quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A Terapia Nacional

E Tamborim Zim, nunca te esqueças...toma conta de Tara!...


A partir de determinada idade, diria talvez dos 30 anos (já que, em geral, considero as idades anteriores mais votadas ao Não Pensamento activo), devíamos ter sérias restrições aos devaneios e, pior, aos planos que nos ocorrem ao encéfalo quando este se encontra sob uma noite estrelada, em harmonia de natura e paz e grilos. Obviamente, o carácter melífluo de alguns momentos pode bem disfarçar a carga de trabalhos que forçosamente (entendam, forçosamente) se avizinha caso o romantismo saia da redondilha que já entretinham no vosso singelo idear para o plano da realidade.

Ora bem, estando eu imbuída, conforme o post de ontem permite aferir, do mais cândido espírito campestre, cogitei ontem à noite (uma noite boníssima, por sinal…eis todo o perigo), proceder à limpeza de uma estrada que já se atulhara demasiado de urzes e verduras hirsutas que tais. Como, segundo o poeta, “não há machado que corte a raiz ao pensamento” (verdade), hoje mesmo comecei a seleccionar os materiais que melhor me pareciam poder operar  a intentona. Como se, na verdade, não fossem os meus braços e costas e pernas a dar a foice ao manifesto. Mas eh bien…Lá comecei a mirar utensilagens inomináveis e alfaias mais familiares, e coloquei escrupulosamente de lado um machado, uma espécie de tesoura, um serrotezinho catita e sem ar ameaçador, dois pares de luvas capazes de já terem sido usadas por mil linchadores em quarenta mil linchamentos, um sacho e um ancinho. À falta de armamento não ficaria o projecto por realizar, e lá segui com a mochila e com o lanche e com todo o descrito rumo ao meu terreno de intervenção.

Deitei mãos à obra e depressa percebi que não me safaria com a espécie de tesoura nem com o serrotezinho catita, sendo mesmo duvidoso que o machado, não obstante não me cortar, em definitivo, “a raiz ao pensamento”, pudesse ali instituir alguma ordem sem que eu partisse a espinha de glúteos para o ar até conseguir desancar alguma coisa em condições com aquilo nas mãos. Agarrei-me ao sacho com aquela entrega dos fiéis e…sim, a terra cedia. Na verdade, a terra, as pedras, as raízes, a urze, (as minhas cruzes), as silvas, as ledas acácias infantis, enfim, depressa me edifiquei na certeza de que estava em ritmo matador e que um futuro a roçar mato até poderia vir a ter a sua graça.

As horas passavam e começava a endireitar-me com mais dificuldade, mas isso não me intimidava nem embotava a avidez das sacholadas homéricas que desferia em tudo o que entupia  a bendita e comprida  estradinha. Cheguei mesmo a ter pena daqueles seres arbustivos que, sem outra culpa que não a da sua simples existência, eram ali estraçalhados sem piedade. Pegava em arbustos grandes, arrancava raízes com as mãos enluvadas (duas luvas em cada mão, que sou da cidade), atirava troncos enormes ribanceira abaixo. Um saborzinho de sal chegou-me entrementes à língua semi-emudecida e, sim, acabava-me em suor.  Mas o resultado valeu a pena: estrada plenamente transitável por uns bons tempos. Admirei o feito, fotografei, exultei estafadamente.

Arrisco uma ideia: troquem as vossas colecções de neuras, tédios ou spleens por umas horas a limpar as matas deste nosso Portugal. Naturalmente que é desnecessária a desflorestação total, pelo que devem encontrar escapes complementares, mas a verdade meus amigos  é que…a pessoa atira ali com umas boas toneladas de frustração sedimentada para as profundezas do matagal. Experimentem, e brindem ao ano internacional da floresta. Eu também brindo com dois Flameril.

4 comentários:

Pagu disse...

Só queria ter estado lá, obviamente longe do teu desvairado raio de acção (acção: ainda sem acordo pois que eu ainda não assinei nada em como concordo), a ver as tuas investidas sobre tudo o que entupia a estradinha.

A tua figura devia ser hilariante. Escuso-me a perguntar com que modelito foste tu desempenhar essa homérica tarefa. Não te estou a ver com trajes de aldeia mas a indumentária por certo esteve de acordo com o grande momento. Aguardo foto.

Já quanto à terapia, ai pariga, se dar à machada e à ancinha é para dar conta das frustrações e rassabiamentos, pois que os há, dentro de poucas semanas não sobrará uma erva, uma flor, um arbusto, uma árvore, tudo o que se possa roçar neste bendito Portugalito.

Brindo a isso, para mim sem Flameril, de preferência.

Pagu disse...

Só mais um comentariozinho de rodapé para deixar aqui a minha esperança que entre tanta sancholada, não tenhas decapitado alguns dos eucaliptos do pai.

Sei lá, podes ter pensado que aquilo eram ervas daninhas, ervas danadas, arbustos manhosos....que me lembre, ainda há pouco tempo não distinguias uma nespereira de uma alface.....rsrsrs

Toma e vai buscar. A mastodonte está imparável.

Tamborim Zim disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Tamborim Zim disse...

ah ah ah ...Ora, claro que os eucaliptos de Papa n foram degolados nem decapitados. Tudo decorreu com precisão cirúrgica vídeo-assistida. Qto à foto...As fotos da Diva já estão devidamente dispostas no frontispício desta Monumenta Alegoricum, sendo até Vós, Pagu minha, a legítima autora de uma (inspiration em C. Skrein), q re-agradeço;) N espere, portanto, mais. N pedinche, n pedinche e largue mas é esses hábitos carnívoro-obsoletos. "Eu vejo um novo começo de era, de gente fina, elegante, sincera"...Salve Lulu Santos.