segunda-feira, 29 de abril de 2013

É impossível estar sozinho

Macieira - Klimt (1912)

Eis o que vos digo. Ou, nas palavras imorredouras (e quais dele o não são?) de Caetano Veloso, "O Mundo Não é Chato" - título de um dos seus belos livros que, julgo, já aqui citei. O mundo não é chato? Não será chatíssimo? Hei-de morrer, quiçá, sem saber responder a isto. Horrível não é, afinal, a mesma coisa que chato. Vero?
 
Sabeis que por vezes o intróito vale o corpo, supera o corpo e fá-lo desvanecer na penumbra do sem sentido. Salvemos, destarte, o corpo, por assim dizer: é impossível estarmos sozinhos num mundo cheio de sinais, impressões, ofuscações, FMI, FDP, etc.. Mas também não se possibilita a solidão absoluta (sendo até parcialmente complicada), com as quantidades ilimitadas de obras de arte que temos ao nosso dispor via PC, TV, livros, portanto, papier, música, filmes, exposições de pintura, escultura, gravura, formosura, etc.! Impossível: há miríades de rotas para os nossos olhos se perderem, milhões de vozes ou de ideias silentes mas incessantemente percussivas, na nossa cabeça, que vêm do mármore, do óleo da tela, do verso, do canto ou dos prolegómenos do narrador. Não há como escapar, mesmo se não formos estetas ou, mais plenamente ainda, demandantes. Não será todo um demandante, minha gente, um esteta?
 
Mesmo que não haja pessoas, há pessoas. Muitas, criaturas e criadores. E recetores, perplexos ou aturdidos, o que acaba por ser a mesma coisa, mas de qualquer forma, de ínvias maneiras, com desajeitadas abordagens ainda que seja o caso, a comunicar. A receber. E a refabricar para nós mesmos. Tudo húmus, tudo substrato para a nossa dita essência. Enfim, pelo menos nas coisas que ficam e se sedimentam. Não serão tão poucas assim.
 
Não serão tão poucas assim.
 
As palavras são mesmo como as maçãs. Isto tudo porque queria aqui deixar esta maravilha de Klimt. Não há escapatória. (Só falta o Maktub!)
 
 

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