quarta-feira, 31 de julho de 2013

Fim de papo

Como sói dizer-se no mano Brasil favelê, "Eu poderia estar roubando, eu poderia estar matando...", mas não, estou a escrever este post. Já que é este o meu fado, que seja.
Hoje, deixei de gostar de uma pessoa. Ontem gostava muito dessa pessoa, a quem não considerava uma amiga de A grandão, mas uma amiga querida, uma pessoa cordial, e a quem desejava o melhor. Na verdade, ainda desejo tudo de bom. O melhor, já não sei. Saúde, paz, justiça, segurança, isso sem dúvida.
Mas dizia que hoje deixei de gostar de uma pessoa, de quem ontem gostava muito, a quem já abracei comovidamente, com quem julgava ser possível existir um afeto saudável, e um respeito genuíno. Hoje não me é possível. Não sinto respeito, não sinto admiração, sinto pena. Não posso dizer que detesto, que passei do gostar muito ao ódio. Nem pensar. Apenas, deixei de gostar. É mais uma tristeza, mais uma marca que levo na estrada da vida, da qual nunca me poderei esquecer, mas que sem dúvida acomodarei. A pessoa habitua-se a viver com as consequências dos cortes que estabelece em função da cisão, do apartamento, do desprezo. Quando se sabe o que se deve saber.
Eu posso perdoar discussões acesas, ofensas inofensivas sob nervos, birras, amuos e bate pés, quem o não faz? Posso perdoar visões parcelares, tentações de quem procura anular-nos o seu pedaço, mas enfim, a pessoa até tem boas qualidades, vamos ultrapassar. Posso tentar recortar o que não me agrada e focar-me naquilo que sei, ou que acredito, ser bom. O que eu não perdoo, e muito menos sem perdão me pedirem, é o espírito da queixinha, da sonsice, da pseudo-honestidade do tipo "Vou queimar-te injustamente, sem necessidade nenhuma e acima de tudo sem contar a versão completa de uma história porque sou muito honesta." Isso não posso perdoar, isso tem de fazer-me reduzir, nos inclementes olhos do meu sentido de justiça, na imensa capacidade do meu afeto, a importância dessa pessoa a níveis mínimos. Fica esventrada a pequenez, a falta de coragem para expor erros graves, e a covardia de pisar em quem está mais baixo. Fica patente a extraordinária pobreza, e a triste confirmação de que este tipo de pessoa se está nas tintas para isso. Que acha ter agido bem, que a consciência não lhe apita nada. Porque, eventualmente, terá muito pouco dentro de si que não uma politiquice correta suja, pequena, perniciosamente infértil.
Porque a sua lealdade é pó, e isso diz-me muito, ou tudo, dos seus valores.
 E isso, caros leitores, é-me inultrapassável.

domingo, 28 de julho de 2013

Segunda Nota - Lavoura Arcaica


Lavoura Arcaica
 
 
Tinha aqui por casa este filme há alguns anos. Pensava, aliás, ser uma série. Um filme longo, de quase três horas, inspirado no romance homónimo de Raduan Nassar. A realização, nada abaixo do sublime, a cargo de Luiz Fernando Carvalho.
 
O filho pródigo, aqui de epilepsia e inquietação, afasta-se da fazenda onde mora a sua família. Quando o seu irmão vai buscá-lo, comovidamente, ao quarto da pensão onde se refugia com a doença e a solidão, somos guiados através das lembranças do fugitivo, entramos nos recantos familiares mais recônditos, na intimidade da luz, na fixidez dos valores, na pureza dos cenários e na aflição da sua rota consigo mesmo.
 
Um filme de 2001, com uma riqueza textual ilimitada, e representações soberbas. Selton Mello, um dos meus atores preferidos, mais uma vez arrebatador.
 
Precioso.

Primeira Nota - Nada a Dizer

Nada a Dizer - Elvira Vigna
Ed. Quetzal

Elvira Vigna
 
Ah, mas várias coisas a dizer sobre este livro impressivo de Elvira Vigna, uma bela carioca que nos seduz progressivamente ao longo da teia finamente, quase exasperantemente urdida pela narradora desta história.
 
Foi um daquelas encontros felizes em plena FNAC. Estava a comprar livros para oferecer, e eis que bato com as retinas na capa, no título, e na nota "A melhor escritora brasileira viva". Eh lá, pensei. E trouxe o livro. Não me prendeu logo mas, como li ontem já nem sei de que autoria, amores que crescem lentamente contam com a proteção astral. Mais ou menos assim. A narração é eminentemente psicológica, e desenrola-se durante quase um ano. Mas é um quase ano em que sentimos com uma inquietante exatidão a tensão atmosférica da vida de um casal de meia idade, permeada pelos efeitos arrasadores da traição: para o que trai, para o que é traído. No meio de tudo isso, a indagação pessoalíssima de quem conta a história sobre a sua própria desesperança controlada, o percurso pelo mundo, e o apelo mais fundo do que, afinal, deseja. Uma escrita interessantíssima, demorada a um tempo, e acutilantemente objetiva, por outro lado.
 
Registo uma vez mais o penoso, danoso, e acho que inconcebível atraso com que se publicam em Portugal as produções literárias do Brasil. Neste caso, pelo menos, uns dois anos depois. Estamos no séc. XXI, camaradas!

sábado, 20 de julho de 2013

De ouro ou, pelo menos, de oxigénio


Paul Delvaux - The Village of the Mermaids (1942)

Às vezes sucedem situações graves, e refiro-me às de grau de gravidade mediano e elevado, nada a ver com vida ou morte ou ofensa fatídica. Mas coisas pesadas, graves, com consequências tristes, insensatas, de corte entre pessoas que um dia se quiseram muito bem, com genuína preocupação e alegria. E isso, claro, é grave.
 
Nessas ocorrências, e cada vez mais, acho que o tempo tem uma importante palavra, ou talvez um grande discurso, a dizer. Mas o tempo precisa, em tais circunstâncias, de acalmia. De pensos rápidos, de alguma coisa para estancar desconfortos e dores, e de silêncio. De muito silêncio, quase um reverente silêncio para com o que se passou, e para uma preparação talvez lenta, talvez longa, de um caminho melhor. Apaziguar é extremamente necessário, urgente para prevenir males ainda maiores.
 
Esta linda tela de Paul Delvaux, falecido há 19 anos, lembrou-me essa preciosidade que é o silêncio. O respeito do e pelo silêncio é algo que deveríamos interiorizar seriamente, porque é bem provável que uma melhor prática de vida possa despontar daí, um dia, recobrado o ânimo, reposta a energia e a vontade.
 
Brinde ao silêncio, leitor.

domingo, 14 de julho de 2013

Uma coisa muito má

A estupidez protagonizada pela SIC e pelas cabecinhas de azeitona congregadas nessa idiotice do Olé. STOP tourada, STOP alusão à tourada, STOP exploração animal.
 
"Criativos", por favor trabalhem. Diz que épocas de crise são fabulosas para inovar. Façam, pensem, vão mais além. Ou então não façam mesmo nada. Meditem, aspirem a um reconfortante vazio até que se encham novamente de neurónios. Não molestem.
 
Apre!

Uma coisa boa

Art Malik, Susan Wooldridge e Tom Piggot-Smith são, respetivamente,
Harri Kumar, Daphne Manners e Ronald Merrick

Charles Dance é Guy Perron
 
Terminei de ver a grande série A Joia da Coroa. Como muitos leitores diletos da minha geração ou anterior, claro que me lembrava dos tempos em que passava na televisão, mas já muito pouco. Há anos atrás comecei a ver e interrompi, até que agora... devorei. Com muito interesse, verdadeiro deleite pela qualidade da realização, das representações preciosas, da fotografia, e embalada por autênticas saudades da Índia que vi, bem como pelas saudades da tanta Índia que desconheço.
 
Um histórico da televisão. E, se falarmos de exemplos de cavalheirismo, masculinidade, de sedução da humanidade, que o esplêndido ator Charles Dance, o Sargento Guy Perron, fique como referência a lembrar. Soberbo.
 
Como me acontecera em relação a outros filmes e séries, ver produções antigas e depois pesquisar os autor na net deixa-nos totalmente derretidos pelo poder do tempo. Mas da maneira como alguns progridem e envelhecem, asseguro que há esperança. Já disse algures que tendo a ser estupidamente otimista.

Bem-vinda meia estação!

Inspirar a fresca

Estou a amar esta humidade, a fresca e o arzinho salvífico depois de dias e dias de terror tórrido.

A amar!

domingo, 7 de julho de 2013

O mar

Mar
(Foto de Zim)

O mar é a grande imensidão da delícia gelada, tépida, o verdadeiro espumante do melhor tempo de lazer. O mar estia a nuvem, amadurece o azul, ou será o contrário? O mar nada nas retinas dos seus fãs e reina, pulsante, no coração da natura.
 
Amo o mar, este fim-de-semana foi a minha estreia balnear, e não sei há quantos anos não estava tanto tempo dentro dele.
 
Salve, salve.
 
Gostaria de escrever mais coisas mas o coração está demasiado ocupado a fazer-me sobreviver a esta canícula inclemente, pelo que não quero sobrecarrega-lo.
 
 

quinta-feira, 4 de julho de 2013

O tórrido Verão da Tugolândia

Agarrem-me que eu fico! Não saio nem morto! Não fechamos portas. Não abrimos portas. 40º. Só sabemos que nada sabemos. Agarrem-me que eu vou. Vem a Maria. Vai o Álvaro. Incógnita, enigma, conturbação, loucura. 38º. 50º. 60º.

E a pergunta fica, singela, doce, quase inaudível: quando é que esta gente cai de uma vez por todas?