segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Chamem-me Patega

Se eu não sobreviver foi o....grashhh...TEFTOE!...

Foi com uma mistura de curiosidade e excitação por estar, finalmente, no limiar da minha integração total na Espertalhona da Era Digital (EED) que fui a uma certa e determinada loja trocar os meus valentes pontos por um Telemóvel Faz-Tudo-O-Espertalhão (TEFTOE - por pouco era Def-TOE ah ah ah). Naturalmente que as coisas não são assim tão simples nem  tão lineares. Certamente me seria dado sumiço (tudo bem, troca é troca mas sou sempre de uma renitência científica a dispensar os meus pontos, ganhos com o suor e a labuta de tantos carregamentos e ascendendo a milhares de euros) a uma imensidão dos meus queridos pontinhos, mas um mal nunca vem só. Também esta que tão fielmente vos digita teria de abrir mão de uma boa maquia de euros, mas por aqueles mecanismos mentais de elevada astúcia e não inferior celeridade, a soma deste abrir de mãos parecia-me risonha e até vantajosa.

Primeira questão: que modelo escolher? Analisado o catálogo, ponderada a questão económica, estética, funcional, ficaram dois lado a lado. Hum, o maior, o mais pequeno? (Oh, se tivesse sido o mais pequeno!...Ahahahaha, gargalho com seca ironia crescente.) Depois de dizer ao simpático funcionário que podia ir atendendo o próximo cliente enquanto eu me abancava lateralmente no balcão com os aparelhos e o catálogo, toda eu dedinhos, leituras de características que, em boa parte, me escapavam totalmente ao intelecto, acabei por escolher o maior. Sempre é melhor em maiorzinho. Fiquei reconfortada por ter a anuência sincera do empregado e lá vim com o meu querido bebé digital para o lar. E vai daí...

Recostem-se no sofá. Foi o que eu fiz. E vai daí...Vai de digitar por tudo quanto era íconezinho, cada um mais colorido e bonitinho que o outro. Caleidoscópio voraz, a coisa parecia-me de uma incessante metamorfose. Primeiro que percebesse (terei mesmo percebido?) a quantidade e o tipo de opções e multi-opções e menus e frangos que aquilo assava e saias que aquilo cosia não foi menos que uma eternidade. E os sons? Ai que polifónicos que nítidos! E a maravilha do écran táctil? Parecia uma agricultora que, tendo acabado de largar a foice na meda (meda, ok?) mais próxima, se largou a cismar e a experimentar tão especial, diria tão espacial objecto. Ui, e a ergonomia? Bom, talvez aquilo fosse um bocado anguloso demais para segurar e falar ao telefone, mas pensando bem, o que é que interessa falar ao telefone? Se há ali tanto mais para fazer?! Hum...gravador....ihhhh como os íconezinhos passam velozes, pareço folhear um livro sem detença e sem cortar os dedos no papel, uau, a EED é de facto outra louça. Para a frente, para trás, pára, abre, vai dar a outro, mais um labirinto, engano, volta ao menu, piscam, sorriem, expandem-se ficheiros e caixinhas e envelopes e símbolos a decifrar. Ora deixa cá ver..."restaurante vegetariano em Florença", pesquisa vai, tauuuuuuu! Genial, uma lista. Mas o que me arrebatou foram os mapas, o detalhe, a velocidade...Onde fica a Aldeia? Brrrrmmm....Mapinha a procurar, mapinha encontrou, mapa abre, expande, assinala, os olhos ardem um pedaço, brrrrrrummmmm. O quê mas isto sabe onde é que eu estou, estremeço e antecipo mau olhado por parte daquele objectozinho multi-funcionadeiro. Hum, sim, GPS, que instigante, zzzzzimmmm. Olha as horas em todos os continentes, que útil, um sente-se unido ao inteiro Cosmos, transido de informação e megabytes, um não consegue deixar de polir, avançar, retroceder. A ligar à Internet...roda, gira, uf, estou tonta. E passam as horas. E mais. Abrir, fechar, largada, fugida, hum, e o volume, hum, e os fundos, os fundos, e as letras...Configura, desconfigura, brrrrrummmmm. Uma dor de cabeça ensandecida apodera-se de mim e finalmente durmo. Mas no dia seguinte....Lá voltam os animados dedinhos a escalpelizar os cantos daquela infernal casinha portátil, daquela casinha que, na verdade, parece convidar-nos constantemente a fazer tudo menos a largá-la, a sair da sua magnética esfera de influência. Parecia-me ouvir risinhos surdos lá de dentro, e vislumbrar esgares satisfeitos e maquiavélicos, sim, eu era puxada! Os olhos doridos e as dores de cabeça continuavam numa persistência suspeita, mas o cenário assumiu tons de muitíssimo maior terror quando uma profunda naúsea tomou conta de mim, mesmo atenuando a proximidade daquele poltergeist de uma figa. Bastava-me chegar mais perto e até parecia que me vinham vibrações do bichano, por pouco não vi fumos a evolar-se dos buracos, dos bonecos, dos (poucos) botões, as próprias radiações!  Pelo meio da tarde estava absolutamente certa que a única causa possível daquela tríade inamovível (dores de cabeça, olhos a arder e náuseas terríveis) era o TEFTOE. Eis-me a percorrer o meu bom pc, estático, com teclas onde carregar, com a informação organizadinha e não em deslizamento assassino sob os meus olhos que pareciam sangrar de desconforto, a pesquisar as causas últimas do meu desalento e do meu péssimo estar. Descobri várias menções a estudos feitos que relacionam os sintomas que apresentava com os telemóveis 3G. Ah, mas sem dúvida que, nesta onda da EED, os TEFTOE levavam a melhor no mortífero ataque, concluía, cada vez mais segura da minha negra descoberta.

Olhava-o, mirava-o já sem simpatia mas com uma apreciação genuína das suas linhas bonitas. Mas ai que enjoos...E a cabeça que nem se tinha em si... Ok. O que tem de ser tem muita força. Fora curto, intenso e arrasador. No final do dia voltei à certa e determinada loja onde outro empregado, tentanto ser o mais neutral possível, ainda me perguntou porque razão tinha então comprado o telemóvel. Lá arenguei que não sabia que seria assim. E rematei: "Estas coisas são endemoinhadas e só podem estar a fazer-nos MUITO mal!". O empregado não me tirou a razão, mas também não ma deu. Claro, não podem. Encontrava-me  preparada para uma chinfrineira que poderia incluir pôr-me de pé em cima do balcão a gritar para o povo circundante que o Demo em figura de telemóvel espreitava como "anjo de luz" em cada superfície luzidia, em cada modelo elegante e pró-activo em que dessem com a córnea, para além de que remeteria cartas a todos os Ministérios, à Comissão Europeia, ao Tribunal Europeu, caso me dificultassem a devolução. Não foi preciso. O dinheiro foi-me creditado naquele mesmo momento no cartão e, passadas umas (boas) semanas, todos os meus pontos voltaram a mim. Que é onde eles estão bem.

E as maleitas? As maleitas, dilectos leitores, começaram gradualmente a evaporar-se à medida que conquistava metros de chão sem o malquisto "negócio" nas minhas mãos. Melhorei tanto, e tão depressa, que só pude confirmar o óbvio: os TEFTOE são uma ruína. Querem mapas? Vão ao pc! Querem listinhas de restaurantes? Vão ao pc, à Biblioteca Nacional, palmilhem as ruas à procura que só faz bem à balofice. Ah, mas e a portabilidade. A portabilidade uma pinóia! Portátil sou eu, e a minha cabeça, os meus olhinhos, todo este gentil esqueleto, e quero continuar portátil e sem vómitos e enxaquecas até que motivos de força maior me mudem a condição. Não, lamento, não será uma caixinha irritante em cujo écran (se tudo se tivesse dado com o écran inferior só deveria piorar a coisa em muito) o meu Facebook parece a minha lista de SMS na caixa de entrada do telemóvel. Nãoooooooooooo! Não será aquele frenesi das coisas a mexerem quase via sopro que me ofertará a lua. N-Ã-O! Quero a minha paz, a minha paz, a minha saúde, a minha saudinha! A EED o CQLFAC (Camandro Que Lhes Fez A Cabeça)!

Chamem-me patega. Eu sei o que é bom.

2 comentários:

Pagu disse...

Fantástico post. Ri até às lágrimas.

Não vi a tua figura mas conseguiria descrevê-la tintin por tintin e sim, sei que te colocarias em cima do balcão, escreverias cartas, melgarias toda a gente até que os pontos te fossem creditados de novo. O dinheiro era o de menos nesta história. Vá, confessa....rsrs

Grande sentido de humor, és a maior.

Bora lá então ser autónomos e portáteis.

PS. Sonho com o dia em que vou atirar o meu telemóvel e a minha placa de banda larga para bem longe.

Tamborim Zim disse...

rsrsrss

A maior das chanfras. Obrigada pá Pagu, és uma delícia e quem sou eu ao pé do teu sentido de humor mastodôntico, cof, abru...exacerbado, quero dizer, exacerbado?!