sexta-feira, 2 de maio de 2014

Esmeros campestres

 




 
 
 
 
Fotos de Zim
 
 
No campo, onde me dedico a tentar esquecer que Lisboa, em particular, e o Planeta Terra, em geral, existem, emergem das sombras e das clareiras solares ânsias laboriosas que urge atender. Há que não empurrar a formiga com demasiada força, que observar a pegada do porco javali, que beber água diretamente do regato corrente deitada no chão, como o meu Pai me ensinou hoje (beijinhos querido, se estiver a ler). É necessário apalpar a rosa que, fechada e gorda, guarda seleta a pulsação gloriosa do seu porvir. Polpuda e linda, aquela rosa cujo olor o nariz investiga e a mente expande um pouco mais. É preciso, para alívio são da consciência, certificarmo-nos de que não há já, efetivamente, rastro de flor das acácias. Mas aplaude-se a giesta remanescente, que bebe o sol e no-lo devolve, amarela, com a sua dançante claridade e deliciosa alegria. Imperiosa é a deteção exata da melhor sombra para mastigar, mascar e snifar o bom do Ulisses - Joyce, seu grande malandro! Atentar nos sabores maravilhosos que a terra dá, na hora do piquenique. Descortinar a ribeira aos pés frescos dos salgueiros e ficar perplexo ante uma árvore que pinga água. Ensaiar meditações, mergulhar na vetustez amantíssima da solidão da natureza, saudar os raios de ouro do fim da tarde e nadar no céu estrelado, transbordante de noite e de imensidão.
 
It's a dirty job, but...

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