quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Obrigada diletos leitores de Zim!


- Grata leitores algodónicos!
 
Depois de muitos afazeres e preguiça e descanso, a Alegoria tem voltado a deixar cair, como pequena fonte que é, textinhos de forma mais sistemática. Com certeza que, por esse motivo, este mês notei uma afluência maior de leitores, aos quais quero agradecer muito a atenção e companhia. Não sei até quando a regularidade será mantida, já sabem que aqui a regra é não haver regra senão o bom gosto esfuziante alegórico.
 
Como presentes absolutamente impagáveis, aqui ficam umas fotos tiradas pela própria Diva, com os dedos mesmo da Diva.
 
Conseguem ver onde está o pompom do barrete?
 
Fiquem com o perfume daquela rosa tão rosa e tão fresca.

Em nome da leveza



Renoirs

O melhor da leveza nunca é desprovido de beleza. Rima e é verdade. E de um mar de coisas singulares que nos enriquecem pensamentos e sentimentos, enquanto nos revivescem emoções.  Este blog tem andado um pouco sério, o que na verdade se impõe dada a rusticidade permanentemente retrógrada dos tempos que vivemos, mas agora há que, como dizia o avô Maia n' Os Maias, abrir a janela e deixar o sol entrar! Que no entanto, com esta chuvada, esta humidade e este frio...
Mas deixemos as consequências da intempérie, que a intempérie seja consequente - mas sem malefício.
Amar pintura é ter o prazer de um deleite novo e repetido. Aquele que, espantado, inocentado e expectante também dá forma aos traços, intensidade às cores, nervura às texturas. A esse propósito, aqui ficam a brilhar três esplendorosos exemplares de um dos mais esplendorosos, enormes e leves pintores de todos os tempos - Pierre Auguste Renoir.
Brinde a esta fruição tão particular.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Uma carta diamantina de verdadeira

Alguém, em boa hora, decidiu enviar uma carta ao duxezinho da treta. Translúcido texto, tão cheio de sentido e de verdade! Está a ser divulgada no Facebook.
 

 "Ando aqui com esta merda entalada há já algum tempo. A ouvir as diferentes versões, a pensar nas dúvidas e a pôr-me no lugar das pessoas. Tento pôr-me no lugar dos pais dos teus ...colegas que morreram. Mas não quero. É um lugar que não quero nem imaginar. É um lugar que imagino ser escuro e vazio. Um vazio que nunca mais será preenchido. Nunca mais, Dux. Sabes o que é isso? Sabes o que é "nunca mais"?

https://www.youtube.com/watch?v=PHt31NNV0k0 (vídeo)

A história que te recusas a contar cheira cada vez mais a merda, Dux. Primeiro não falavas porque estavas traumatizado e em choque por perderes os teus colegas. Até acredito que estivesses. Agora parece que tens amnésia selectiva. É uma amnésia conveniente, Dux. Se calhar não sabias. Ou então andas a ver se isto passa. Mas isto não é uma simples dor de cabeça, Dux. Isto não vai lá com o tempo nem com uma aspirina. Já passou mais de 1 mês. Continuas calado. Mas os pais dos teus colegas têm todo o tempo do mundo para saber a verdade, Dux. E vão esperar e lutar e espremer e gritar até saberem. Porque tu não tens filhos, Dux. Não sabes do que um pai ou uma mãe é capaz de fazer por um filho. Até onde são capazes de ir. Até quando são capazes de esperar.

Vocês, Dux... Vocês e os vossos ridículos pactos de silêncio. Vocês e as vossas praxes da treta. Vocês e a mania que são uns mauzões. Que preparam as pessoas para a vida e para a realidade à base da humilhação, da violência e da tirania. Vou te ensinar uma coisa, Dux. Que se calhar já vai tarde. Mas o que prepara as pessoas para a vida é o amor, a fraternidade, a solidariedade e o civismo. O respeito. A dignidade humana e a auto-estima. Isso é que prepara as pessoas para a vida, Dux. Não é a destruí-las, Dux. É ao contrário. É a reforçá-las.

Transtorna-me saber que 6 colegas teus morreram, Dux. Também te deve transtornar a ti. Acredito. Mas devias ter pensado nisso antes. Tu que és o manda-chuva, e eles também, que possivelmente se deixaram ir na conversa. Tinham idade para saber mais. Meco à noite, no inverno, na maior ondulação dos últimos anos, com alerta vermelho para a costa portuguesa? Achavam mesmo que era sítio para se brincar às praxes, Dux? Ou para preparar as pessoas para a vida? Vocês são navy seals, Dux? Estavam a preparar-se para alguma missão na Síria? Enfim. Agora sê homenzinho, Dux. E fala. Vá. És tão dux para umas coisas e agora encolhes-te como um rato. Sabes o que significa dux, Dux? Significa líder em latim. Foste um líder, Dux, foste? Líderes não humilham colegas. Líderes não "empurram" colegas para a morte. Líderes lideram por exemplo. Dão o peito e a cara pelos colegas. Isso é um líder, Dux.

Não sei o que isto vai dar, Dux. Não sei até que ponto vai a tua responsabilidade nesta história toda. Mas a forma como a justiça actua neste país pequenino não faz vislumbrar grande justiça. És capaz de te safar de qualquer responsabilidade, qualquer que ela seja. Espero enganar-me. Vamos ver. O que eu sei é que os pais que perderam os filhos precisam de saber o que aconteceu. Precisam mesmo, Dux. É um direito que eles têm. É uma vontade que eles precisam. Negá-los disso, para mim já é um crime, Dux. Um crime contra a humanidade. Uma violação dos direitos humanos fundamentais. Só por isso Dux, já devias ser responsabilizado. É tortura, Dux. E a tortura é crime.

Sabes, quero me lembrar de ti para o resto da vida, Dux. Sabes porquê? Porque não quero que o meu filho cresça e se torne num dux. Quero que ele seja o oposto de ti. Quero que ele seja um líder e não um dux. Consegues pereceber o que digo, Dux? Quero que ele respeite todos e todas. Que ele lidere por exemplo. Que ele não humilhe ninguém. Que seja responsável. Que se chegue à frente sempre que tenha que assumir responsabilidades. Que seja corajoso e não um rato nem um cobardezinho. Que seja prudente e inteligente. E quero me lembrar também dos teus colegas que morreram. Porque não quero que o meu filho se deixe "mandar" e humilhar por duxezinhos como tu. Não quero que ele se acobarde nem se encolha perante nenhum duxezinho. Quero que ele saiba dizer "não" quando "não" é a resposta certa. Quando "não" pode salvar a sua dignidade, o seu orgulho ou até a sua vida. Quero que ele saiba dizer "basta" de cabeça erguida e peito cheio perante um duxezinho, um patrãozinho, um governozinho ou qualquer tirano mandão e inseguro que lhe apareça à frente. É isso que eu quero, Dux. Quem o vai preparar para a vida sou eu e a mãe dele, Dux. Não é nenhum dux nem nehuma comissão de praxes. Sabes porquê, Dux? Porque eu não quero um dia estar à espera de respostas de um cobarde com amnésia selectiva. Não quero nunca sentir o vazio dos pais dos teus colegas. Porque quero abraçar o meu filho todos os dias da minha vida até eu morrer, Dux. Percebeste? Até EU morrer. EU, Dux. Não ele."
 

sábado, 25 de janeiro de 2014

Eu sei exatamente porque é que a tragédia do Meco aconteceu

 
 
 
Tenho uma amiga que continua intrigadíssima com o que se deu no Meco e que recolhe laboriosamente as diversas versões, aventa reconstituições, desafia a rapidez do surgimento de novas notícias a respeito. Por meu lado, estou tristemente satisfeita com a explicação para o que ocorreu. Claro que com uns bons borrachos na cara do rapazinho que agora tem amnésia seletiva (oh, pois sim!), ficaríamos a saber todos os detalhes. Mas seriam apenas isso - detalhes.
 
A tragédia do Meco aconteceu pelo mesmo motivo responsável, caros leitores, por tudo quanto aqui seguidamente vos narro. E por muito, muito mais.
 
A tragédia do Meco aconteceu pela mesma razão por que esta mesma madrugada fui violentamente acordada do sono dos justos, pelas três e tal da matina, com uma gritaria histérica na rua. Um grupo imbecil de jovens, daqueles grupinhos que saem geralmente aos fins-de-semana e que, no todo ou na parte, não sabem beber, estão a ver o filme, ladeava o bêbado do imbecil-mor que, em tronco nu e aos gritos, se debatia dentre eles. Não percebi o que se passava, se havia agressões ou não, mas destacava-se a voz histérica e descompensada de uma rapariga que berrava aos quatro ventos "Dá-me na tromba, estou a dizer-te para me dares uma (não sei quê) na tromba!" E mais gritos e choros. Síndica Zim, entre o indignado e o nervoso chama a polícia, que lá vem e tenta por ordem na coisa. Ainda tiveram de segui-los dentro do carro porque, mais à frente, os amigos não conseguiam controlar o rapaz de tronco nu apesar dos muitos esforços. Sob o olhar da polícia lá o conseguiram despachar para dentro do prédio que, espero que não para infortúnio futuro, fica sito na minha rua...
 
A tragédia do Meco aconteceu pela mesma razão por que hoje mesmo, da parte da tarde, me enfureci até à medula com uma barulheira de obras, totalmente ilícita, nas traseiras do meu prédio. Quantas vezes, remota e recentemente, ouvi este barulho de máquinas de obras ensurdecedoras e me disse: "este fim-de-semana não". E desistia, fechava a porta, esquecia-me do tremendo abuso sonoro. Isto sucedeu, camaradas, muitas vezes mesmo. Até que hoje me cansei, chego à janela e, malgrado não o dever, comecei a dar uma descasca aos culpados, que aquilo era um desrespeito, e que obras ao fim-de-semana são proibidas, e que se voltasse a acontecer chamava a polícia. Remédio santo. Mas, uns momentos depois, conto-vos outro idêntico motivo pelo qual a tragédia do Meco aconteceu: também das traseiras, mas de um r/c escondido da minha vista mas não, infelizmente, do meu martelo, da minha bigorna, de todo o meu delicado pavilhão auricular, começa uma literal martelada obtusa. Em conversa com vários dos meus vizinhos da frente, as pessoas têm-se queixado do que ali sofrem, com obras ao fim-de-semana, e por vezes até à noite, mas pelos vistos... não reclamam! Avisei também os facínoras barulhentos. Coincidência ou não, às marteladas sucedeu-se uma máquina verrinosa e totalmente arrombadora dos ouvidos. Com a ajuda do vizinho da frente saquei o número e o lado correto. Molestem a minha vida e eu molesto a vossa seus c...,,,,,. Lá veio a polícia, que esperei na rua, e muito solicitamente tomaram nota da reclamação. O barulho parou.
 
Mas a tragédia do Meco, perspicazes leitores, sucedeu também pela mesmíssima razão pela qual os jovenzinhos rascas, os jovenzinhos betinhosos e os jovenzinhos mais ou menos têm como assassino entretenimento corridas homicidas de carros, e agora até, segundo se diz, sovas de meia noite uns aos outros.
 
A tragédia do Meco ocorreu pelo mesmo motivo que superintende a outros comportamentos bárbaros ao volante, bêbados da vida, idiotas de serviço, monstros do milénio a ceifar vidas indiscriminadamente. E mais vidas, e mais vidas, e mais vidas, e mais sangue a alastrar no alcatrão.
 
A tragédia do Meco aconteceu por razão análoga às discussões assombrosas de certos lares resultante em violência doméstica mediante indignidades físicas e ou verbais.
 
A tragédia do Meco sucedeu pelo mesmo motivo pelo qual, esta mesma noite (acreditem ou não!!!) andava um homem na rua, totalmente zombie, aos ziguezagues e a dar pancadas nos caixotes do lixo, com raiva e sobra de energia que lhe faltava no cérebro.
 
A terrífica tragédia do Meco ocorreu pela mesma natureza de razão que me levou, noutro dia, a enviar um e-mail ao meu serviço inteiro, a dizer que esperava não ter de chamar outras instâncias para me queixar do cheiro e fumo de tabaco que pessoas que tinham idade para ter juízo estavam a insistir em fazer grassar pelo corredor, fumando na suas salas, o que é estritamente proibido. Isto depois de ter pedido, e depois de ordens nesse sentido!
 
A tragédia do Meco ocorre pela mesma razão por que as pessoas que não sabem levar e aceitar uma tampa com fair play se empenham em perseguir, arreliar e stressar os alvos do seu ressabiamento.
 
A tragédia do Meco teve lugar pelo mesmo motivo pelo qual as pessoas se recusam covardemente a testemunhar o que tem de ser testemunhado, a opinar quando a opinião faz a diferença, a recusar o que tem de ser recusado e a não tolerar o intolerável.
 
A tragédia do Meco aconteceu pela mesma razão por que há guerras, invasões e negócios escusos.
 
A tragédia do Meco aconteceu exatamente pelo mesmo motivo por que há estupros isolados ou coletivos, a crianças e a idosos, em Portugal, na Índia e na Indochina. E em todos os cantos deste merdoso mundo.
 
A tragédia do Meco horrorizou o País pela mesma razão pela qual os animais são maltratados, muitas vezes por "desporto".
 
A tragédia do Meco deu-se, meus caros, pelo mesmo motivo pelo qual todos os abusos acontecem, pelo qual toda e qualquer barbaridade é perpetrada: pelo desrespeito pela palavra, pelo conceito, pela palavra/necessidade/conceito/valor "Basta!" É por se desconsiderar que basta, que já chega, que é demais pá, que não pode continuar, que não pode repetir-se, que é irracional, que é lesivo, que é letal, que é desrespeitador, que é destrutivo, que é uma mácula sobre a preciosidade que é um ser, que é perigoso, que é uma indignidade, que é uma afronta, e que tudo isso é previsível, compreensível e evitável, é por isso que se sofre e que se morre. Espúria, estupidamente. É por isso que as pessoas se esfrangalham em nervos, que os bêbados demoram a tratar-se, a reassumir as suas vidas e a sua liberdade, que todos os drogados se adiam, que os deprimidos se vão afastando de si: por não observarem a força, a urgência, a terrível, majestosa importância e urgência do que BASTA!
 
BASTA.
 
BASTA.
 
BASTA.
 
Foi por isso.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Um dos meus problemas...


- Hummm, olha que diacholas!


... é insistir irracionalmente com as pessoas em particular e o Cosmos em geral para que façam, ou não façam, coisas básicas.

Deveria insistir também um pouco comigo nessa mesma questão??

Petição contra o Referendo

Aqui neste salutar blóguio, entre outras coisas, defendem-se os melhores princípios e exemplos. Por essa razão, exorto os meus inteligentes e sensíveis leitores a assinarem esta petição contra o referendo sobre a Co-Adoção por casais do mesmo sexo, e pela defesa da Co-Adoção e da Adoção pelos mesmos.
 
Os direitos humanos nunca deveriam ser referendáveis, e por essa razão fui sempre contra o referendo sobre o aborto: radicalmente contra, entendo que a vida do feto é um direito inalienável do próprio e não da sua mummy e, portanto, não referendável.
 
Há diferentes tipos de famílias e de relações românticas e íntimas: dois homens, duas mulheres, bi com trans, trans com metro, metro com avião. Essa é uma escolha puramente individual.
 
Quanto às crianças, o critério para se confiar uma criança a alguém deve ser o da conduta correta, da boa motivação e da qualidade afetiva proporcionada, juntamente com os meios de subsistência adequados. Nada, portando, a ver com género.
 
Não façam género, camaradas, e assinem!
 
Pelos direitos Humanos. 

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Aventuras no bairro


- Ó da casa!!!...

O meu bairro é muito especial, já devo ter dito isto incontáveis vezes. Enquanto depender de Lisboa por causa do trabalho, é aqui que quero e gosto de viver, neste clima familiar, com toques de sofisticação e de antiga popularidade, com espaço e conforto, com jardins e ruas bem rasgadas.
 
Este domingo estava muito recatadamente na salinha de estar, quase a começar a ver um dos meus muitos novos filmes e séries, quando ouço um barulho estranho, um "toc toc toc" do outro lado da rua. Levantei-me do sofá, praguejante, imaginando já obras danosas (e proibidas por lei!!!) de fim-de-semana. Chego à janela e vejo um senhor na varanda em frente, fechado do lado de fora, a bater à porta. Em vão. E mais "toc toc toc". Pensei na probabilidade de alguma criancinha o ter trancado de propósito, deixando-o a sofrer, em pé e ao frio.
 
Passaram uns minutos, estive ao telefone, e o senhor a bater à portada varanda. Considerei que se tratava de um caso para a síndica e ademais detetive Zim, abri a janela e perguntei:
 
- Quer que telefone para alguém? Desculpe meter-me, mas...
- Ora...já agora...
(Saco do meu tele.)
- 91.....
- Vou dizer que está fechado por fora.
(Expressão confirmativa do senhor.)
- Boa tarde, eu vivo aqui no kr3jr. Está um senhor fechado do lado de fora da varanda...
(Nesse momento, enquanto me atendia, a senhora dirigiu-se à varanda, abrindo a porta e tirando o pobre senhor daquele longo cativeiro exterior e frio.)
- Muito obrigada!
- Ora, essa, boa tarde.
 
Dissemos adeuses e assim foi.
 
Se eu não existo, se eu não existo!

Zim decreta

Décret

C’est decreté, mon amour,
L’atroce eclipse du jour
Après aperçu si lointaine l'ombre discrète de ton visage
C’est decreté la fin de la pensée, de l’oblique nuage devant nous
Les sorcières apportent leur feu destructive et indigné aux forêts
Elles ont la rage des saints, l’epuisement des fêtes
Le curieux terminus d’une particulière illusion est maintenant étudié
À Harvard et Massachusets...
Le sublime odeur du future ne m’emue pas encore
Peut être qu’aprés du café…
C’est decreté, mon amour, le secret écoulement de mon sang
Le matin hausse; le matin progresse; le matin s’enfuit dans la musique du pick up
C’est juridiquement announcé le chagrin d’un enfant
C’est decreté, doux garçon,
Cette fin
Et cependant, peut être qu’aprés du lait de riz chaud
Le bon odeur du future rentre et s’installe, confortable et si chic
Au mon divan
Il est tôt
 
----------------------
----------------------
 
Decreto
 
Está decretado, meu amor,
O atroz eclipse do dia
Depois de vista tão distante a sombra discreta do teu rosto
Está decretado o fim do pensamento, da nuvem oblíqua à nossa frente
As feiticeiras trazem o seu fogo destrutivo e indignado às florestas
Têm a raiva dos santos, a exaustão das festas
O curioso término de uma particular ilusão é agora estudado
Em Harvard e Massachusets
O sublime odor do futuro não me comove ainda
Pode ser que depois do café…
Está decretado, meu amor, o secreto escoamento do meu sangue
A manhã nasce; a manhã progride; a manhã foge na música da pick up
Está juridicamente anunciada a tristeza de uma criança
Está decretado, doce rapaz,
Este fim
E no entanto, pode ser que depois do leite de arroz quente
O bom odor do futuro entre e se instale, confortável e tão chique,
No meu sofá
É cedo

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

As micro saquetas para as compras do Pão de Açúcar

Andava eu a fazer umas comprinhas básicas de fim de dia, quando fui surpreendida pelo comentário da minha "vizinha" da fila para a empregada: "Ah, agora têm estes sacos pequeninos? Mas não tinham, pois não?" Nitidamente a senhora não queria acreditar naquela realidade, e tentava beliscar-se para perceber se era efetivamente uma novidade... e era.
 
Pois as saquinhas de plástico parecem roupa lavada com o programa errado. Constituem uma versão ridiculamente pequena dos sacos de compras normais, e mais parecem saquinhas para as compras de tachinhos e coisas de crianças.
 
Chega à minha vez e disse logo que se era para me dar um saco daquele tamanho não valia a pena. A simpática menina pediu desculpas. Quando acabei de pagar, ainda disse que considerava muito mau que numa superfície daquelas se pensasse que as pessoas tinham compras que coubessem naqueles saquinhos - e peguei num com os meus dedinhos de diva, para exemplificar a ninharia. Que agora exigem às meninas da caixa que gastem muito menos sacos, e que já tinha ouvido da chefe, que etc..
 
Vim a refletir irritadamente no assunto durante o percurso para casa quando me ocorreu que, há mais de um ano seguramente, e naquele mesmo supermercado, ficara surpreendida por ver tão poucos empregados nas caixas. À minha questão, esclareceram-me que houvera cortes drásticos no pessoal, e que tinham sempre receio do futuro. Cogitei que, ao pé daquilo, o tamanho do saco era defecativo. Porém, a verdade é que me custa a crer que estes gigas-supermercados não tenham ainda muito bons lucros, ou situação para não aborrecer os clientes com pantominas do ridículo deste género. Estarei enganada?
 
Como disse à funcionária, mais valia cobrar os sacos. Até defendo que levemos cada vez mais sacos para compras, que se evitem plásticos (apesar de reciclar todos os meus), etc.. Mas nem sempre uma pessoa sai artilhada com toda uma ferramenta aquisitiva para investir sobre a grande superfície.
 
Isto está tudo fuinha ou é mesmo da crisis?
 
Irritam-me muito e boicoto. Ai boicoto. Isto não se pode!

domingo, 12 de janeiro de 2014

Amor ao primeiro verso

Estimado leitor, distenda-se neste Domingo que ameaça ( deliciosa ameaça) ser enorme para quem teve insónias. Mire a barrinha lateral da Jangada Poética Alegórica, e entenda-se no ilimitado sentido de que Manoel de Barros impregna as suas palavras, as suas imagens, as suas monumentais e vísceras - vísceras e não apenas viscerais - cogitações.
 
Incogitável talento de 97 anos, nascido no Mato Grosso, Cuiabá.
 
Conheço muito pouca coisa, mas foi amor ao primeiro verso.
 
Não se explica? Explica-se; amplia-se; poeta-se.
 
Amorável, mil vezes amorável esta "despalavra".

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Amar pintura rega a vida


Lying Nude - Félix Valloton


E a íris, e a pupila, e a retina, e diria mesmo que o pavilhão auricular.

Valha-me o bom gosto das páginas que passeiam, elegantes, no feed do meu Facebook. Ao olhar para esta pintura de Valloton, enfim... Como não amar?

Ressabianço ma non troppo

ihihihih
 
Sina (Djavan)
 
 
Isto para início de ano não caía nada mal era uma nesga de céu azul. Êta dias molhados, densos e desconfortáveis! Claro que depois de ver as tragédias que o mau tempo anda a causar na Europa e não só, temos de admitir que a situação aqui não está ainda tão extrema.
 
Mas que é dos planos retumbantes de renovação, reciclagem, viragem, voragem, transformação, ão, ão, ão, ão?
 
Se, como eu, andam transtornados da monita com a intempérie; se feitas as contas concluem que seria tão melhor voltar imediatamente às férias; se estão tentados a achar que a beleza dos novos anos se fica pelo réveillon, esperem, parem. Mirem a fotinha acima. Inspirem e expirem mui, mui lentamente, cinco vezes seguidas. Até pode ser mais. Ouçam os reluzentes Djavan e Caetano, igualmente supra. Sempre supra. Os meus Artistas vivos preferidos dentre todos, com Caetano à frente. Tanto quanto ele, só Tom Jobim. Saudades eternas. Impossível não sorrir muito ao vê-los, tão bons e tão jovens, flores sem vergonha desabrochadas, neste alegre encanto. (E pensar que me lembrei de pôr aqui esta canção por causa da palavra "réveillon", que usei acima. Por si só, as palavras já merecem a viagem.)
 
Se nada disto der certo, mandem um e-mail. Garantimos ativo pensamento sobre o assunto.

domingo, 5 de janeiro de 2014

Mimi Kirk aconselha

Atentar e divulgar mensagens positivas é uma das minhas boas intenções catorzianas. Recomendo a leitura das 10 dicas para um ano melhor, da lindíssima setuagenária Mimi Kirk. Aqui.

O sumo verde... o sumo verde. E por que raio não?

sábado, 4 de janeiro de 2014

Prosa de jato



 
- Saudações das águas, leitores de Zim!
(Fotos de Zim)
 
Pois o certo é que a terra não é silente, fala em jorros, conversa por ventos que fazem de enormes arvoredos palhinhas quase a arrancar-se do chão, tantas as voltas que dão sobre o seu exasperado corpo movido a velocidades ingentes. E particularmente a água, essa cantarola, sussurra, grita e manifesta-se, artista ímpar, de todos os modos possíveis. Pling, plong, catarata-mirim através de escadas de pedra dentre muros centenários de pedra, ploaffff, alagamento em pleno chão, raubaumbaummm, a ribeira que se desprende de si, para hegelianamente a si voltar.
 
Último passeio das férias. Água corrente.
 
Não querer ir, mas ter de.
 
A água, o vento, o sol, o céu e a peugada das coisas amadas trazer me ão de volta.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

A lesma peripatética

- Saravá alegóricos!...

Vejam só a fotogénica senhora Lesma com que me cruzei num dos meus passeios campestres. Toquei-lhe levemente com a ponta de um pau e encolheu-se prontamente, ficando assim meio arqueada e à defesa.
 
2014, não enlesmais, no entanto, sim? Não enlesmais! E porém... oh, como queria continuar a passear por aqui e a encontrar a minha amiga lesma!
 
Lesma eu seja.

Notícias ultra fofas e rápidas de 2014

Sara Carbonero e Iker Casillas já têm nos braços o seu bebé, nascido hoje: Martín!

Quaresma volta ao grande Porto, como já se sabia... com o número 7!

Brindes amáveis.

Sabemos que ainda não somos verdadeiramente boas pessoas quando...

... na sequência da notícia das vítimas da bomba da II Guerra da Alemanha nos perpassa na cachola, sem querer, algo como: "dado o evento originário, antes ali que acoli...".

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

O Diálogo que urge desde dentro: íntegro e Integral

A grande conexão matricial e cada um de nós
 
Não há melhor forma de iniciar um ano, esse imemorial simbolismo da passagem, da renovação, das mil novas oportunidades e surpresas, do que citar aqui integralmente a profunda e belíssima mensagem que Paulo Borges deixou no seu Facebook. Paulo Borges é um sábio e um homem boníssimo, que quer tudo mesmo que o achem essas coisas. É um demandante, e eu soube isso logo quando foi meu Professor tinha eu vinte e um anos.
 
Como eu própria lhe deixei em comentário, o facto de aqui estar rodeada de Natureza, do puro campo, do rico mato, de tudo tão ao pé quanto estrelas e lagos de água das chuvas, fontes e incontáveis copas de árvores, faz-me ainda mais intensamente partilhar essa funda necessidade que aqui é expressa e que mais não é, porém, do que uma gritante naturalidade: o ser humano precisa disso como de água, de pão, de amor e de mar, de rir, de acordar. De despertar.
 
"Como diz Thomas Berry, “quebrámos a grande conversa” e assim “despedaçámos o universo”. Estamos apenas a falar connosco próprios, humanos, e cada vez mais virtual e menos profundamente. Na verdade, estamos sobretudo a tornar-nos cada vez mais autistas, fechados num monólogo ensurdecedor com os nossos pensamentos e preocupações. Essa é a raiz de muitos desastres.

Há que reatar a “grande conversa”. Em vez de vivermos isolados no nosso ruído mental e emocional, silenciar a mente para escutar e contemplar a portentosa e prodigiosa vida do universo da qual somos inseparáveis. Escutar e contemplar, seus arrogantes filhos mais recentes, as coisas primordiais, vastas e profundas. O uivo do vento, o cair da chuva, as estranhas formas das nuvens, o brilho dos astros, o rumor do oceano, o silêncio da terra, o crepitar do fogo, o ondulante murmúrio das florestas, o canto da matéria obscura, a luz, as sombras e as trevas do mundo.

Escutar e contemplar também os nossos companheiros na grande aventura cósmica, os animais. O ladrar do cão, o miar do gato, os gritos longínquos das gaivotas, o uivo dos lobos, o bramido dos elefantes, o silvo das serpentes, o zumbido das abelhas, o lento rastejar do caracol.

Contemplar e escutar na multidão de formas e movimentos do Grande Todo a revelação contínua de quem realmente somos, este ser ilimitado que as fronteiras da pele de um corpo humano não podem conter. Captar as mensagens que em linguagens e línguas múltiplas constantemente se nos dirigem, expressando ideias, sentimentos e sensações para as quais as pobres mentes e línguas humanas não têm conceitos nem palavras. Despertar. Deixar de ser surdos e cegos para a grande conversa e convívio cósmicos.

Escutar a voz da terra, das fontes, dos rios, das plantas, das pedras, do vento, dos planetas, das estrelas. A voz da formiga e da aranha, do cavalo e do javali, do tigre e da borboleta. E falar então, falar com tudo e com todos. Falar com os rios, as tartarugas e os peixes, os montes, as codornizes e os lagartos, os bosques, os pássaros e os esquilos, as montanhas, as águias e os falcões, as grutas, as salamandras e as lesmas, as florestas, a lua e as corujas, os mosquitos, os charcos e o sol. Falar com palavras e em silêncio, confidenciar-lhes a nossa intimidade e sermos fiéis confidentes da sua. Escutar e dialogar no coro das vozes do mundo, aprendendo tudo o que se não ensina nas escolas do verbo íntimo que por todas perpassa, sentindo inseparáveis de nós as presenças e vidas invisíveis e sagradas que em todas se manifestam.

Abrir e alargar a consciência da sociedade dos humanos à imensa comunidade e comunhão cósmicas. Os cegos, surdos e mudos que só ouvem e falam à escala humana, os débeis de espírito que só lêem e compreendem livros e coisas escritas e se encerram nas artes, ciências e letras, os estreitos de coração que só trocam afectos com o animal humano, os falhos de comunicação que a limitam à tecnologia e aos media, poderão chamar-te louco e rir-se de ti, mas esse é o ridículo preço a pagar por te curares da loucura que eles têm por normalidade e entrares na Grande Empatia, na Grande Conversa e na Grande Lucidez."

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Feliz primeiro dia do Ano!

 
O melhor que brote
(Foto de Zim)
 
Leitores sagazes, atentos e sensíveis ao devir dos tempos: olhai lá para fora, e vede que estamos já noutro ciclo: tudo é civilidade, amor, respeito, ética, criatividade ao melhor nível e felicidade, e a saúde abunda para todos.
 
Era bom, não era?
 
"Pelo sonho é que vamos", nas palavras de Sebastião da Gama. 
 
"Chegamos? Não chegamos?
- Partimos. Vamos. Somos."
(Sebastião da Gama)