domingo, 22 de fevereiro de 2015

Alegoria da Grécia

Yanis Varoufakis e Alexis Tsipras, o duo dinâmico.
Foto da Reuters
 
 
Estimados, saravá!
 
Rápida, subreptícia, sibilina e murmurante, pssssssst !
 
Abram o olho. Os. Meus queridos, há que optar. A Alegoria da Primaverve está com a Grécia, com o povo grego, com o Yanis, com o Alexis, e com cada um que demonstrar esforços para honrar o primeiro compromisso de qualquer governo: servir honradamente o seu povo.
 
Por favor leiam e, se concordarem, assinem e partilhem esta petição online, que consiste numa carta aberta ao povo e ao governo gregos, por parte do povo português signatário. Será traduzida e entregue na Embaixada da Grécia em breve.
 
É que, camaradas, isto não é tudo a mesma coisa, não somos todas iguais. Eh bien.
 
Grata, beijos e abraços tamborínicos.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Versículos de um anjo insano


 
Nasci na antiga freguesia dos Mártires,

Antes de reordenarem Lisboa,

Viver é-me difícil

Como não seria, se abri a pestana

Em tal augúrio-freguesia?

Há poucas palavras no mundo

Poucas, contra um batalhão paradoxal de muitos dicionários, prontuários, gramáticas

Efetivamente, verifica-se um excesso de significados

De línguas, de sentidos

Para tão poucos vocábulos

Demasiados ouvidos, demasiados ouvires

Para estas palavras

Viver é-me difícil

Como não seria?

É-o em português, como seria em finlandês, mesmo em sânscrito

Mas em português é mais trágico

Naufragamos como ninguém

Deveríamos ser históricos pela grandeza do nosso naufrágio

Mais do que por comezinhas navegações à bolina ou ao desnorte

Adamastores somos nós

Viver é-me difícil

Que outro porto seria, com esta mesma bússola carregada de inércia e fado?

Há infinitos estertores de morte na boca dos vivos

Nas pregas de bocas idosas, nos dentes alvos jovens, nos músculos atletas, nos ziguezagues das conversas, nas montras, nos chapéus, nos volantes, nos pneus, na sombra lívida da lua até, por vezes

No guinchar dos bebés

Nos olhos tristes do cão, nas patas que malevolamente amarram aos pombos e que eu vejo, e isso viola o meu coração, sangra-me os dias, como é que engulo comida?

Muita construção civil, muito barulho, muitos gestos. Como aguentar a canseira dos olhos?

Depois há muitos canais de televisão, e isso torna a vida difícil a qualquer um, pois que as desgraças do mundo multiplicam-se em diferentes quadradinhos, que quintuplicam por sua vez as mil e seiscentas imagens sobre cada caso fatídico

Não há doze pessoas que morrem, há um milhão e vinte e quatro no mesmo episódio

Não são duas torres que rebentam, são seiscentas e quarenta e oito

Não são quatro bandidos, são um milhão, trezentos e noventa e cinco

É o cúmulo-limbo. Como não ser difícil viver?

São tão poucas frotas de navios

Para o tanto que precisaria de levar, para a abundância de atas dos concílios comigo, para as constituições pseudo liberais que redigi, inspirada nos trânsitos intestinais- oh, musa pia

A pia é uma musa e, leitor, não diga que não

Cada cagalhão, cada obra prima que sobe ao pensamento

Não diga que não

Há um estridor de folhas secas pelos passeios, por outro lado

E em ambos os lados da rua

Que me não deixa pensar

Viver é-me difícil

Às vezes ganho fungos nas unhas dos pés

Viver é-me difícil

Os cabelos branqueiam-me todos os dias

Viver é-me difícil

O Rio está muitas vezes muito longe da minha conta bancária

Viver é-me difícil

Odeio o sistema

Viver é-me difícil

O sistema odeia-me

Viver é-me difícil

A tiroide, a ânsia

Viver é-me difícil

A finitude dos dias que virão

Viver é-me difícil

A tua ausência

Viver é-me difícil

A minha ausência

Viver é-me difícil

O meu talento equívoco, intermitente, publicidade enganosa, díspar

Viver é-me difícil

A minha alegria entornada num chão de cinzas

Viver é-me difícil

Eu ser cinzas um dia

Viver é-me difícil

Eu ser

Viver é-me difícil

Eu

Viver é-me difícil

Não saber ser outra coisa

É-me difícil, ouviram?

Quero revoluções, quero faixas na rua,

Primaveras árduas

A gritar, a urrar

A matar por esta pequena e única

Única mesmo, de livro não sagrado

Única verdade

Que nem morrer me deixa

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Com o novo mês, uma coisa realmente boa

Algodónicos, nem sei que vos diga, provavelmente pensais, e com plausível tino, que este ano chegamos aos doze posts (um por mês, cof cof), mas se for para trazer coisas desta qualidade, que importa isso?
 
Foi hoje mesmo lançada uma página no Facebook sobre manifestações/ ações de rua em Lisboa, nestes últimos anos. Anos de espanto, de aperto, de medo, de solidariedades, de divas a marcharem com anarquistas (eu), de desfiles coloridos pelas ruas/rios/gaivotas de Lisboa, no rastro da Utopia, ou de mais qualificadas pistas utópicas. As palavras são armas, são descanso e ouro, voo, navegação, ansiedade, paz e transformação. Se as boas palavras não mudarem este espúrio mundo para melhor, morreremos, mudos, na praia porque, capazes de receber o sopro vivo do nosso sentimento, as palavras podem envolver como nata, encantar o planeta, acordar a Terra, salvíficas, escorrentes, imorredouras.
 
Como vívido registo, digno de uma perspetiva histórica, sobre o que diferentes homens e mulheres proclamaram, esperaram e sentiram nas ruas de Lisboa, em diversas frentes (independentemente da minha posição sobre as mesmas), e continuam a proclamar, esperar e sentir, tenho o prazer de divulgar a página, cujo título evoca a obra e a ideia de Zeca Afonso: Este rio, este rumo, esta gaivota .
 
Passem lá, e divulguem estas galerias de belíssimas fotografias e de vídeos emocionantes.
 
A inspiração também se colhe nestes momentos, nestes grandes e pequenos adventos.