sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Como inundar uma cozinha


- Zzzocorroooo!!!...


De boas intenções está o inferninho apinhado e é bem certo, e eu que o digite, leitores empáticos, eu que o digite.

Houve obras no apartamento ao lado. (Em breve, também as haverá, essas harpias medonhas, no prédio inteiro, mas sobre isso quem sabe, com o tempo, outros posts se levantem.) Resumindo, achou-se por bem retirar as lindas plantas que tínhamos nas escadas, para não estragar o soalho novo que foi posto no dito cujo andar. Claro que ressabiei, sobretudo interiormente. Que se dane/wjrh394o/34 bc23 o i84cncgbc/dpçdldd/ jhfjerr do soalho! E a beleza luxuriante que todos os dias sorria esgaçadamente para mim ao subir as escadas, ao chegar a casa, ao felizmente meu querido último andar? Agora nada, é a lisura, o minimalismo no seu melhor, no seu maior, mas pelo menos o soalho fica intacto. Isto por causa da água das regas, etc.. Tudo bem. No fundo, o problema seria livrar-me de dois vasos enormes, um deles com uma planta enorme, alta, larga, folhuda, e o outro vaso (mas também enorme), com uma plantucha altinha mas para aí com uma folha e meia. Os dois pesadões. 

Importunar os senhores das obras, mediante um pagamento simbólico, para arrojarem com os vasos era uma hipótese, mas que não tive coragem de levar a cabo. Não me largava a ideia de que não tinha nada de aborrecer os trabalhadores de outrem com os meus dramas. Possuída, como habitualmente, por uma ideia palpitante, brilhante e fritante (e como a mesma me fritou!), resolvi-me a colocar as plantas na cozinha com a ajuda do tapete da entrada. Uma a uma, depositei-as no tapete, cujas pontas depois puxava, comigo obviamente de cócoras, até pertinho da janela da cozinha, para o soleil, para o solene bem-estar vegetal. Certo. Não fosse mal poder mexer-me entre as duas plantas, a despensa com o escadote encorpado preso na porta, as estantes dos sapatos e a máquina de lavar roupa. Tinha uma visita a fazer à minha querida amiga M. e à sua encantadora filha MM., minha sobrinha de coração. Atestada a exiguidade do espaço, resolvi dar um empurrãozinho à referida máquina de lavar. Ajoujando um pedaço o elemento, aumentava-se (ligeiramente) o espaço e senti-me um perfeita dona de casa e uma pessoa apta à imponderabilidade do aperto. Satisfeitíssima, pus roupa a lavar. Saio pela casa. Volto à cozinha...

Antes de entrar na cozinha, avistei, apavorada, uma maré de água a aproximar-se perigosamente do soalho do corredor. Entro na divisão: "água água água pra lavar a sede dessa multidão/ água água água pra lavar a alma e o coração", como canta a Daniela Mercury. Água! E mais água! Água a crescer, a avançar, a invadir. Precipito-me para a máquina, aborto-lhe a operação trituradora. Olho para trás do mostrengo, e percebi toda a origem do drama: ao empurrar a máquina, o tubo/borracha desprendeu-se da parede e, portanto, tudo o que entrava na máquina... saía para o chão, qual natural fontana das trevas! O horror, o exaspero. Tratei de ir buscar balde e esfregona, mas os meus tormentos mal tinham começado. A água acantonava-se, em resistência ibérica, atrás da máquina, e era impossível solucionar o caos se não fosse atacá-la na fonte. Claro que... empurrar é bem menos custoso que puxar, ora bien! Mas puxar, meus amigos, era o que me restava. Como puxar, porém, uma máquina maior do que nós, mais larga do que nós, mais possante do que nós? Ah, ah, mas não mais teimosa! Lá me agarrei aos ângulos da sinistra, eu própria angulosa, eu própria sinistrada, puxando como podia a máquina para a frente, ou simplesmente seria impossível retirar a água, que teimosamente refluía lá para trás. E era ancada para um lado, e mãozorras por outro, e suspiros e encontrões; dentre tais exercícios, o espaço entre a máquina e a parede proporcionou-me um campo de manobra impiedosamente mínimo, mas ainda assim um campo de manobra. Probleminha... acima da máquina temos uma estante em madeira, e acima desta um armário. Havia, portanto, que adestrar com fina sabedoria a capacidade do esgueiranço. Sento-me na capivara, voltada para a frente, agacho a cabeça e o torso o mais que posso, sucedendo-se um bolshoiniano rodopio de ambas as pernas em direção à parede. Rodo, portanto, sobre mim mesma, descabelada, exausta, cansada e atrasada, e esgueiro-me para o buraco, onde obviamente não conseguia permanecer de pé. Com a esfregona, balde, vassoura, faço o meu melhor. Quase urrei: parem as águas, ao invés de as separar. Com mosaica resiliência, e verificando que era debalde que o balde se esforçava só com a esfregona, voltei a pular para cima da máquina, desta feita virada para a parede, rodopio sobre mim mesma, reviro-me, bufo, esbravejo, bato com os braços, faço nódoas negras, e salto para o chão em busca de toalhas turcas. Muitas, várias. Espalho por todo o chão, levo um monte para a máquina. Volto a pular, a rodopiar, a acachapar, fico no buraco a mandar cabeçadas, a soltar imprecações e a atirar toalhas turcas para o chão, e a torcê-las. A torcê-las como ao pescoço da máquina, a pôr-lhes a alma para dentro do balde. Mas ah!... A água era tanta! Não chegavam as toalhas. Salta, rodopia, escorrega, chão, mais toalhas. Bingo, ideia-luz: fui buscar lençóis polares. Sim, lençóis polares! Bela absorção, tamanhaço convincente, avante camaradas, pula, bate com a cabeça, rodopia, etc.. Esgotada de água sobre água, rodeada de água por todos os lados, e depois dos turcos e dos polares, tiro as próprias calças de pijama que tinha vestidas e atiro-as também para o chão. Todo o tecido é pouco, e quem o não aproveita é louco. Bah, baf, sim! A repetição desta gestualidade frenética funcionou, e aos poucos, e com grande intensidade depositada na cena, venci as águas.

A conclusão do assunto passava por voltar a pôr a máquina lá para trás sem dar cabo do tubo outra vez. Estava descabelada, encharcada, exaurida, atrasada (mas já tinha remarcado), sem forças, ah... mas elas vieram. Agachei-me, e foi um dar graças aos glúteos gigantescos, e um agradecer mentalmente às pernas entroncadas e à fortaleza-delicada da coluna, e à resistência corporal que a minha vertente campestre me deve ter enxertado... Às calorias em reserva, à força bruta que sempre dá um arzinho da sua graça quando necessária. E foi rabada, ancada, pernada, tudo eu e toda mim para cima do instrumento... Mas com medida delicadeza, com ansiosa espera pelo seu exato mover, para que não se reproduzisse o drama, para que o tubo/borracha não alterasse o seu lugar na ordem do mundo. E dando graças pelas centenas de kms que mantinham a Mana afastada do cenário fairy tale... Foi duro, mas consegui.

Bafffffffffffffffffffffffffffffffffff.

Depois foi tirar água dos armários dos sapatos, repor cartões molhados no lugar, minimizar as provas do crime.

(A trasladação das plantas acabou por ser feita também por moi même, mas noutra ocasião (queriam o quê?!), e tratou-se de jungir o vaso ao meu corpo, e de descer os 3 andares como uma anormal, como se a planta me fosse um apêndice. E repetir com o segundo vaso. E oferecê-las à minha amiga e vizinha do rés-do-chão. E certamente tomar analgésicos depois.)

Ainda fui fazer a minha visita e outros afazeres externos. Mulher moderna, mulher moderna - que canseira, e que grotesca invenção!



10 comentários:

Oscar Luz disse...

Uma Verdadeira Aventura, dentro da Própria casa!!!rsrsrs Adorei o texto.

Tamborim Zim disse...

Oscar, q alegria ler o seu comentário, muito obrigada! Aventurona... :)

Pagu disse...

Morri a rir até porque imagino bem a tua figura doida.

As lágrimas cairam hilariantes.

Bom mesmo era aqui a Mana ter entrado em cada numa altura daquelas. Aí sim......kkkkkkkk

Tamborim Zim disse...

ahahah Gratim tanto Mana! Mas tu a entrar nessa Hora... nãoooooo

Pagu disse...

Eu a entrar nessa hora seria o meu / teu / nosso fim....rsrsrrss

Tamborim Zim disse...

Nãooooooooooooooooooooooo

Anónimo disse...

ihihihihhiihhi :) :) :)
e grata, Zim!!!!!!!!!!!

Tamborim Zim disse...

ihihih dessssssssssssssssss

Esdras disse...

Grotesca invenção? que injusto! depois da escova progressiva foi a maior invenção humana para as mulheres.

Tamborim Zim disse...

ahahahaah