Zzzzz, hummmm...
Não sei o que aconteceria ao mundo (ao resto deste mundo!) se tivessemos polígrafos à nossa disposição para qualquer situação diária. Certamente que teria de ser alguma coisa mais discreta, talvez uma espécie de spray que, ao absorver os tons de voz, o ambiente, a assim chamada energia, despoletasse um cheiro a esturro, ou assumisse uma cor de burro quando foge em plena atmosfera quando o interlocutor em causa estivesse a ser falso, cínico, dissimulado ou simplesmente dúbio. Era coisa para dar o seu trabalho a inventar e quem sabe o QREN desse uma perninha, mas iria sempre levantar a sua carga de desconforto presumindo-se que, às tantas, o visado iria associar as suas tonteiras/dissimulações/falsidades a cheiros e a cores fora de série.
(Terão de me perdoar, estou ainda sob o efeito da constipação provocada pela famigerada descarga de água de todos os céus desse célebre 2 de Novembro, e pode ser que delire um pouco.)
É que mesmo aos 35 anos continuo a questionar-me se, por vezes, aquela pessoa estará a ser querida, solícita e boa onda, ou se enveredou, por estratégia de necessidade ou de macerada hipocrisia, por uma senda aparentemente bondosa e descomplicada. Sucede, por exemplo, em alguns elogios que nos podem fazer em privado, mas que por qualquer razão não fizeram em público, quando o assunto era comezinho. Ou quando essa certa, determinada e aludida pessoa exibe um olhar e uma carranca ferozmente mudos mas passado um momento sugere um lanchinho futuro. (Esturro, esturro, esturro?)
As pessoas predominante e marcadamente frescas, melífluas e joviais no seu trato levantam-me algumas suspeitas, penso sempre a quanto custo manterão essa fachada de alardeado equilíbrio e de pródiga simpatia. Mas reconheço que posso cair na esterilidade do preconceito.
Ora bem, postas assim as coisas, apraz-me concluir que cautelas e leite de aveia com chocolate quente nunca fizeram mal a ninguém. Afinal, a nossa ajuda a todos. Mas a nossa intimidade e confiança só para os escolhidos (mesmo que alguns destes possam mudar). Vero?
4 comentários:
Temos que manter sempre um olho na burra e outra na cigana.
Ouvi um provérbio de que gostei muito e que se aplica aqui: "o que é demais é como o que não chega". Para bom entendedor.....
O equilibrio, o bom senso, a astúcia temperada com alguma dose de esperança na humanidade....quiçá seja parte do segredo de continuarmos a conseguir olhar e falar, ou pelo menos balbuciar, uns com os outros.
Pois. cof...hum....poiz poiz.
Este post vem ao encontro de uma máxima minha que tem andado na ordem do dia: quem é amigo de todos, não é de ninguém. Muito cuidado com os bajuladores e com as centopeias que nos afagam o ego. Quando vejo uma pessoa, como diria Nabokov " toda peçonha e mel" sinto logo medo, muito medo...
Recordo sempre o conselho de Maquiavel: deixai os lambe botas adular-nos à vontade, mas há que manter um grupo de gente autorizada a dizer-nos a verdade nua e crua.
O "toda peçonha e mel" é admirável! E, sim: a auto-crítica tb nos permite salvar de muito embuste.
Mas por vezes há dubiezas, há limiares, e nesses casos o nosso discernimento, alerta e, vamos lá, palpite, conhece um desafio suplementar. Gostei tanto da Vosa ilustre visita, obrigada Imperatirz Sissi.
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