quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

O Diálogo que urge desde dentro: íntegro e Integral

A grande conexão matricial e cada um de nós
 
Não há melhor forma de iniciar um ano, esse imemorial simbolismo da passagem, da renovação, das mil novas oportunidades e surpresas, do que citar aqui integralmente a profunda e belíssima mensagem que Paulo Borges deixou no seu Facebook. Paulo Borges é um sábio e um homem boníssimo, que quer tudo mesmo que o achem essas coisas. É um demandante, e eu soube isso logo quando foi meu Professor tinha eu vinte e um anos.
 
Como eu própria lhe deixei em comentário, o facto de aqui estar rodeada de Natureza, do puro campo, do rico mato, de tudo tão ao pé quanto estrelas e lagos de água das chuvas, fontes e incontáveis copas de árvores, faz-me ainda mais intensamente partilhar essa funda necessidade que aqui é expressa e que mais não é, porém, do que uma gritante naturalidade: o ser humano precisa disso como de água, de pão, de amor e de mar, de rir, de acordar. De despertar.
 
"Como diz Thomas Berry, “quebrámos a grande conversa” e assim “despedaçámos o universo”. Estamos apenas a falar connosco próprios, humanos, e cada vez mais virtual e menos profundamente. Na verdade, estamos sobretudo a tornar-nos cada vez mais autistas, fechados num monólogo ensurdecedor com os nossos pensamentos e preocupações. Essa é a raiz de muitos desastres.

Há que reatar a “grande conversa”. Em vez de vivermos isolados no nosso ruído mental e emocional, silenciar a mente para escutar e contemplar a portentosa e prodigiosa vida do universo da qual somos inseparáveis. Escutar e contemplar, seus arrogantes filhos mais recentes, as coisas primordiais, vastas e profundas. O uivo do vento, o cair da chuva, as estranhas formas das nuvens, o brilho dos astros, o rumor do oceano, o silêncio da terra, o crepitar do fogo, o ondulante murmúrio das florestas, o canto da matéria obscura, a luz, as sombras e as trevas do mundo.

Escutar e contemplar também os nossos companheiros na grande aventura cósmica, os animais. O ladrar do cão, o miar do gato, os gritos longínquos das gaivotas, o uivo dos lobos, o bramido dos elefantes, o silvo das serpentes, o zumbido das abelhas, o lento rastejar do caracol.

Contemplar e escutar na multidão de formas e movimentos do Grande Todo a revelação contínua de quem realmente somos, este ser ilimitado que as fronteiras da pele de um corpo humano não podem conter. Captar as mensagens que em linguagens e línguas múltiplas constantemente se nos dirigem, expressando ideias, sentimentos e sensações para as quais as pobres mentes e línguas humanas não têm conceitos nem palavras. Despertar. Deixar de ser surdos e cegos para a grande conversa e convívio cósmicos.

Escutar a voz da terra, das fontes, dos rios, das plantas, das pedras, do vento, dos planetas, das estrelas. A voz da formiga e da aranha, do cavalo e do javali, do tigre e da borboleta. E falar então, falar com tudo e com todos. Falar com os rios, as tartarugas e os peixes, os montes, as codornizes e os lagartos, os bosques, os pássaros e os esquilos, as montanhas, as águias e os falcões, as grutas, as salamandras e as lesmas, as florestas, a lua e as corujas, os mosquitos, os charcos e o sol. Falar com palavras e em silêncio, confidenciar-lhes a nossa intimidade e sermos fiéis confidentes da sua. Escutar e dialogar no coro das vozes do mundo, aprendendo tudo o que se não ensina nas escolas do verbo íntimo que por todas perpassa, sentindo inseparáveis de nós as presenças e vidas invisíveis e sagradas que em todas se manifestam.

Abrir e alargar a consciência da sociedade dos humanos à imensa comunidade e comunhão cósmicas. Os cegos, surdos e mudos que só ouvem e falam à escala humana, os débeis de espírito que só lêem e compreendem livros e coisas escritas e se encerram nas artes, ciências e letras, os estreitos de coração que só trocam afectos com o animal humano, os falhos de comunicação que a limitam à tecnologia e aos media, poderão chamar-te louco e rir-se de ti, mas esse é o ridículo preço a pagar por te curares da loucura que eles têm por normalidade e entrares na Grande Empatia, na Grande Conversa e na Grande Lucidez."

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