Um
Já tinha reparado que vários poemas da barrinha lateral falam de rio. Não de rios, mas do rio, de um rio. Daí que dei por mim meditabunda, comme toujours, a pensar na frequência do pequenino vocábulo em tantos instantes da criação (e da fruição) artística. A própria palavra parece ser o que diz: escorrega, líquida, no seu significado, toca-nos a fluidez rápida com que passa da boca à imagem que de imediato se rasga nas nossas mentes: rio. As palavras curtas têm poder, isso é sabido; vejam, por exemplo, Tambo. Ok... E há uma beleza indesmentível na verbalização e na grafia daquele minimal e gracioso alinhamento das três letrinhas. Mesmo noutras línguas, a palavra é linda: river (nem tanto), fleuve (um sabor!), fiume... Fio de água, filamento translúcido que fala de claridade mas também de aventura, de delicadeza e solidão. Rio. Para lhe abençoar ainda mais as conotações, ei-la irmã, ademais, da minha cidade preferida, ou a que mais me emociona, o que dará no mesmo - sim, a Maravilhosa. Súmula para a eternidade da própria noção do eterno, a palavra é ilusoriamente frugal. Corre como seiva, como sangue, no apelo poético de todas as veias do mundo.
Outro
Mas como é que é possível esta canícula endiabrada em plena Primavera... Quanto mais prima, mais se lhe arrima, e é bem verdade! Eu não sou de intrigas: larguei os collants.
Sem comentários:
Enviar um comentário