sexta-feira, 20 de abril de 2012

O cabo dos trabalhos

- Ti ti ti, zim zum zim...hum?...

Noutro dia alguém me dizia que eu não sou mesmo nada ingénua (vide, camaradas, a posta O anjinho...), e às vezes tenho de concordar que não sou de fato. De fato, gravata, vestido ou despidos, a ingenuidadezinha muitas vezes torna-se apenas um adereço evitável, aquela coisa a mais que estraga ao invés de realmente acrescentar.

À semelhança do que acontece com o amor, a paixão e até a atração (coisinha tão simples quanto complexa), há almas gentis, e genuinamente dóceis, que tendem a vulgarizar o ímpar conceito de amizade, considerando que qualquer um é seu amigo. Basta que a pessoa seja faladora, expansiva, afirmativa e inquiridora e pronto, só falta o pacto de sangue para a coisa se consumar para a eternidade. Claro que nada mais escuro -  e falso. Um milhão de posts e recarregamentos homéricos de paciência não bastariam para sequer tentar aqui definir o conceito de amizade. Mas, como toda a coisa importante e tão preciosa, sentimo-la: no olhar, na demonstração efetiva da lealdade, na vontade de estar connosco, saber de nós e pensar e sentir connosco. Mesmo discordando, mesmo sem abrir mão das próprias convicções. Ainda que muito tempo decorra enre os encontros. Sentimo-la. E não é por dá cá aquela palha, por uma conversa fortuita (se bem que as haja inesquecíveis), por uma palmadinha nos costados que um de repente é nosso amigo.

Nos meios laborais, então, é desconfiar mil vezes e ainda assim desconfiar mais umas quantas. Obviamente que há casos, muito felizes, em que encontramos amigos no trabalho. Mas geralmente, na melhor das hipóteses, acontecerão relações cordiais, sinceras e corretas, amigáveis até, mas muito, muito poucas amizades. Bom, é vero que como na vida.

Diz-me a experiência (ainda não enorme, mas já não pequena), que o meio do trabalho é especialíssimo, sensível, voraz, conturbado na multiplicidade das mentes e das sensibilidades, capaz de cenários inverosímeis, improváveis e, muitas vezes, indesejáveis. De casos curiosos, de surpresas queridas. Miscelânia desafiante e nada simples de gerir. Arte lenta, jogo de nervos, esgrima de valores, norte da consciência. Uma escola, sem qualquer dúvida, e um micro-cosmos da humanidade e do que cada um de nós, afinal, é.

2 comentários:

Imperatriz Sissi disse...

Minha querida, acordei há pouco tempo para a triste realidade: o mundo não é um palco, é uma gigantesca teia de intriga palaciana. Sempre me julguei um nadinha cínica e afinal, era um anjnho. Maquiavel nos valha, e um coração puro também, para sobreviver sem cair na amargura, na desilusão e no desencanto. Beijinhos.

Tamborim Zim disse...

Havemos de escapar, nem que seja por um triz, querida Imperatriz. Beijinhos.