segunda-feira, 19 de novembro de 2018

A vergonhosa reportagem da TVI sobre o IRA

Amados, vós que o digais que muito sofreis com o facto, mas como sabeis a Vossa dileta Tamborim tem estado ausente da Alegoria nas últimas Eras. Outras Eras, outras épocas. Mas, no essencial, nada mudou. Continuo apaixonada e, graças à Graça, sensível ao que é bom, verdadeiro, belo e, sobretudo, justo.

E é sobre a mais elementar justiça - leia-se, elementar - que hoje aqui quero falar. É certo também que isso vai a par com a mais baixa, reles e crassa das injustiças - leia-se, por favor, baixa, reles e crassa injustiça.

Já perceberam, de acordo com as palavras que dão título a este meu intrépido (corro o risco de ser, também eu, acusada de terrorismo e oh!, com quanto receio!) libelo, que me refiro à reportagem feita pela TVI sobre o IRA, sob o apanágio de uma série de reportagens coordenadas pela Ana Leal. Esta, contudo, foi da autoria de um tal de André de Carvalho Ramos (vale a pena abrir o link acessível pelo nome, talvez explique algumas nuances do seu perfil) e, meus algodónicos, foi de lascar!!!

Basicamente,  o IRA (Intervenção e Resgate Animal) foi apresentado como uma organização terrorista, de brutos com mocas que atacam tudo o que mexe numa pretensa defesa de animais explorados. Atacantes, violentos, propagandistas e mauzões, assim são descritos, por palavras, imagens e um ilimitado número de insinuações, os elementos desta associação. E é duro, sabem, é muito duro ver que gente boa é atacada sem razão, o mesmo  dizer sem inteligência, o mesmo é dizer sem coração. 

Quem, pela sua página do Facebook, acompanha o modus operandi do IRA e, sobretudo, a sua preocupação e ética subjacente, não hesita por um segundo em não acreditar na imagem e na "factologia" passada pela dita reportagem. O problema é para quem não conhece e vê a apresentação do grupo assim escarranchada num écran, num apanhado mal apanhado (passe-se a rima) de fantasia, parcialidade e, quanto a mim, clara má intenção. A minha opinião é que há nesta reportagem, que de jornalística nada tem, uma clara intenção de prejudicar o IRA e o PAN, numa associação rocambolesca entre estas duas entidades que o procuram o bem e a justiça. E, se já era assim nos tempos de Cristo e muito antes, meus caros, agora continua: quem procura o bem e a justiça é sempre detestado. Sempre, o sistema é gordo, é egocêntrico, reclama omnipresença, impunidade e é impune, o sistema pugna pela manutenção do status quo e rejeita alergicamente a mudança para qualquer situação que favoreça a denúncia do abuso sobre os mais fracos e a punição dos verdadeiros culpados. E é só à luz desse revoltante quadro que se pode conceber a existência da peça em causa.

O IRA foi expressamente acusado por testemunhos e narrativas de perseguição, ameaças à integridade física, rapto, etc.. O que não se mencionou, tristemente, foram as causas evidentes que levaram o IRA a socorrer os cavalos referidos na reportagem: a fome que tinham nos corpos escanzelados, a doença, que pelo menos a um levou à morte porque infelizmente, malgrado todas as tentativas, não conseguiu resistir - já tinha sofrido demasiado antes.

O IRA foi acusado de ofensa verbal e ameaça a uma mulher idosa, quando na verdade a própria associação já tinha esclarecido muito antes, na sua página, que não tinha nada a ver com essa interação.

O IRA foi acusado de entrar pelas casas adentro e de exigir explicações para os maus tratos infligidos por energúmenos aos seus animais. Esqueceram-se de explicar que se tratam de casos de extremo descaso, de pancada, de fome, de doença, de denúncia de vizinhos sem meios de intervir. E o IRA pede para entrar, fala com as pessoas E, logicamente, exige explicações e mudança. Não o quereríamos, cada um de nós, se nos maltratassem dentro das nossas próprias casas?

O IRA foi acusado de falar com as pessoas usando capuzes, o que por diversas vezes mostraram nos vídeos de atuação não ser verdade.

O IRA foi acusado de perseguir e fomentar o ódio, quando o que fomentam é a defesa dos que sofrem e a denúncia ativa dos autores desse sofrimento. Ou acham mesmo que uma cadela grávida enforcada, outra esventrada, animais esfaimados e alguns espancados durante não sei quanto tempo não despertam a indignação, a raiva, o mais elementar sentido de justiça e, sim, a ira? E no entanto, ninguém matou ninguém. O IRA divulga, tenta ajudar, exige explicações, protege, resgata os animais nestas e noutras condições deploráveis, perante a inação generalizada política e civil, individual e coletiva, nossa e de tantos. 

Só é contra o IRA quem não percebe ou não quer perceber o que o Marther Luther King disse sobre o perigo do "silêncio dos bons", e o que alguém disse que o silêncio vai sempre beneficiar a vítima e nunca o infrator. Há algumas pessoas que se recusaram a fechar os olhos, e abriram-nos juntamente com o seu coração, o mesmo com que vão agora montar um autocarro-hospital para socorro animal. Há algumas pessoas que enfrentam falsas acusações e incompreensão por defenderem a justiça, que não recusam dar a cara, que não temem o confronto. E que o fazem também, e várias vezes, em colaboração com as autoridades, conforme têm vindo a documentar na sua página. Há certas pessoas a quem a sua maravilhosa e dura missão não retirou o humor, o mesmo humor que lhes inspirou este vídeo. O mesmo vídeo que norteou a nefanda "reportagem", retirando tudo do contexto brincalhão e irónico dos seus inteligentes autores. Essas pessoas fazem parte de um grupo incrivelmente valoroso, que deveria tornar-se efetivamente reconhecido pela sua utilidade pública, e esse grupo é o IRA.

Como se não bastasse toda esta teia equivocada de relambório, ainda se viu o PAN metido ao barulho, não só por causa de uma alegada ligação da sua assessora jurídica ao IRA (já explicou que presta serviço pro bono a várias organizações, incluindo o IRA), mas chamando à colação o que é apenas o deputado mais produtivo da AR, André Silva do PAN, como se o mesmo pudesse mesmo ser responsável pela ação de um grupo que não integra o PAN, ou como se houvesse algum fundamento para esta associação entre entidades. Já sabemos que muito o PAN pagou e há de continuar a pagar por ser o David entre várias Golias, por trabalhar dentro do sistema sem ceder aos vícios do sistema, sem baixar a cabeça e sem se deixar ludibriar por jogadas partidárias. Isto porque também o PAN fala diretamente a partir da consciência de muitos que defendem aqueles que não têm qualquer voz, nem poder para se se fazer representar de outro modo. Sem lobbies tauromáquicos, das indústrias alimentares, politiqueiros e outros. Um partido de cima, não de esquerda nem de direita.

Da minha parte só tenho a dizer que o IRA tem o meu inteiro apoio e que desejo que mantenha a sua ação positiva a favor dos que sofrem sem uma mão que detenha quem tanto mal lhes faz. Quanto ao PAN, o mesmíssimo. Isto sim, têm em comum. E qual é mesmo o problema?                  

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