessoa, ainda bem que existes e me nos compreendes. O tempo revolve-se, hirsuto como sobrancelhas, às vezes melífluo como licor.
 
Sim, Kant, liberdade para a Liberdade.  Que seja sempre essa a bandeira nas janelas e a flor nos corações em Abril. Qualquer Abril. De qualquer pessoa.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Viva o 25 de Abril - mas claro que sim!

Do tamanho de Abril
 
 
Especialmente quando chega esta altura, multiplicam-se por hábito as vozes "do contra": que o 25 de Abril não me deu nada, que a liberdade não me sustenta, que não há democracia, que antes é que era bom ou, então, que não era tão mau assim. Naturalmente, repetem-se os argumentos de que a difícil situação atual de Portugal e da Ecúmena se deve à mudança de regime, leia-se, de ditatorial para proto-democrático. (Claro que o 25 de Abril de 1974 foi uma alvorada, uma preparação, obviamente preciosa por esmagar a cabeça do monstruoso Estado Novo, velhíssimo, caduco, senil e criminoso.)
 
Só posso atribuir a este imenso desfilar de disparates duas desrazões injustificáveis: ou quem o diz padece da mais elementar ignorância histórica ou, por pretensão de alinhar com os "velhos e tradicionais tempos", e por vocação de alinhar com o status quo e com o "sim senhor", prefere identificar-se com o que o bom senso, obviamente (Humberto Delgado I love you), repudia.
 
Cabe-nos tentar a nossa parcela de luminárias e explicar que a culpa do abuso da liberdade não é haver liberdade, que a falta de elegância não deve à democracia os seus desvarios, que a pobreza não agradece a ditaduras obscurantistas, e que guerras idiotas não são o sustentáculo de um nacionalismo são, e muito menos de uma Nação. A forma de organizarmos e cultivarmos as nossas cabecinhas, a parvoíce social e a inépcia político-partidária, sim, são os fautores de tais descritos incómodos.
 
Kant dizia, com o seu brilho e acutilância únicos, que é necessária a "liberdade" para se aceder à "Liberdade". Deveras. Só com a oportunidade da expressão do livre pensamento, da livre defesa religiosa, política, social, sexual, estética, pode o homem cumprir a sua Humanidade. O sistema é nauseabundo e nefando? Claro. Seria melhor se ninguém pudesse levantar a cabeça, e usar a dita cuja? Seria melhor a vilania das prisões, torturas, mortes e exílios por se pensar ou agir diferentemente do que um grupo de gente quer? É isso mesmo, é a pacovice da União Nacional e da sua Cartilha anómala, que os exauridos de Abril consideram sofisticação?
 
Em mudança, e sobretudo em mudanças paradigmáticas, cometem-se erros também, e que não são desculpáveis. É isso que mancha a essência da mudança?
 
Note-se, eu não sou uma democrata natural, por assim dizer. Aqui, cito sempre os Delfins, e Churchill, está-se mesmo a ver. "Nunca gostei que a maioria organizasse o meu dia a dia", cantam os primeiros avisadamente, e todos os outros regimes são piores do que a Democracia - paráfrase minha para Winston.
 
Posto isto, viva o vermelho vivo dos cravos, vivam todas as mudanças que permitam minorar injustiças e promover o potencial do melhor que a humanidade pode mostrar!
 
Viva a Liberdade. Hoje, e sempre. Viva o Humanismo que nos falta compreender, amar e burilar, e que eu diria ser a canela para acrescentar aos cravos.  Gabriela. Mas a Liberdade não tem género.

domingo, 20 de abril de 2014

A Pipoca... e o Ermida Gerês Camping!





Ermida Gerês Camping... também me apetece voar para lá! 



Como sou esta blogger errática que os meus leitores, lá bem no fundo, tanto apreciam, não vos dei conta de um post maravilhoso da Pipoca Mais Doce na sua rubrica Negócio da China... mentira, é português.

A Pipoca foi fabulosa e este parque de campismo rural bem o merece, como já tenho vindo  dizer.

Este mês, o campeão do mundo Carlos Sá dará um brilho especial às imediações no Gerês Trail Adventure, a realizar este mês, e que passa no Ermida Gerês Camping!

sexta-feira, 18 de abril de 2014

O regresso... na TVI !

 
Queridos, desprovidos de mácula, sobejantes de glamour, diletíssimos leitores - eis-me aqui!
 
Tenho de dizer que, relativamente à minha amada Alegoria, me vou sentindo cada vez mais como aquela canção que os Kid Abelha tão bem interpretam: "(...) sou errada, sou errante, sempre na estrada, sempre distante...".  Acresce à ausência o facto do regresso (se compromissos, já sabem, gosto da nossa relação aberta e libérrima), vem com um pedaço de egocentrismo porquanto vos mostra, ao vivo  a cores, a minha participação no programa A Tarde é Sua, na TVI, usualmente apresentado por Fátima Lopes mas, nestes dias, por Iva Domingues. Hiperidrose (suor excessivo) era o tema, e lá fui contar a minha experiência como ex-hiperidrótica. O Doutor Jorge Cruz, que me operou há cerca de sete anos e meio, explicou muito bem as causas da hiperidrose, as implicações da doença e o procedimento cirúrgico. Grande mérito a escolha do tema, pois mesmo pelos vários contactos que recebi desde então fica bem claro que continua a haver muito a fazer pela divulgação desta doença que afeta cerca de 2% da população mundial, e mesmo entre os profissionais de saúde, com destaque para os médicos de clínica geral.
 
 
Espero que gostem e que, se dentre os meus leitores alguém tiver este problema, não hesite em dar os passos necessários para iniciar o processo de cura, ou seja:
 
- Escolha de um hospital no qual a cirurgia simpatectomia torácica videoassistida seja realizada, no setor cardiotorácico.
- Contatar o hospital, dizer a sua área de residência e perguntar se pode inscrever-se lá para a cirurgia, no caso de vir a decidir-se pela mesma. Perguntem também se ainda é necessária a carta do médico de família a pedir a consulta.
- Saber o nome do cirurgião.
- Pedir ao médico de família uma carta a solicitar consulta no hospital e com o médico acima referidos.
- Ir à consulta com o cirurgião, levar todas as questões escritas num papel, e certificarem-se de que ficam todas esclarecidas.
 
Não esquecer:
 
- Não seccionar o gânglio T2, a não ser em casos de hiperidrose craniofacial.
- Procurem cirurgiões com experiência e devidamente credenciados.
 
 
A solução existe!

domingo, 2 de março de 2014

And the Oscar goes to...

 
- Quero agradecer profundamente à Alegoria da Primaverve todo o apoio...
 
Saravá estimados leitores alegóricos!
 
Desculpas não bastam para a minha correspondência tão errática e intermitente, mas sei que estou sempre perdoada pelos vossos corações compassivos.
 
Na minha costumada aleatória perceção do que se passa no mundo, dei hoje conta de que se entregam as famosas estatuetas dos Oscars lá por Hollywood. Confesso que sempre desprezei o evento, votado que é a americanices cinematográficas e sendo eu essencialmente fã do robusto cinema europeu. Contudo, dou a mão à palmatória que este ano a coisa parece digna de nota, mesmo não tendo visto nenhum filme. Assisti há pouco a uma apresentação televisiva sumária, e já o tinha pensado quando um dos doutos comentadores verbaliza que é, com efeito, um ano forte. Avanço desde já com o principalíssimo motivo para o meu interesse nesta edição: o inigualável, genial, carismático, belo, único, etc. Leonardo DiCaprio, um dos meus atores preferidos, é candidato ao douradinho. Espero sinceramente que vença, é um eterno menino de ouro, e fez mesmo tudo bem. Muito fã. Cheers meu querido.
 
Nesta época sempre chatíssima de Carnaval, era bom que a Rússia levasse já um chega pra lá da comunidade internacional e que se desarredasse da Crimeia. Mas quem é que vai entrar em guerra com a Rússia? Espero que não esteja a preparar-se uma série de transmissões sangrentas sobre uma guerra em que a Ucrânia se veja encurralada e sozinha.
 
Tenho homologado.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Aquele abraço deliciado a Cronos

 
Oração ao Tempo - Caetano Veloso
 
 
Pois que não se pode dizer que os governos sejam completamente inúteis, não senhor. Escassas vezes, também lhes assiste uma outra ideia, para dizer o mínimo, luminosa.
 
Para 2014, lembraram-se (salve, salve), de abrir a possibilidade de trabalho a tempo parcial na Função Pública, onde labora esta fiel servidora (aqui sem ironia), com o corte salarial a corresponder "apenas" ao tempo não trabalhado e não a outros cortes advindos das loucuras da austeridade. Fiquei de orelha em pé, de olho em riste, de melguice em aprumo, e finalmente decidi-me: este ano, e com início a 1 de Fevereiro, mes chéris, não trabalho às segundas-feiras. Acho muito boa ideia, malgrado ter menos vil metal, trabalhar 4 dias e descansar 3. Não é de todo mau negócio. E como para o ano pode já não haver boas lembranças destas... aproveitemos mas é!
 
O tempo: o puro luxo.

Zim no metro

 
Olha a chinfrineira ilícita!
 
Meus diletos, não é à toa que os meus transportes preferidos são: pés, barco e avião. Não tenho culpa de não me adaptar a todo o espírito do transporte público (leia-se que o cheiro de carros em geral e em particular também me enjoa solenemente). Mesmo assim, verdade seja dita que o metro é, dentro da cidade, o meu transporte de eleição, sendo muito raro apanhar outro (que não a minha frota de táxis, como chamo - senhores taxistas de quem gosto e cujo contacto tenho e que me apanham onde e quando preciso).
 
Pois hoje vinha numa curta viagem de metro. O meu infortúnio começou logo quando me sentei. Um horrível cheiro a comida que me parecia vir de uma saca piolhosa de um homem que ia no banco da frente, com umas unhas, enfim, inenarráveis. Devia ser alguma doença, enfim. Aguentei uns segundos e optei por levantar-me e seguir estoicamente a pé até ao Rato. Estava muito bem em pé quando, a partir da estação das Picoas, o meu infortúnio aumenta. Lei de Murphy. Começo a ouvir uma música ALTÍSSIMA, e até procurei ver se o homem estranho se tinha decidido pelas tecnologias. Não, continuava a ler qualquer coisa. Tinha entrado uma adolescente anafada, que se sentara no banco da minha primeira tentativa, e eu estava cada vez mais enfastiada, diria já ressabiada com a música brega e nefanda e alta. Dirijo-me à moça muito polidamente.
 
- Esta música é sua?
- É.
- Pode baixar, por favor? Não estava a perceber de onde vinha.
 
Ela baixou, eu sorri-lhe e ela sorriu, menineira.
 
Pensei "que fofinha", porque deixei de ouvir qualquer ruído. Um segundo depois, uma musiqueta bera alta eleva-se da telefonezinha. Era a adolescente perseguidora, que exibia um ar entre o desafiador e o ligeiramente tímido perante o meu olhar sobre ela. Esperei, trocava olhares de "o mundo está perdido" com uma menina que seguia ao meu lado em pé, até que me virei de novo.
 
- Olhe tem de baixar.
 
- Eu já baixei. É a música.
 
- É um toque?
 
- Não. - Respondeu-me quase em dahhh. - Eu já baixei, é a música.
 
- Mas tem de baixar mais, está num transporte público, isso incomoda as pessoas. Ponha fones.
 
- Não tenho!
 
- Há uns tão giros... - aventei, maternal.
 
O estuporzinho fez um - Oh! - displicente, e lá seguiu com a musiqueta pelo metro fora, mesmo depois de sairmos.
 
Ao sairmos da carruagem, a moça que seguia em pé aproximou-se e disse-me, a sorrir:
 
- É a primeira vez que vejo alguém a pedir para baixar.
 
- Pois, e é a primeira vez que eu peço também... - acho eu.
 
- É a primeira vez que vejo alguém com a delicadeza de pedir para baixar - insistia a moça, graciosa e simpática.
 
- Como viu, não adiantou nada - sorri. - Adiantava se eu me chateasse, mas não estava para isso.
 
- E não valia a pena - disse a moça.- E se calhar até é melhor assim, porque com os fones destroem os ouvidos...
 
875b cn4mp5045linc5o,p5o n5m Que se lixem os ouvidos destes FDP desta escumalha nefanda e irrisória (pensei mais veloz que um avião a jato).
 
- Bom - argumentei suavemente - mais vale destruírem os ouvidos deles que os nossos...
 
Despedimo-nos com simpatia.
 
Algumas notas:
 
A apatia generalizada do pessoal que, pagando um bilhete, acha normal ser vilipendiado por estas criaturas. Tudo bem que a pessoa pode temer iniciar a coisa, mas se um camarada cidadão enceta o esquema, por que não apoiar? Todos contra a música alta, todos pelos fones, ora!
 
A miudinha, sem graça e púbere, ou acha aquilo tudo normal e à minha pessoa uma grande fastidiosa, ou adora aborrecer os demais seres humanos. Depois fiquei aborrecida: deveria ter-lhe gritado que parasse, puxado o travão de emergência, parado o metro, fazer um escândalo? Mas não me apetecia mesmo nadinha gastar mais energias, que andam tão derrotadas! Porém, não deixo de pensar que assim não foi formativo para a miúda, que continuará a atazanar as pessoas com o seu volume musical (de mau gosto).
 
E depois, a querideza da minha outra interlocutora, preocupada com os ouvidos dos meliantes do desassossego, e ao mesmo tempo a achar uma "delicadeza" a minha ação. Oh céus, mas não deveríamos todos indignar-nos e recusar as anormalidades que miúdos e graúdos nos imponham?
 
Como diria uma personagem de novela, creio que a Marieta Severo, sobre um rapaz que fazia de seu filho, também serei sempre uma "perplexa com a existência". Bufante, ressabiante, reclamante e, por vezes, "inacreditante".
 
Ainda bem que vou e venho a pé do labor todos os dias.
 
Vamos fazer um movimento contra música alta sem fones??

É que estes adolescentes não têm charme nenhum, nenhum, e nem desconfiam disso. Penalizante.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Obrigada diletos leitores de Zim!


- Grata leitores algodónicos!
 
Depois de muitos afazeres e preguiça e descanso, a Alegoria tem voltado a deixar cair, como pequena fonte que é, textinhos de forma mais sistemática. Com certeza que, por esse motivo, este mês notei uma afluência maior de leitores, aos quais quero agradecer muito a atenção e companhia. Não sei até quando a regularidade será mantida, já sabem que aqui a regra é não haver regra senão o bom gosto esfuziante alegórico.
 
Como presentes absolutamente impagáveis, aqui ficam umas fotos tiradas pela própria Diva, com os dedos mesmo da Diva.
 
Conseguem ver onde está o pompom do barrete?
 
Fiquem com o perfume daquela rosa tão rosa e tão fresca.

Em nome da leveza



Renoirs

O melhor da leveza nunca é desprovido de beleza. Rima e é verdade. E de um mar de coisas singulares que nos enriquecem pensamentos e sentimentos, enquanto nos revivescem emoções.  Este blog tem andado um pouco sério, o que na verdade se impõe dada a rusticidade permanentemente retrógrada dos tempos que vivemos, mas agora há que, como dizia o avô Maia n' Os Maias, abrir a janela e deixar o sol entrar! Que no entanto, com esta chuvada, esta humidade e este frio...
Mas deixemos as consequências da intempérie, que a intempérie seja consequente - mas sem malefício.
Amar pintura é ter o prazer de um deleite novo e repetido. Aquele que, espantado, inocentado e expectante também dá forma aos traços, intensidade às cores, nervura às texturas. A esse propósito, aqui ficam a brilhar três esplendorosos exemplares de um dos mais esplendorosos, enormes e leves pintores de todos os tempos - Pierre Auguste Renoir.
Brinde a esta fruição tão particular.