sábado, 31 de maio de 2014

Na peugada da beleza



Zinzinhos felizes
(Fotos de Zim)
 
 
Beleza no conceito, beleza nos materiais, beleza na forma, beleza no pisar, beleza no design, beleza no estilo, beleza no serviço, beleza em toda a parte da NAE (No Animal Exploitation). 
 
Vegan e preocupada com a não exploração ilícita da mão de obra, esta empresa portuguesa, da qual sou fã confessa e que me continua a surpreender com os seus modelos e técnicas só adquire produtos em países em que, no que seja possível controlar, a referida exploração não se verifique. A ética  e a confiança, desde a conceção, passando pela produção e até ao consumo constituem as meninas dos olhos deste projeto encantadoramente belo e que gera beleza.
 
Acima, as minhas novas paixões, compradas há muito poucos dias! As botas para a caminhadas campestres, os sapatos... bem, para a própria da lua, de tão lindos. Cortiça I love you.
 
Relembro a entrevista que fiz à Paula Pérez, fundadora, há uns anos, para o Ciência Hoje.
 
Brinde à beleza que alegra a vida!

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Silva, Vista Pro Mar - É favor parar tudo, preciso dizer o quanto amei

 
É Preciso Dizer foi a primeira do disco a apaixonar-me, com esta batida que cai como... cacau, festa, avião a jato, sei lá... 
 
 
Meus caros, há aqui "acontecência", e da melhor. Já tinha ouvido desatentamente uma música, e ouvi falar muito bem. Mas hoje, sabem, hoje, a doçura das coisas presentes e que, revelando-se, também nos reinauguram. Hoje fui à FNAC e atraída pelo destaque, pelo nome, pelo título, pela capa, quis ouvir um pouco. Trouxe-o, evidentemente, comigo.
 
Este novo disco do brasileiro Silva, Vista Pro Mar, foi lançado num ainda jovem 2014, com gravações em Vitória, no Brasil, e Lisboa, Portugal. Quem faz isto aos 25 anos já tem de ser um músico gigante. Nem sei por onde começar.
 
Vista Pro Mar é uma arquitetura sublime em cada faixa e no seu todo, uma prodigiosa engenharia sintetizadora da mais cativante e elegante eletrónica e do intemporal, perfeitamente tangidos pela voz tão bonita de Silva, ora distante ora bem perto do nosso ouvido. Tem a modernidade em flecha e um travo enxuto dos 80's, num torvelinho emocionante difícil de conter. Silva disse que queria um disco com "cara de praia". Sim, mas é muito mais do que esta aparentemente simples alusão poderia deixar supor. Este disco é um mar a invadir-nos os olhos e todos os sentidos, desde a frescura levíssima do Báltico não se apossara de mim uma tamanha sensação marítima de aventura e delícia. Vista Pro Mar inclui mergulhos no mar, léguas liquefeitas num prazer sofisticado, alegre, contente e extasiado, cheira a maresia, protetor solar, sabe à nossa comida preferida, queremos usá-lo como um vestido leve e ser astronautas em Terra. É uma vela a içar-se, um barco a partir e abraços carnais cheios de risos. É um azul que se dilui em exultação muscular, em elixir existencial, em turbina, em altifalante de criaturas feéricas e urbaníssimas, o sol a estalar, como pão quente, a apascentar a sua bênção nas paredes das casas. É eletricidade lunar. É uma manhã interminável, um dia com a justa isenção das horas. Justa como o exato virtuosismo de Silva. É a dança infrene da espuma das ondas e os gritos das gaivotas. É o corpo reunido ao sonho e elevado ao prazer num marulhar beatífico de extra ultra luxuosa e sugestiva impressão. É uma felicidade.
 
Proibido perder isto.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Obrigada leitores deste Mundo!

Apesar do caráter irrequieto e errático deste blog, tenho verificado um crescimento de alguns públicos, e fico muito contente quando vejo que Estados Unidos, Ucrânia, Rússia, Suécia, China, Holanda, entre outros, aumentam o seu número de leituras, ou as inauguram. Grata muito ao meu Brasil querido, e ao meu querido País, Portugal, que naturalmente lidera o ranking dos leitores.
 
Estamos juntos, obrigada!

Ulisses

 
 

Foto de Zim
 
 
Começo por admitir as minhas falhas quanto à literatura clássica: não li a Odisseia na qual Homero, ou outro(s) por ele, narra as aventuras de Ulisses.  Ilíada sim, foi escrupulosamente lida até ao seu término. A duras penas, mas nos meus 18 anos que sabia eu de leituras realmente difíceis.
 
Do que eu me recordo, tive três grandes intentonas literárias, no sentido de terem representado um esforço hercúleo (seguindo na matriz clássica) para prosseguir e concluir a sua leitura: Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, Ontem não te vi em Babilónia, de António Lobo Antunes, e Ulisses, de James Joyce. Dos três,  a minha preferência vai integralmente para o primeiro, apesar da estrondosa dificuldade que  coloquialidade sertaneja da narração impõe - um peso pesado, mas uma maravilha. O livro que refiro de Lobo Antunes foi o único seu que li, a justaposição permanente de episódios, discursos, reminiscências, fizeram desta uma experiência de leitura interessante e intrincada, mas muito incompleta e baralhada. À última obra citada (com o peso de mil construções graníticas!) acabei-a ontem.
 
Comecei a ler Ulisses (que comprei por impulso ao ver a bonita edição da Relógio D' Água, lançada em Novembro último) nos últimos dias de 2014. Das poucas vezes que lhe peguei desde o início do ano dei-lhe uns bons avanços. Não interrompi com outra leitura: o sacrifício impôs-me uma fidelidade pragmática. Este foi, sem dúvida, o livro mais difícil de ler, para mim, até hoje. As razões são várias, e dada a natureza da sua escrita, aliás, das suas escritas, até a sua dimensão, umas potentes 730 páginas, dá uma ajuda para exaurir o leitor. Mil saravás ao tradutor, Jorge Vaz de Carvalho, porque deve ter sido absolutamente exasperante, talvez tanto quanto fascinante, traduzir o inglês, o inglês-onomatopeico, o inglês-doidivanas e o inglês inventado de Joyce. Joyce parece, com efeito, pretender enlouquecer-nos, levar-nos por um labirinto de horrores, de truques filológico, de detalhes sordidamente despropositados, deslocados, mas que de ínfimos e presentes findam por autenticar o mundo que descreve, ou melhor,  narração em que nos arrasta, de uma forma muito peculiar. Hoje percebo bem a importância do livro, a razão de ser uma referência, e para muitos o instaurador do romance moderno: não creio, de facto, que o arrojo, que as diabólicas tropelias de Joyce tenham lugar em muitas obras editadas. O fôlego, a perdição e a obstinação, quase irracional, da sua porfiada demanda de cenários. O autor demorou sete anos a finalizar Ulisses (1914-21) mas a história passa-se num único dia, em Dublin. Não há um grande enredo, como de resto costuma suceder nas minhas histórias preferidas. Há três personagens que se destacam, na proa Leopold Bloom, e contam-se encontros, conversas filosóficas, conversas ébrias, desconexas, mutações de seres que julgamos oníricas (mas, naquele contexto, naquele texto, ao sabor daquela pena doida, por que não reais??), uma jornada atribulada entre dois homens de diferentes gerações, as fugas de si de Bloom, talvez sobretudo para trás, os seus ideais e as suas peias, e a figura velada de Molly Bloom, apenas cruamente autorrevelada no final da história. Ao longo de diversos capítulos com estilos literários muito diferentes, está presente uma relação com a Irlanda, uma espécie de convocação da gesta antiga, esta, e uma certa vontade de emulação épica da Inglaterra. Uma obsessão de menção religiosa  malcriada de Joyce, provocadora, execrável também, na boca de alguns personagens (o que, entre outros detalhezinhos do livro, lhe valeram uma adicional Odisseia quando se tratou da sua publicação, com tribunais ao barulho, o costume), a loucura alienada, a sexualidade latente e, por vezes, fremente das figuras que desfilam ao som da dissonante sinfonia do autor. Uma pequena peripécia, cheia de enormes pequenas histórias. Dizem os críticos que  organização da obra pretender representar, no seu estilo, as diferentes fases da Odisseia. Disso, como vos disse, não posso falar. Mas posso dizer-vos que achei logo que a Beat Generation, da qual sou uma fã entusiasta, tiveram de ter tido uma inspiração Joyciana tempestuosa, e fiquei contente por ver que um dos críticos literários, quando do lançamento de Ulisses, afirmou que depois de Whitman não lera nada assim. Sabe-se da referência de Whitman nos beats...
 
Não foi, e duvido que alguma vez se torne um dos mus livros preferidos. Duvido, mesmo, que o queira reler. Talvez, daqui a vários anos,  como exercício literário-cerebral-ginasticante. Até porque o desentendo, mais do que entendo. Para mim a forma é essencial no romance, e na maior parte das vezes a forma de Ulisses desagrada-me. Há, no entanto, rasgões geniais, percebendo-se que o autor dominava com absoluta excelência a arte da escrita refinada, elevada, que sai numa correria poética desenfreada e que nos deixa, naqueles momentos, encantados. Mas não era essa a maneira que entendeu contar-nos toda esta história. Ulisses é um pugilato literário, uma luta estrénua para ser escrito e para ser lido, e se Bloom sua as estopinhas quem somos nós, leitores audazes, para não passar pelo mesmo?
 
Deixo alguns excertos abaixo. Aventurem-se, quando vos apetecer. Respirem fundo, e força.


"Rapazes, é agora. São 12 e 25 hora de Deus. Digam à vossa Mãe que vocês lá estarão. Despachem-se com o vosso pedido e jogareis o ás de trunfo. Alistai-vos aqui mesmo! Reservai bilhete para a eternidade, trajeto sem paragens. Só uma palavra mais. Sois deuses ou uma cambada de imbecis? Se o segundo advento chegar a Coney Island estamos preparados? Florry Cristo, Stephen Cristo, Zoe Cristo, Bloom Cr...isto, Kitty Cristo, Lynch Cristo, depende de vós sentir essa força cósmica. Estamos com miúfa do cosmos? Não. Fiquem do lado dos anjos. Sejam um prisma. Vocês têm aquela coisa dentro de vós, o eu superior. Podem ombrear com um Jesus, um Gautama, um Ingersoll. Vocês estão todos nesta vibração? Eu digo que estão. Uma vez que saquem isso, congregação, uma passeata até ao céu torna-se algo trivial. Entendeis-me? É um abrilhantador de vida, asseguro-vos. O que de mais excitante já existiu. É uma torta inteira com doce dentro. É simplesmente a linha de saída mais catita e animada. É imensa, supersumptuoso. Restaura. Vibra. Eu sei e sou uma espécie de vibrador."
 
 "Você morre pelo seu país, digamos. (...) Não que eu lhe deseje isso. Mas eu digo: o meu país que morra por mim. Até ao presente foi isso que ele fez. Eu não quero que ele morra. Que se dane a morte. longa vida à vida!"
 

" - Não podemos mudar o país. Vamos mudar de assunto."
 
 "Porque havia uma frustração recorrente de o deprimir mais?
Porque no ponto crítico decisivo da existência humana ele desejava corrigir muitas condições sociais, o produto da desigualdade e da avareza e da animosidade internacional."
 

" Que afinidades lhe pareciam existir entre a lua e a mulher?
A sua antiguidade em preceder e sobreviver a sucessivas gerações telúricas: a sua predominância noctuna: a sua dependência satelítica: o seu reflexo luminar: a sua constância durante todas as suas fases, erguendo-se e pondo-se às suas horas marcadas, crescendo e minguando: a invariabilidade forçada do seu aspecto: a sua resposta indeterminada à interrogação não afirmativa: a sua potência sobre águas efluentes e refluentes: o seu poder de enamorar, de mortificar, de conferir beleza, de enlouquecer, de incitar e auxiliar a delinquência: a tranquila inescrutabilidade do seu rosto: a terribilidade da sua isolada dominante implacável resplandecente propinquidade: os seus presságios de tempestade e de calmaria: o estímulo da sua luz., do seu movimento e da sua presença: a admonição das suas crateras, dos seus mares áridos, do seu silêncio: o seu esplendor, quando visível: a sua atracção, quando invisível."
 
"(...) oh e o mar o mar carmim por vezes como fogo e os esplêndidos poentes e as figueiras nos jardins de rosas e os jasmins e os gerânios e os cactos e Gibraltar quando eu era rapariga onde eu fui uma Flor da montanha (...) e depois eu pedi-lhe com os olhos para pedir de novo sim e depois ele pediu-me se eu queria sim dizer sim minha flor da montanha (...)."


sábado, 17 de maio de 2014

Bikanal

 



Escolhas tamborínicas

Não se tratou de uma bacanal, mas de uma verdadeira bikanal. Onde?, perguntam os mus mimosos e afogueados leitores. No El Corte Inglês, onde hoje me deu para ir depois de muuuuuitos anos. Passei por lá umas ótimas horas, e gostei de ver que, entre coisas caras de dar dó, há muitas coisas a excelentes preços também, e foi isso que aproveitei.
 
Entre as aquisições, contam-se as de bikinis. Sim, a vossa Zim perdeu umas toneladas e já concebe bikinizar-se novamente. Não que antes não fosse o que usasse. Bom, mas isto tudo para vos alertar que o 7º piso do El está cheio de bikinis e fatos de banho de todos os tamanhos, feitios, cores, padrões e preços. E deliciosos! Por isso, e sem publicidade alguma que não gratuita, espicaço as queridas leitoras a voejar por lá.
 
Dois dos modelos que comprei, da giríssima coleção da Sfera, acima, para vossos venturosos olhos.

Quanto ao supermercado do El, pois bem, foi a primeira vez que visitei: deslumbre! Muita oferta biológica e muito razoável presença vegan. Brindinho.

domingo, 4 de maio de 2014

Amar Portugal

 

(Portugal - Foto de Zim)
 
 
Continuando no meu internamento campestre, com vários passeios deliciosos cada dia, ocorreu-me hoje o que, em boa verdade, me tem vindo sistematicamente ao pensamento nos últimos tempos: como não amar Portugal? (Ok, e a Espanha, a França, a Itália, o mundo, mas...) Numa curta estadia na Dinamarca, em conversa fortuita com uma simpática local e com direito a uma sessão fabulosa de jazz onde ela não ia há séculos, diz-me a senhora do seu país que não tinha a diversidade do nosso. Acreditei piamente, pois fiz uma viagem de comboio até Helsingor (famoso local shakesperiano), e a natureza pareceu-me bonita e monótona, na sua direiteza verde, na ausência de incidente orográfico, na discrição dos efeitos da paisagem.

O nosso pequeno País consegue concentrar em si um delicioso punhado de uma generosidade estética incrível. As maravilhas do Douro, as fragas e as serras, os rios e os regatinhos, as curvas e contracurvas transmontanas, a doçura montanhosa do centro, as nossas latadas, os nossos carvalhos, o nosso pinhal, as festas da aldeia, a poesia da lezíria, a imensidão alentejana, os mares sem fim e as fofas areias algarvias. As nossas aldeias de pedra, as nossas cidades de luz, as nossas quatro estações e a delícia do nosso sol e céu azul! Os nossos costumes brandos, às vezes de endoidecer qualquer um, mas muitas vezes gentis e solidários. O nosso património literário de infinita beleza e impressão, impressão queiroziana, camoniana, camiliana, pessoana, andradiana, o'neilina, breyneriana, carneiriana, jorgiana, saramaguiana, fonsequiana, rosiana, garrettiana, pascoaesiana, borgiana, rodriguesiana, migueisiana, tantas mais anas! Os semblantes inesquecíveis de Teixeira Lopes, para sempre esculpidos na sua saudade, o sol frutado nas telas de Silva Porto, a demanda de Amadeo Sousa Cardoso, a avalanches retas e errantes de Vieira da Silva, talentos musicais (muito menos do que gostaria, mas puríssimo luxo quantos existem maiores) como Madredeus, Teresa Salgueiro, Sérgio Godinho, Fausto, B Fachada, Rui Veloso, Abrunhosa, Sara Tavares, os filmes fábulas fabulosos de Manoel de Oliveira, as personagens de Leonor Silveira, de Maria de Medeiros, de Luís Miguel Sintra, de Eunice Munõz, os traços viventes de Siza, o desenho de Souto Moura, a imaginação instigante de Ana Salazar, o Cristiano Ronaldo, o Mourinho, o FC Porto, o fado (não muito fã, mas com estes pensamento hoje até me veio à mente "é uma casa portuguesa com certeza" ), o deslumbramento dos nossos vinhos, da nossa Sagres, da nossa comida e doçaria (versões vegan  é claro), a nossa Farinha 33, o nosso pão! Os nossos guinesses malucos, a nossa História rocambolesca, apaixonante, pioneira, referência, o encontro de culturas em que participámos. A nossa revolução com cravos, a nossa lógica felizmente republicana, a nossa língua! A língua mais bonita do mundo, aos meus ouvidos, às minhas retinas, às minhas sensações, ao céu da minha boca. A nossa aspereza meiga, o nosso pensamento-seiva, o nosso desenrascanço, diacho! O nosso Humberto Delgado, o nosso Aristides Sousa Mendes, as nossas pronúncias!
 
O nosso caminho, a nossa alienação entre o totó e o búdico, o nosso provincianismo por vezes torpe, por vezes terno, o nosso portal Sapo. A nossa proximidade de fechar o País num abraço, de Miranda do Douro a Sagres, de Vila Real de Santo António a Caminha! As nossas águas frescas, os nossos olhos castanhos, o nosso Interior, o nosso Litoral, a nossa Psique psicadélica, o nosso rir de nós próprios, as nossas ilhas oníricas floridas, verdes, douradas e lindas, a nossa paixão que, aqui e ali, pisca luminosa e fecunda, o nosso Império da saudade.
 
Antes dizia amar o Brasil. Continuo a amar, é o meu outro país, o país-casa, o país-palavra-língua-casa também. Mas aprendi e felizmente, a percorrê-lo, a desesperar-me, a desentendê-lo e a fruí-lo, a ser com ele no tempo, a ser com ele no espaço, a amar Portugal.
 
Como não?




sexta-feira, 2 de maio de 2014

Esmeros campestres

 




 
 
 
 
Fotos de Zim
 
 
No campo, onde me dedico a tentar esquecer que Lisboa, em particular, e o Planeta Terra, em geral, existem, emergem das sombras e das clareiras solares ânsias laboriosas que urge atender. Há que não empurrar a formiga com demasiada força, que observar a pegada do porco javali, que beber água diretamente do regato corrente deitada no chão, como o meu Pai me ensinou hoje (beijinhos querido, se estiver a ler). É necessário apalpar a rosa que, fechada e gorda, guarda seleta a pulsação gloriosa do seu porvir. Polpuda e linda, aquela rosa cujo olor o nariz investiga e a mente expande um pouco mais. É preciso, para alívio são da consciência, certificarmo-nos de que não há já, efetivamente, rastro de flor das acácias. Mas aplaude-se a giesta remanescente, que bebe o sol e no-lo devolve, amarela, com a sua dançante claridade e deliciosa alegria. Imperiosa é a deteção exata da melhor sombra para mastigar, mascar e snifar o bom do Ulisses - Joyce, seu grande malandro! Atentar nos sabores maravilhosos que a terra dá, na hora do piquenique. Descortinar a ribeira aos pés frescos dos salgueiros e ficar perplexo ante uma árvore que pinga água. Ensaiar meditações, mergulhar na vetustez amantíssima da solidão da natureza, saudar os raios de ouro do fim da tarde e nadar no céu estrelado, transbordante de noite e de imensidão.
 
It's a dirty job, but...