sábado, 20 de setembro de 2014

Parabéns e Abraçaço!

Caetano canta Parabéns no seu lindo Abraçaço



Pois algodónicos, ninguém o diz mas já lá vão 3 anos de Alegoria da Primaverve, nado a 20 de Setembro de 2011. Mesmo com intermitências, apesar das suas maluqueiras, das suas maleitas cerebrais, dos seus desconchavos, é sempre comovente a fina camada de sabedoria e extrema sensibilidade que perpassa nestas etéreas páginas homéricas.
 
É uma sensação um pouco estranha porque, se por um lado, o tempo voou e voa, parece que estou aqui convosco há muito mais tempo. Com os textos, com a Jangada Poética lateral, com todos os separadores de cima com tamborínicos rastros.
 
Nada melhor do que comemorar com o que é para mim o maior artista vivo - e bem vivo! - , Caetano Veloso. Intimamente, e nesta canção, agradeço a todos os magos que me inspiram e vão salvando: músicos, cantores, pintores, realizadores, criadores, talentosos fofoqueiros, amigos e, principalmente, aos meus fiéis e maravilhosos leitores. A si, leitor, a si, leitora, em qualquer canto do mundo onde esteja.
 
Estamos juntos.
 
Beijinhos e abraçaços, e grata milhões.
 
Parabéns Alegoria!

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Eu no Ciência Hoje

Ao deixar a Gestão de Ciência e a Tecnologia (mas não a Gestão de Administração Pública, acalmem-se, estruturas da Nação!), deu-me para escrever este artigo simples mas creio que bastante significativo para o Ciência Hoje.
 
Psssssst, espie, leitor d'aquém e d'além mar! Estou à sua espera entrelinhas.

sábado, 13 de setembro de 2014

Um elixir feliz



Odette Toulemonde (Lições de Felicidade em português) - trailer


Odette Toulemonde encarna a alegria leve de um espírito simples e delicado, na sua vida organizada e fisicamente apertada, nos seus trabalhos regrados, na generosa atenção que vota aos outros e ao facto, por acaso não um pormenor, de estar viva. Odette sabe ser arrebatável, e continuo a achar que esse é o prumo seguro, o rumo desejado, a rota mágica da nossa sobrevivência maior, para lá da vida de todos os dias - a farinha, o açúcar e o sal da nossa demanda de felicidade.

Esta mulher, cujo sorriso nos inunda a existência, acaba por ter a oportunidade que sempre desejou: conhecer o seu escritor preferido, o que lhe tira os pés da terra, o que toma como seu pessoal salvador. Escritor de massas e boa pinta, não atravessa porém o melhor dos momentos, e é entre tensões, apreensões e simplicidades complexas que os seus caminhos se encontram face a face. De que valem os estereótipos na literatura e, mais ainda, na vida?

Um filme franco-belga delicioso e com um comovente perfume de surpresa, escrito e realizado por Eric-Emmanuel Schmitt, e interpretado por uma esplendorosa Catherine Frot, que bem prova não terem a beleza e a frescura qualquer data de validade credível. Credíveis são os olhos dela, credível é a imagética feliz desta história.

Não percam, há na FNAC baratinho. Deixo o trailer.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Como inundar uma cozinha


- Zzzocorroooo!!!...


De boas intenções está o inferninho apinhado e é bem certo, e eu que o digite, leitores empáticos, eu que o digite.

Houve obras no apartamento ao lado. (Em breve, também as haverá, essas harpias medonhas, no prédio inteiro, mas sobre isso quem sabe, com o tempo, outros posts se levantem.) Resumindo, achou-se por bem retirar as lindas plantas que tínhamos nas escadas, para não estragar o soalho novo que foi posto no dito cujo andar. Claro que ressabiei, sobretudo interiormente. Que se dane/wjrh394o/34 bc23 o i84cncgbc/dpçdldd/ jhfjerr do soalho! E a beleza luxuriante que todos os dias sorria esgaçadamente para mim ao subir as escadas, ao chegar a casa, ao felizmente meu querido último andar? Agora nada, é a lisura, o minimalismo no seu melhor, no seu maior, mas pelo menos o soalho fica intacto. Isto por causa da água das regas, etc.. Tudo bem. No fundo, o problema seria livrar-me de dois vasos enormes, um deles com uma planta enorme, alta, larga, folhuda, e o outro vaso (mas também enorme), com uma plantucha altinha mas para aí com uma folha e meia. Os dois pesadões. 

Importunar os senhores das obras, mediante um pagamento simbólico, para arrojarem com os vasos era uma hipótese, mas que não tive coragem de levar a cabo. Não me largava a ideia de que não tinha nada de aborrecer os trabalhadores de outrem com os meus dramas. Possuída, como habitualmente, por uma ideia palpitante, brilhante e fritante (e como a mesma me fritou!), resolvi-me a colocar as plantas na cozinha com a ajuda do tapete da entrada. Uma a uma, depositei-as no tapete, cujas pontas depois puxava, comigo obviamente de cócoras, até pertinho da janela da cozinha, para o soleil, para o solene bem-estar vegetal. Certo. Não fosse mal poder mexer-me entre as duas plantas, a despensa com o escadote encorpado preso na porta, as estantes dos sapatos e a máquina de lavar roupa. Tinha uma visita a fazer à minha querida amiga M. e à sua encantadora filha MM., minha sobrinha de coração. Atestada a exiguidade do espaço, resolvi dar um empurrãozinho à referida máquina de lavar. Ajoujando um pedaço o elemento, aumentava-se (ligeiramente) o espaço e senti-me um perfeita dona de casa e uma pessoa apta à imponderabilidade do aperto. Satisfeitíssima, pus roupa a lavar. Saio pela casa. Volto à cozinha...

Antes de entrar na cozinha, avistei, apavorada, uma maré de água a aproximar-se perigosamente do soalho do corredor. Entro na divisão: "água água água pra lavar a sede dessa multidão/ água água água pra lavar a alma e o coração", como canta a Daniela Mercury. Água! E mais água! Água a crescer, a avançar, a invadir. Precipito-me para a máquina, aborto-lhe a operação trituradora. Olho para trás do mostrengo, e percebi toda a origem do drama: ao empurrar a máquina, o tubo/borracha desprendeu-se da parede e, portanto, tudo o que entrava na máquina... saía para o chão, qual natural fontana das trevas! O horror, o exaspero. Tratei de ir buscar balde e esfregona, mas os meus tormentos mal tinham começado. A água acantonava-se, em resistência ibérica, atrás da máquina, e era impossível solucionar o caos se não fosse atacá-la na fonte. Claro que... empurrar é bem menos custoso que puxar, ora bien! Mas puxar, meus amigos, era o que me restava. Como puxar, porém, uma máquina maior do que nós, mais larga do que nós, mais possante do que nós? Ah, ah, mas não mais teimosa! Lá me agarrei aos ângulos da sinistra, eu própria angulosa, eu própria sinistrada, puxando como podia a máquina para a frente, ou simplesmente seria impossível retirar a água, que teimosamente refluía lá para trás. E era ancada para um lado, e mãozorras por outro, e suspiros e encontrões; dentre tais exercícios, o espaço entre a máquina e a parede proporcionou-me um campo de manobra impiedosamente mínimo, mas ainda assim um campo de manobra. Probleminha... acima da máquina temos uma estante em madeira, e acima desta um armário. Havia, portanto, que adestrar com fina sabedoria a capacidade do esgueiranço. Sento-me na capivara, voltada para a frente, agacho a cabeça e o torso o mais que posso, sucedendo-se um bolshoiniano rodopio de ambas as pernas em direção à parede. Rodo, portanto, sobre mim mesma, descabelada, exausta, cansada e atrasada, e esgueiro-me para o buraco, onde obviamente não conseguia permanecer de pé. Com a esfregona, balde, vassoura, faço o meu melhor. Quase urrei: parem as águas, ao invés de as separar. Com mosaica resiliência, e verificando que era debalde que o balde se esforçava só com a esfregona, voltei a pular para cima da máquina, desta feita virada para a parede, rodopio sobre mim mesma, reviro-me, bufo, esbravejo, bato com os braços, faço nódoas negras, e salto para o chão em busca de toalhas turcas. Muitas, várias. Espalho por todo o chão, levo um monte para a máquina. Volto a pular, a rodopiar, a acachapar, fico no buraco a mandar cabeçadas, a soltar imprecações e a atirar toalhas turcas para o chão, e a torcê-las. A torcê-las como ao pescoço da máquina, a pôr-lhes a alma para dentro do balde. Mas ah!... A água era tanta! Não chegavam as toalhas. Salta, rodopia, escorrega, chão, mais toalhas. Bingo, ideia-luz: fui buscar lençóis polares. Sim, lençóis polares! Bela absorção, tamanhaço convincente, avante camaradas, pula, bate com a cabeça, rodopia, etc.. Esgotada de água sobre água, rodeada de água por todos os lados, e depois dos turcos e dos polares, tiro as próprias calças de pijama que tinha vestidas e atiro-as também para o chão. Todo o tecido é pouco, e quem o não aproveita é louco. Bah, baf, sim! A repetição desta gestualidade frenética funcionou, e aos poucos, e com grande intensidade depositada na cena, venci as águas.

A conclusão do assunto passava por voltar a pôr a máquina lá para trás sem dar cabo do tubo outra vez. Estava descabelada, encharcada, exaurida, atrasada (mas já tinha remarcado), sem forças, ah... mas elas vieram. Agachei-me, e foi um dar graças aos glúteos gigantescos, e um agradecer mentalmente às pernas entroncadas e à fortaleza-delicada da coluna, e à resistência corporal que a minha vertente campestre me deve ter enxertado... Às calorias em reserva, à força bruta que sempre dá um arzinho da sua graça quando necessária. E foi rabada, ancada, pernada, tudo eu e toda mim para cima do instrumento... Mas com medida delicadeza, com ansiosa espera pelo seu exato mover, para que não se reproduzisse o drama, para que o tubo/borracha não alterasse o seu lugar na ordem do mundo. E dando graças pelas centenas de kms que mantinham a Mana afastada do cenário fairy tale... Foi duro, mas consegui.

Bafffffffffffffffffffffffffffffffffff.

Depois foi tirar água dos armários dos sapatos, repor cartões molhados no lugar, minimizar as provas do crime.

(A trasladação das plantas acabou por ser feita também por moi même, mas noutra ocasião (queriam o quê?!), e tratou-se de jungir o vaso ao meu corpo, e de descer os 3 andares como uma anormal, como se a planta me fosse um apêndice. E repetir com o segundo vaso. E oferecê-las à minha amiga e vizinha do rés-do-chão. E certamente tomar analgésicos depois.)

Ainda fui fazer a minha visita e outros afazeres externos. Mulher moderna, mulher moderna - que canseira, e que grotesca invenção!