O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço, cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser…
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto…
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço…
Álvaro de Campos
Retirado deste blog .
E agora é ter paciência para tudo durante a semana.
(Que, pensando bem, é quando se deve cuidar do trabalho.)
2 comentários:
Tirando a parte do cansaço, salva-se a tua preguiça de fim de semana pelo poema que aqui deixaste.
Só Pessoa para dizer tanto sem se dar por achado.
E a mim, sendo que o cansaço é coisa que não me assiste, desafia-me o querer tudo, ou um pouco mais, se puder ser, ou até se não puder ser...
Sim, esta jóia é rara, e n sei pq ocorre-me tantas vezes....rsrrss
Brinde a esse gigantesco almejar, q te cai tão bem!
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