terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Supernanny - fora do ar, já! (E já vai tarde.)

"Ai que a nossa SIC é tão linda e tão pedagógica, ai, agarrem-nos!!!!"

 
Em parte a culpa é minha por me enervar com estas coisas, mas se isso resulta em regressos pontuais à minha querida Alegoria e aos meus muito queridos leitores (grata por não desistirem!), já não é tudo prejuízo.
 
Quis o acaso que ontem apanhasse, na SIC, o debate sobre o programa Supernanny. Não vi o programa, nem vou ver, porque o que tem sido mencionado sobre o mesmo (de ambos os lados da polémica) e as peças que ontem passaram durante o debate são mais do que suficientes para o considerar abjeto. Aliás, o próprio conceito me parece abjeto. Apresentar, ao vivo e a cores, a intimidade de uma família numa televisão, expor crianças na sua relação com os pais e outros membros da família, filmar discussões, ralhetes, gritarias, lamber as quatro paredes daquelas pessoas até à saciedade é, além de horrendo, doentio. E, ainda para além disso, e no que às crianças toca, um claro abuso da sua imagem, da sua privacidade, da sua relação familiar. Independentemente de os pais quererem ou não participar e de as crianças gostarem ou não gostarem de estar a ser alvo de semelhante devassa.
 
Mas o que, para este ser sensível que eu sou, mais esfaqueou a já tão poucochinha (tem alguma?)  honra do programinha, foi a triste prestação de Conceição Lino, com quem até simpatizava, e de Júlia Pinheiro por quem, nunca tendo considerado nada por aí além, até tinha uma relativa estima televisiva. Conceição Lino francamente pior por ser, teoricamente, a "moderadora". Talvez bom, bom, tivesse sido chamarem alguém de outro canal, porque logo as comadres se apressaram em defesas veementes da querida casa mãe imaculada face às justíssimas e cheias de bom senso apreciações das representantes de associações de apoio à crianças e jovens. Mas como é que sabem que as crianças são prejudicadas, perguntava incessantemente Conceição Lino, com arzinho desafiador para escamotear a vacuidade do seu argumento. Ah, e não acham que ao terem levantado todo este movimento podem ter contribuído para prejudicar mais as famílias?, continuava, inaturável, a dita moderadora. Então mas e nas redes sociais as crianças não são expostas?, lançava, cheia de intelecto, Júlia Pinheiro. A SIC tudo o que quer é ser pedagógica e auxiliar as famílias na sua dificílima luta relacional, argumentava o duo que eu designo, por bondade, de mulherzinhas más, formado por Lino e Pinheiro. Estas insanidades iam desfilando entre sorrisinhos irónicos e olhares carregados, e sinceramente espero que tenham chovido telefonemas para a estação, porque se de pedagogia falamos, então que estejamos pelo menos abertos à sua prática mas, antes disso, à compreensão do que isso significa e às consequências que este tipo de atuação deve acarretar - a meu ver, na Justiça.
 
Do outro lado, percebia-se a honestidade da preocupação com o resguardo de seres menores, e do que foi ali chamado, e muito bem, de "direitos indisponíveis", ou seja, os pais não podem dispor dos filhos, nem da sua imagem e intimidade, como entenderem. Os problemas devem ser resolvidos com ajuda, naturalmente, sempre que os envolvidos disso tenham necessidade, mas não configurar um show televisivo. Mas alguém no seu perfeito juízo acredita que a SIC tenha alguma intenção ou prática pedagógica? Ou alguma outra televisão sem ser a RTP (e mesmo assim, tem dias e momentos e ondas...)??? Pensarão aquelas pessoas que as outras estão todas tão estupidificadas que aceitem a sua argumentação vã, a sua pretensa preocupação com sentimentos, relações, consequências? Não terão elas a definitiva certeza de que nós sabemos que elas sabem que nós sabemos que o que a estação quer é audiências???? Considero-me ultrajada, como espectadora, com os dislates proferidos, com a displicência demonstrada pela programação, pela defesa cega com que dardejaram a sua raivazinha contra as educadas e consistentes oponentes.
 
Supernanny, fora do ar, já! Tenham vergonha, decoro, dignidade, e não brinquem com a nossa nem com a das crianças portuguesas. Já basta!
 
 


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