segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Habemus pentus

Eh bien, eh bien, a obra é finda! Como podem observar, mirar, embevecer face à nova imagem de perfil, eis-me rosa e pente 2, finamente captada pela lente científica de minha douta Mana.

Claro que vários acertos me aguardam nos próximos dias, nomeadamente quando puder aparar as duas predradas na fronte de que dei conta na mensagem abaixo. Até lá, é fruir o fresco e ter paciência para para comentários género: "O que é que fizeste ao cabelo?"

As pessoas são tão previsíveis! Baf.

P.S. - Desculpem lá mas continuo chocada com a prestação da Bárbara Guimarães no Peso Pesado. Peso Pesado é o da sua presença, voz, expressão. Imagino que esteja a ganhar milhares de euros para aquele hino à anestesia que tão mecanicamente entoa em cada sessão. Proactividade, Bárbara, proactividade!

domingo, 30 de outubro de 2011

Corte de cabelo em tempo irreal

Oh Zim, Zim, põe os olhos em mim!...

Imagino que já por muitas vezes o meu panteão de leitores deve ter-se interrogado: "mas onde terá a Tamborim Zim  feito aquele bonito corte de cabelo do perfil, onde terá sido, hum hum?". Bom, com a bonomia e a compreensão infinita que me caracterizam, daqui vos digo que o magnífico corte de cabelo do perfil, mimoso atrevido e alegre e viçoso, foi da minha autoria. Sim, sim, exactamente, fui eu que cortei o meu próprio cabelo, completamente sozinha, e vindo o dito de um comprimento bemmm grande.

Como sabemos, entretanto, a pilosidade não tem detença, e portanto cresce numa expansão, por vezes, a admoestar. Entendi assim que era chegada nova altura de dar uns simpáticos cortes às melenas, mantendo o penteado, a franjinha, etc., enfim, o estilo todo especial que pode ser apreciado no mencionado perfil. Se bem o pensei melhor o fiz, e lá as mãozinhas manhosinhas se me entretiveram, hoje pela manhã, a dar conta dos caracóis nascentes, em manobras ascendentes, descendentes, oblíquas, pretensamente horizontais, em escadeado, bom...O certo é que hoje me notei muito menos inspirada e com muito menos paciência para reencontrar o corte que tanto me agradou, e a conclusão gritava-me ao espelho: máquina, máaaquina, máaaaaaaaquina! Com as guedelhas espetadas, de banda, em suma, em desarranjo apocalíptico, enviei uma mensagem ao meu anjo salvador (entenda-se, a minha maravilhosa Mana), com SOS. Deveria a boa da Mana trazer para casa uma máquina de cortar o cabelo, pente 2 como mínimo. Para Vosso esclarecimento, antes que as rídulas vos marquem as atenciosas testas e frontes, há vários anos tive uma época de pentes 2 e 3, cortando e recortando sucessivamente (mas apenas em cabeleireiros), e gostei imensamente. Tenho tido saudades, mas hoje, ah hoje...à saudade juntou-se a  necessidade.

Ok. Perfeição de Mana, máquina nas minha mãos, e vá de proceder à ceifa. Ainda lhe dei umas boas arrochadas, mas a débil bateria caiu em inanição profunda e a maquineta cessou, exaurida, os seus trabalhos. Liguei a máquina à corrente mas, oh sim, a dita debatia-se, estrebuchava e desmaiava de fraqueza. Ligo à senhora da loja em que a dilecta Mana comprou a máquina e pergunto, cheia de cabelos por todo o meu ser e indumentária, se era normal a máquina não dar de si ligada à electricidade, por caridade. Que era normal, que deixasse por umas 400 horas (exagerozinho). Eu que o diacho é que já começara a cortar, e que já pensava levar um lencinho na cabeça para o trabalho, amanhã. Rimos as duas, eu e a senhora. Claro, pimenta no cucurucucu paloma do outro é refresco, ó lá se é!

Pois que mais posso adiantar-vos? Tenho passado este excelso Domingo a caminhar para a máquina, pegando-lhe com uma delicadeza subserviente, e vou cortando até a bateria ter fôlego; interrompendo-se o exercício, lá deixo a bichinha a carregar e volto ao fait divers do dia, que já incluiu responder a e-mails, mexer uma papa de amêndoa para colaborar marginalmente no secretíssimo preparo culinário que a Mana anda a teorizar e executar com iniciático frenesi, navegar na blogosfera onde bloggers de cabelinho bem cortado digitam as suas coisas ao contrário de mim, que pareço ter saído de um hospício de segurança máxima enquanto vos escrevo estas mal traçadas linhas.

Ah, ia-me esquecendo (lei de Murphy, lei de Murphy, lei de Murphy): numa das vezes em que procurara aferir da pujança da baby máquina, esqueci-me que não tinha encaixado o pente 2 e então...E então, minhas delícias, do lado esquerdo do crânio ainda tenho duas rodelas semi-máquina zero para não ter a mania que sou sofisticada. i47db cvkkvjptc+'njd

E aqui estou eu, pendente dos caprichos da  sensível bateriazinha. Depois vos conto mais. Se sobreviver a esta provação em vários actos.

sábado, 29 de outubro de 2011

Pequenos confrontos de pequeninos titãs

Grrrr ommmg quê?

A honra de um; o sapo do outro. A ofensa e nenhuma face diante. O engano de um, a glória macilenta de um outro. Medo? A vaidade de um; a vaidade do outro; o pobre enfado dos dois de existir em esforço, máscara e impaciência. Um olho que revira, uma bochecha que arde. A clareza de um; a expectativa do outro. A urgência de nada dos dois. Medo? A arrogância de outro, a astúcia fria de um. O tempo a decorrer, os silêncios que ritmam e acertam tudo na invisibilidade precisa dos seus ponteiros. Medo? Nenhum, ou talvez muito. Viver é adestrarmo-nos no confronto e procurar que vingue o melhor: a verdade e o carácter são. Certamente que é difícil, mas sabe à mais pura aveia quando o melhor ocorre.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

E eis que...

 Foto de Zim


O mapa do tesouro? O mapa do navio com um bocado do tesouro lá dentro? Uma intriga com meio século em folha delicadamente amarelecida? Passos para o futuro? Solas do passado? Mensagens cifradas no pó?

Era bom era...O que há debaixo da porta é uma publicidade repetitivazinha sobre coisas certamente fenomenais mas que não me despertam o mínimo interesse: como ter mais 89067 canais e Internet e creme anti-olheiras num só pacote que insistentemente procuram atirar-nos para cima.

Qualquer dia, se não nos pomos a pau, empacotam-nos e vendem-nos com os insípidos canaletos de mais do mesmo.

Arredem.

Às vezes as coisas caprichosas deste mundo capitalista são tão cansativas!

O fogo branco da Lua


Foto de Zim

(...)

Ó Rosa do tempo,
Abre-te para mim
Floresce para mim
Desfolha sobre mim
Sê tu a coroa da minha sepultura,
Abscôndita e sempiterna ternura
Da solidão

(...)

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Ingredientes primorosos da existência


 Caetano Veloso, Gente

Fabulosos, luminosos, estrepitosos e maravilhosos leitores, espero que perdoem esta mini-ausência mas, ainda assim, ausência. Não me esqueço de Vós um só minuto, acontece que ando numa fase especialmente bafejada de entusiasmo, motivação e contentamento profissional. Pois é, mantenho-me na casa-mãe mas mudei de Departamento. Da sala só minha passei para o andar de cima e a partilhar o espaço com meia dúzia de pessoas. Conheci várias outras. Trabalho de raiz: conceitos, estruturas, contexto, objectivos, tarefas distintas. À escala europeia, transnacional, internacional. Caso para dizer que estou a gostar muito.

No meio deste gosto ressurge também o prazer de descobrir as pessoas. Não a sua inteireza, a plena concavidade dos espíritos, os seus devaneios mais puros e mais íntimos; pequenas partes, grãos de areia que, no entanto, adquirem a expressividade graciosa das revelações importantes. Dou por mim a admirar a serenidade ou a doçura dos sorrisos, a bonomia da forma de darem boas-vindas, a lufa-lufa da vida animada da sala, com gente a entrar e a sair. Delicio-me com a troca de ideias, com os ensimanentos que vou recebendo, diverte-me a intuição de traços de carácter, vaidade, auto-exame dos interlocutores, amacia-me a tolerância e a preocupação elegante e simpática de outros. Preocupa-me genuinamente o olhar cansado, a ansiedade, a incerteza de alguns. Saboreio a troca de ideias e de visões de gente de origens nacionais muito diferentes, numa sala de reuniões com pastéis de Belém (que eu óbvia e felizmente não como porque sou vegetariana a evoluir para vegan) à espera para um coffee-break português. Admiro o brio e o profissionalismo, a atenção e a exigência. Saúdo as impressões leves e cordiais, acho bonita a preocupação das mães. Sinto ternura a dar beijinhos de primeira apresentação, a receber e a ser recebida.

Sinto-me grata por este recomeçar. E, mesmo sabendo que as pessoas conseguem reunir cargas de insuportável neura e manias sem fim (e não excluo a autora da presente posta, mas apenas porque sou elegante), não posso deixar de concluir que é maravilhoso navegarmos para além das nossas ínsulas particulares.

 A todas estas pessoas desejo boas navegações em inesquecíveis rotas, que por ora se cruzam com a minha, e por pouco me acho sensata e bom feitio.

domingo, 23 de outubro de 2011

Que será de nós?

Na mesma barca

Não sei qual é a dilecta opinião dos meus avisados leitores sobre esta matéria, mas verifico que as pessoas andam com comportamentos muito, muito estranhos (adoptemos o adjectivo mais neutral possível). Na passada sexta-feira ao fim do dia parecia-me que os carros iam desfazer o alcatrão, e desancar-se uns aos outros, para ver quem era capaz de fazer manobras mais impacientes e à tangente. Velocidade, velocidade, condução nervótica, patologia, certamente patologia endémica pelas artérias de quem se senta a um volante e vê naquela posição e naquele momento uma catarse de insanidade. E reparem, eu andava, como quase sempre, a pé. Foi a caminhar e a observar as endemoinhadas viaturas que chegava a estas conclusões - na verdade, reiterava-as.

Na madrugada de sábado, eis que uma incendiária discussão fez com que vizinhos de vários prédios se reunissem à janela. Chamámos a polícia, e o mesmo devem ter feito várias pessoas, uma vez que pelo menos dois carros de polícia acabaram por se encontrar na rua. De um carro sairam incontáveis agentes de autoridade que entraram num edifício próximo. Minutos depois os polícias dos dois carros, um bom magote, já confraternizavam todos, com paródia e boa disposição madrugadeira. Lá aferimos que a acesa "troca de ideias" se reportara a um "arrufo de namorados" com agressões, e que o caso estava a ser tratado pela esquadra do bairro. A este passo, meus caros, é bom notarmos que a moral máxima da história é: denunciar. Qualquer tipo de violência não é um problema dos outros, é nosso também. Por isso não sejam cúmplices e denunciem.

Mas tudo isto para voltar ao início (e não é aí que voltamos sempre?), ou seja: a humanidade anda tresmalhada por demais. Os carros emitem, meras latas comandadas, as guinadas de ódio, desespero, frustração de cada condutor, as discussões são armas de arremesso, toda a gente se sente no direito de gritar, agredir, expor a sua vida, humilhar-se e aos seus, assustar as outras pessoas, atirar-se para o buraco das "causas" exasperadas.

Outros, aparentemente ainda mais alheados do que aqueloutros, falam sozinhos pela rua, apanham tralhas, guinxam impropérios, gritam teorias. Ah, nunca é demais invocar a mesma (sim, essa) sexta-feira: ao Chiado, um senhor com headphones clamava com ares apocalípticos que "ninguém é de ninguém, jovens, ninguem é de ninguém!), e eu não percebi se ouvia o João Pedro Pais, ou se ali erigia com toda a gravidade a sua teoria solipsista do ser.

Quantas loucuras ecoarão nas paredes de cada lar? Que dramas de penúria, de insatisfação, de aperto, não presenciarão tantas casas? Qual a distância entre o desespero e a desistência, e quanto custará que cada pessoa em dificuldades sinta e entenda que a esperança e a capacidade de a regenerarmos não têm valor estimável e que são de todos nós? Que estão cá dentro, por trás das sombras e do negrume e das recordações e do cansaço?

Que será de nós? De nós, a quem nenhuma banca pode salvar, a quem nenhuma entidade nacional ou supranacional pode tirar da falta de forças e da tristeza letárgica que conquista o mundo e pretende toldar as nossas gentes? Quando será que finalmente nos tornaremos sintónicos com o nosso coração, o único recurso capaz de nos Humanizar e de vencer a treva, a confusão, o egoísmo, a violência, a perdição?

Convençam-se: é essa a cura que cada um tem de operar em si mesmo, sendo também de cada um a responsabilidade de ajudar o seu próximo a curar-se.

É esta a Hora. A grande aventura.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

E sei que vou encontrar e gostar muito

Mouchette (Robert Bresson). Nadine Nortier (foto).

Há pessoas, cidades, cheiros, sabores, paisagens com que esbarramos inopinadamente e que, de inesperados, passam a inesquecíveis com a mesma naturalidade com que os encontrámos. Isto inclui os dóceis e fundos labores artísticos. A sensação maravilhosa de dar de caras com umas linhas ao acaso, num livro que nos cai fortuitamente nas mãos, de um autor para nós desconhecido, feita de uma quase imediata emoção de proximidade, até intimidade com o que se lê, é dificilmente exprimível. Claro que o mesmo pode aplicar-se a toda as outras artes. À Sétima, por exemplo.

Quantos filmes, actores, realizadores (os escritores dos filmes, como lhes chamo, não por necessariamente ser seu o argumento, mas porque são os seus olhos e a sua sensibilidade que fazem aquele filme ser precisamente o que é e não outro), não viemos a conhecer com excitação genuína sem andarmos à sua procura? São, para mim, as melhores descobertas, essas que não vieram de uma actualizada e bem-intencionada leitura de uma crítica, de uma enciclopédia ou da assistência a um seminário, mas que vivem no acaso dos nossos passos, de uma curiosidade qualquer, de um olhar inicialmente sem nenhum entusiasmo mas que logo depois, para própria surpresa da íris, ganha um interesse brilhante por aquela pérola que lhe surgiu em frente, sem programas nem promessas de acontecer.

(Eu sei, sou uma inaturável matrona.)

Tudo isto para dizer que ando em demanda da versão legendada em português do filme Amor e Morte, do Robert Bresson, pois passou há uns dias na 2 e fiquei presa às imagens, às sombras, aos sóis deste filme a preto e branco, ao rosto inefável da protagonista. Mouchette, no original. Vi os escassos momentos do final e sei que quero presenciar muitos, muitos mais. Acho que ganhei um novo amigo cinematográfico. São estes pequenos-gigantes grãos de prazer, com desenvolvimentos futuros de experiência estética e de uma nossa coisa, não catalogável sequer, que constituem, a meu ver, a meu ler, a meu digitar, uma das grandes delícias de estar vivo.

Por outro lado, a Alegoria da Primaverve faz hoje um mês. Outro feliz encontro - menos inesperado, mas muito prazenteiro. Muito obrigada a todos os leitores e comentadores (o Jornal O Inimaginável que não nos ouça) pela companhia! Com muitos, sei que será um súbito esbarrar. E que bom seja.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Nada melhor do que rebolar em nuvens


Algures aqui

Rebolar em nuvens. Foi a frase que ontem me veio ao idear ao regressar a casa, pela meia-noite. A vontade era de autenticamente rebolar em nuvens, na maciez, na brancura, num alívio corpóreo, numa ode incorpórea magnífica. Cheio vazio, indizível fofura. O vento de Lord Outono que finalmente dá uns tons da sua graça parecia querer ajudar o meu intento alado. Sim sim, abri os braços e voei uns 5 metros. Muito fácil o voo outonal.

Mas podem indagar porquê. Porquê a lassidão, a nuvem, o voo? É que esta carcaça, magnânimos leitores, sofre de mal que só tem cura com uns dias de sonos tranquilos, acordares singelos, dias simples. Trata-se de um afamado, concupiscente, vitorioso, enOrme cansaço. Orme, orme, orme cansaço. Orrrrme.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Para sodomizar a ira



Quem é que precisa da porcaria dos subsídios?

É só papel, pá!


Brincando um poucochinho.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Relatório em dó maior de mim

- Zim, Zim, estás aí? Zimmmm!...

Puxa papel, organiza papel, lista, risca da lista, reorganiza lista, atende o telefone, recebe milhão e meio de e-mails, selecciona, responde, lista para ver mais tarde, afinal é urgente, responde, suspira, pesquisa em pastas, verifica processos, inquire, inquire, inquire, preenche check-lists, fotocopia ckeck-lists, esmiúça toda a secretária para certificação minudente de que nada fica escondido ou sem encaminhamento, volta às listas, muitas, multicoloridas listas, agrafa, fura, arquiva, retira, compara, verte esclarecimentos, acede à base, preenche a base, telefona, manda e-mail, manda e-mails, manda triliões de e-mails, sugere, pensa, informa, reporta, investiga, organiza a caixa de e-mails por categorias, imprime tudo, organiza e lista, arquiva, verifica editais, pede para corrigir, valida, invalida, rectifica despesa, comunica a rectificação, pede documentos, verifica mais documentação, duvida, acredita, pergunta, manda à consideração superior e folheia, procura em ficheiros, organiza mais pastas analógicas e pastas digitais, tenta passar pela cela de dossiers que cirscuncrevem os movimentos, inspira, expira, volta atrás, fica mais uma hora a procurar, a riscar da lista, a separar, e para lá de exausta sai.

Eis Tamborim Zim em pleno labor.

domingo, 16 de outubro de 2011

Pessoas estranhas

"A Zim tem a mania não tem?"

As pessoas são tão estranhas. Eu sei que é outro déjà lu, mas lá que são estranhas, são. Quando pensamos que nos vão receber com alguma frieza e distância, ficamos cativados pela simpatia espontânea. Quando julgávamos que nos iriam fazer uma festa de sorrisos, vemos caras fechadas e de caso. E o mais intrigante é que vêm estas recepções de linhas trocadas, ou seja, de quem menos esperaríamos.

Outro detalhe desajustado: quando alguém nos fala de um modo mais próximo e até amistoso quando está a sós connosco, e praticamente não nos dirige a palavra quando não está. Sempre achei muito feio o modo "duas caras". Faz-me pensar que essas pessoas dependem da aprovação dos outros, regendo o seu comportamento pelo que as pessoas que mais gostam/temem/de quem precisam consideram correcto. Popularmente, esta atitude pode também ser descrita pelo sábio "emprenhar pelo ouvidos". Detesto. Ui. Usem contraceptivos mentais, emocionais, conceptuais, antes de tirar ilações sobre o alheio desconhecido, ó massa ignara!

Cada vez gosto mais e prezo mais a inteireza: na minha relação comigo, com os outros, e dos outros para comigo. Espartilhos, seccionamentos, desconfortos e equívocos...não, obrigada.

E há um perfume de liberdade no ar muito cativante quando se vai sabendo o que se quer, sem deixar de querer descobrir muito mais. Não acham?

sábado, 15 de outubro de 2011

Celebremos a vida e a nossa estupidez natural

Expensive Soul

Já me pronunciarei sobre a crise, as austeras medidas, as agruras desta imberbe Cosmolândia.

Hoje é um dia importante em que o mote é, dizem os manifestantes, "People of Europe: Rise Up!". "Outono quente", alguma coisa irá suceder ou está já sucedendo, debaixo da insensível pele das ruas, nas nossas roupas gastas, na nossa sombra-mesmice. De pontos variados, em rotas diversas em busca de uma só. Eu sei que sabeis do que falo.

Entretanto o azul, o tremendo azul deste dia brinda à vida em todas as suas possibilidades.

E, por gostar muito deles, aqui fica esta super-cool-feliz-saborosíssima Celebração, dos Expensive Soul - longa vida!

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Do meu sono

Achille Théodore Cesbron, Les Fleurs du Sommeil

Começo seriamente a achar que a minha relação com o sono é meio tântrica. Não é difícil eu ter sono. Talvez haja, até, poucos momentos do dia em que me encontre completamente isenta do espírito cativante de Morfeu (e, já agora, do Morfar). Mas ele ali fica, irrealizável no correr das horas, ignorado, recalcado, quase esquecido. Depois cai o sol, e já noite alta vem com uma força hipnótica para cima das pálpebras, pendura-se-me nas pestanas e balouça, balouça, toldando-me toda no seu véu diáfano.

O problema é que, desde que me conheço, detesto deitar-me cedo. Posso estar a abrir e a fechar os olhos em cada dois segundos (dois é já boa vontade), só faltando mesmo escorrer-me um fio de baba pelo canto da boca, que ainda luto com o invasor. A partir de um certo momento, porém, sei que é uma luta perdida. Posso conquistar-lhe uns momentos mais mas depois...irremediavelmente ficarei, qual múmia ou figurinha de cera, na posição em que estiver, fulminada enfim por este Vesúvio sirigaiteiro do sono.

Sei que sim, que se trata de infantilidade pateta a rejeição do sono às horas devidas, e que se acaba sempre por pagar os riscos de uma vida sem o descanso suficiente.

Agora ocorreu-me que o sono é como o tempo: chega, apodera-se, faz de nós gato-botim. Tudo com muito enleio, claro, à bom bandido.

Mas também nos mima, também nos descansa, transporta-nos poesia fora e quando dorme, ah ah, quando finalmente dorme o sono traz-nos então de volta a estas frenéticas, hórridas e mimosas lides do dia da nossa consciência.

É tântrico, meândrico e imensoooooooooo (bocejinho de Zim).

P.S. - Depois de escrever este post é que vi as novas medidas de austeridade...omgggg. Do que o sono nos livra. Mas também pode ser que tenha sonhado. Confirmarei quando efectivamente acordar.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O virtu@l é real

Foto de Zim: A verdadeira amizade é sempre a subir


Agora só quero brindar à amizade. À que nasce, de todas as formas e feitios, com a alegre empatia dos boníssimos encontros.

Para os cépticos da Internet em geral e dos conhecimentos via Internet em particular, só tenho a dizer que considero este um meio privilegiado de conversar e conhecer pessoas que difícil ou impossivelmente conheceríamos de outra forma. Com um valente brinde, o maior: pode trazer-nos amigos!

Não há informação, trocas de ideias, simpatias virtuais. Não há risos virtuais, discussões de mundividências virtuais. Consideramos virtual o burburinho noticioso veiculado pela Internet, apenas porque acedemos ao cujo dessa forma? Dilectos, dilectos, aprendam que aqui a Zim não dura sempre: virtual é o meio. Real é tudo o que nos acontece em qualquer lugar onde vivamos, pensemos, sociabilizemos  (embora este último vocábulo tenda a irritar-me)...partilhemos experiências, por assim digitar. Gente enganosa on-line? Mas claro. Tanta, provavelmente, aliás, em muito menor quantidade que os Doutorados em mentira off-line mas reaizinhos da Silva no nosso caminho. A mentira não é virtual, a verdade não é virtual.

Dizia o Hegel que o "racional é real e o real é racional". E eu digo que o virtual é real e que o real também...embora possamos viver ao vivo e a cores coisas surreais ou até mais a atirar para o virtual, se o virtual existisse para além do meio que é.

Tchin-tchin!

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Complicação, densa treva, fado

Diz que foi aqueloutro, reza a lenda. Talvez subir três vezes ao Everest e descansar, pelo meio, no Ama Dablam. Ainda antes do "pelo meio", sobrevoar a Etiópia (de triciclo). Não A, não B, mas o seu contrário. Pensei que X fosse preferível a Y, não que pretenda X, não que desdenhe Y, na verdade Y poderia ser mais interessante mas ambos são impossíveis porque, na verdade, nem pensei. Eventualmente não fará mal que Z resolva a questão, embora a questão, a bem dizer,  não tenha sido apresentada efectivamente a ninguém, sendo que Z apenas pode intuir à distância fragmentos ténues de uma qualquer desrazão.

No fundo os outros complicam-nos a vida e fazem-nos estagnar.

Oh! Baf! Oh! Se tão somente as pessoas:

- formulassem claramente o que querem, de si para si;

- repetissem em voz alta, para treinar e aferir da congruência dessa impressão volitiva;

- o proferissem com calma, clareza impoluta, princípio, meio e fim, à primeira pessoa/instância legítima para que, em real começo de conversa, em efectivo proferir, auscultar, compreender, se possa resolver a questão com empatia, segurança e sem a danação eterna a agoirar qualquer ínfima possibilidade de entendimento/encaminhamento/deferimento.

Sim, este post é bicudo, para não dizer fastidioso e mesmo chato*.

Simplifiquemos: se querem uma coisa...comecem por tentar explicar o que querem a Vós mesmos, fabulosos leitores e, depois, peçam-na. A quem de direito. Não enviem cartas para Júpiter, vão-se perder no caminho. Sigam a seta e boa sorte.

(Tudo isto para dizer que às vezes as pessoas têm um complicómetro dentro de si que parece gorar-lhe todos os planos, que tratam como um condutor indeciso guia a sua carripana. Não culpem sempre o destino. Nem tudo é fado e nem tudo é triste.)

* Retórica da autora, sei que no fundo não acham nada disto. E talvez nem eu. Vêem, vêem, pareço V.Exas. as complicar, V.Exas. em sofisminha manhoso, V.Exas. a derivar. Baf!

Desconcertos de Mãe


E agora a grande palhaça-artista...Tamborim Zim!


Mãe - Ora onde é que tu poderias trabalhar hoje? (Mirando a indumentária colorida de TZ. Colorida, sim, mas também nada de tão espalhafatoso...ou quiçá um pouco. Poucochinho.)

TZ - ....?

Mãe - (Irradiando felicidade com a sua descoberta) - Já sei! No Chapitô!!!

TZ - ?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!


Igual a: muita risada.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Doces bravos

Patrícia Acioli

Eu estava alegre e vinha aqui escrever coisas alegres, risonhas, vitais. Mas acontece que fui primeiro ao Sapo, e uma das notícias em destaque diz que 11 - ONZE - polícias foram denunciados pelo Ministério Público brasileiro por envolvimento no assassinato da juíza Patrícia Acioli, no dia 11 de Agosto deste ano. Chegava a casa, em Niterói, dentro do carro. 21 tiros. O fim de uma vida aos 47 anos de idade, o término de uma longa e intrépida luta contra a corrupção policial (como se atrevia, justamente no Brasil?!...), grupos de extermínio, etc.. Com ela iam dentro, e não é à toa que se diz que houve polícias a celebrar com churrasco a sua execução. Pelo menos uma alta patente militar envolvida na hedionda conjura. Uma protecção deficitária, um rosto na lista negra e o terror, mais uma vez, a vencer.

Lembro-me de outros justiceiros mártires: Giovanni Falcone, Paolo Borsellino, tantos conhecidos e quantos anónimos. Quantos magistrados deram tudo o que tinham pela convicção imarcescível do cumprimento do dever, da defesa da justiça, da erracadicação do crime, da protecção de inocentes. Quantas vitórias, quantas pesadas derrotas. Vem agora a lume, em Itália, uma suspeita de que o juíz Paolo Borsellino não teria sido assassinado pela Mafia mas a mando do Estado, como salvaguarda dos negócios escusos em risco.

Falamos do mundo Árabe, reconhecemos a mistureba indiscernível, porque é mesmo assim no Islão, entre o poder religioso e o político. Noutra perspectiva, em quantos lugares a Oriente e a Ocidente, em países instruídos, com liberdade para o livre exame (alguns, como a Itália, integrados em organismos com a União Europeia e outros, como o Brasil, num crescimento económico assinalável), em quantos lugares não estão os poderes imbricados de máfias, de sangue, de horríveis mandatários algozes? E isto mesmo a  partir de dentro, das suas vísceras, até dos seus núcleos mais supostamente confiáveis, aqueles que deveriam proteger os cidadãos, dar o exemplo e, no limite, a vida?

Como é que podemos sorrir, dormir descansados, traçar planos, ter esperança, acreditar vagamente, quando pessoas como Patrícia Acioli findam desta maneira, nestas circunstâncias, sozinhas? Sem ajuda.

Mas eu sei, e sei que os meus leitores sabem, que não era assim que Falcone, Borsellino ou Acioli quereriam que pensássemos. É deles a crença lavada dos justos, a indefectível coragem, a paixão pelo bem e contra o mal. Viveram por isso. Morreram por isso. Mas ficarão como faróis até que a Humanidade tenha memória, até que se recorde do inesquecível contorno da palavra ética, até que consiga abominar e vomitar do fundo da sua história, de dentro do seu presente, a palavra corrupção.

Hoje em dia há um magistrado muito interessante em Itália chamado Antonio Ingroia que há uns tempos, numa emocionante aparição pública a que podem aceder no Youtube (http://www.youtube.com/watch?v=FQ6EHfkH4nI ) disse, entre outras, uma coisa muito tocante: que devemos aguardar o dia em que ser polícia ou magistrado seja visto como uma profissão e não como uma missão. Que seja normal, que sejam respeitados os que desenvolvem o seu trabalho, que os deixem trabalhar sem que precisem de ser considerados heróis, que os deixem ser cidadãos a trabalhar com a dignidade que todos os cidadãos merecem.

Continuaremos a percorrer longos caminhos. E não nos esqueceremos deles. Dos bons. Nem dos outros. Estamos aqui.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Água com açúcar para a Bárbara Guimarães, por favor

Calma, tragam água, águaaaaaa!...

Reparem que foi um acaso. Não que não goste bastante do programa "Peso Pesado", que segui em grande parte na sua primeira edição e o qual considerei, à excepção de algumas questões que se prendem com o que entendo constituir um excesso de exigência física, muito bem conseguido e com uma boa onda. Acho saudável que pessoas com aquele tamanho problema de gordura exponham os seus corpos numa atitude motivada e motivadora, numa inteligente procura da sua saúde e da sua auto-estima. Mesmo. Portanto, daqui os meus sinceros desejos de uma produtiva caminhada a todos os novos concorrentes.

Mas serve esta curta nota para vos dar conta da impressão que me causou uma Bárbara Guimarães que, apesar de sempre educadíssima e atenciosa, parecia estar a pontos de desmaiar a qualquer momento. "Pode descer", dizia a bonita apresentadora para o peso pesado da vez, numa vozinha que ameaçava partir-se tal o agastamento que se apoderou de Bárbara durante a emissão. O seu viço, onde, o seu sorriso, morto, o seu cansaço, enorrrrrrme. Que deprimência estafante, pareciam desabafar os seus olhos, em mudo SOS para nenhures.

Próximo!, "pode descer, por favor", inspira, expira.

Até quando aguentará o peso desta provação?

Chamem-me Patega

Se eu não sobreviver foi o....grashhh...TEFTOE!...

Foi com uma mistura de curiosidade e excitação por estar, finalmente, no limiar da minha integração total na Espertalhona da Era Digital (EED) que fui a uma certa e determinada loja trocar os meus valentes pontos por um Telemóvel Faz-Tudo-O-Espertalhão (TEFTOE - por pouco era Def-TOE ah ah ah). Naturalmente que as coisas não são assim tão simples nem  tão lineares. Certamente me seria dado sumiço (tudo bem, troca é troca mas sou sempre de uma renitência científica a dispensar os meus pontos, ganhos com o suor e a labuta de tantos carregamentos e ascendendo a milhares de euros) a uma imensidão dos meus queridos pontinhos, mas um mal nunca vem só. Também esta que tão fielmente vos digita teria de abrir mão de uma boa maquia de euros, mas por aqueles mecanismos mentais de elevada astúcia e não inferior celeridade, a soma deste abrir de mãos parecia-me risonha e até vantajosa.

Primeira questão: que modelo escolher? Analisado o catálogo, ponderada a questão económica, estética, funcional, ficaram dois lado a lado. Hum, o maior, o mais pequeno? (Oh, se tivesse sido o mais pequeno!...Ahahahaha, gargalho com seca ironia crescente.) Depois de dizer ao simpático funcionário que podia ir atendendo o próximo cliente enquanto eu me abancava lateralmente no balcão com os aparelhos e o catálogo, toda eu dedinhos, leituras de características que, em boa parte, me escapavam totalmente ao intelecto, acabei por escolher o maior. Sempre é melhor em maiorzinho. Fiquei reconfortada por ter a anuência sincera do empregado e lá vim com o meu querido bebé digital para o lar. E vai daí...

Recostem-se no sofá. Foi o que eu fiz. E vai daí...Vai de digitar por tudo quanto era íconezinho, cada um mais colorido e bonitinho que o outro. Caleidoscópio voraz, a coisa parecia-me de uma incessante metamorfose. Primeiro que percebesse (terei mesmo percebido?) a quantidade e o tipo de opções e multi-opções e menus e frangos que aquilo assava e saias que aquilo cosia não foi menos que uma eternidade. E os sons? Ai que polifónicos que nítidos! E a maravilha do écran táctil? Parecia uma agricultora que, tendo acabado de largar a foice na meda (meda, ok?) mais próxima, se largou a cismar e a experimentar tão especial, diria tão espacial objecto. Ui, e a ergonomia? Bom, talvez aquilo fosse um bocado anguloso demais para segurar e falar ao telefone, mas pensando bem, o que é que interessa falar ao telefone? Se há ali tanto mais para fazer?! Hum...gravador....ihhhh como os íconezinhos passam velozes, pareço folhear um livro sem detença e sem cortar os dedos no papel, uau, a EED é de facto outra louça. Para a frente, para trás, pára, abre, vai dar a outro, mais um labirinto, engano, volta ao menu, piscam, sorriem, expandem-se ficheiros e caixinhas e envelopes e símbolos a decifrar. Ora deixa cá ver..."restaurante vegetariano em Florença", pesquisa vai, tauuuuuuu! Genial, uma lista. Mas o que me arrebatou foram os mapas, o detalhe, a velocidade...Onde fica a Aldeia? Brrrrmmm....Mapinha a procurar, mapinha encontrou, mapa abre, expande, assinala, os olhos ardem um pedaço, brrrrrrummmmm. O quê mas isto sabe onde é que eu estou, estremeço e antecipo mau olhado por parte daquele objectozinho multi-funcionadeiro. Hum, sim, GPS, que instigante, zzzzzimmmm. Olha as horas em todos os continentes, que útil, um sente-se unido ao inteiro Cosmos, transido de informação e megabytes, um não consegue deixar de polir, avançar, retroceder. A ligar à Internet...roda, gira, uf, estou tonta. E passam as horas. E mais. Abrir, fechar, largada, fugida, hum, e o volume, hum, e os fundos, os fundos, e as letras...Configura, desconfigura, brrrrrummmmm. Uma dor de cabeça ensandecida apodera-se de mim e finalmente durmo. Mas no dia seguinte....Lá voltam os animados dedinhos a escalpelizar os cantos daquela infernal casinha portátil, daquela casinha que, na verdade, parece convidar-nos constantemente a fazer tudo menos a largá-la, a sair da sua magnética esfera de influência. Parecia-me ouvir risinhos surdos lá de dentro, e vislumbrar esgares satisfeitos e maquiavélicos, sim, eu era puxada! Os olhos doridos e as dores de cabeça continuavam numa persistência suspeita, mas o cenário assumiu tons de muitíssimo maior terror quando uma profunda naúsea tomou conta de mim, mesmo atenuando a proximidade daquele poltergeist de uma figa. Bastava-me chegar mais perto e até parecia que me vinham vibrações do bichano, por pouco não vi fumos a evolar-se dos buracos, dos bonecos, dos (poucos) botões, as próprias radiações!  Pelo meio da tarde estava absolutamente certa que a única causa possível daquela tríade inamovível (dores de cabeça, olhos a arder e náuseas terríveis) era o TEFTOE. Eis-me a percorrer o meu bom pc, estático, com teclas onde carregar, com a informação organizadinha e não em deslizamento assassino sob os meus olhos que pareciam sangrar de desconforto, a pesquisar as causas últimas do meu desalento e do meu péssimo estar. Descobri várias menções a estudos feitos que relacionam os sintomas que apresentava com os telemóveis 3G. Ah, mas sem dúvida que, nesta onda da EED, os TEFTOE levavam a melhor no mortífero ataque, concluía, cada vez mais segura da minha negra descoberta.

Olhava-o, mirava-o já sem simpatia mas com uma apreciação genuína das suas linhas bonitas. Mas ai que enjoos...E a cabeça que nem se tinha em si... Ok. O que tem de ser tem muita força. Fora curto, intenso e arrasador. No final do dia voltei à certa e determinada loja onde outro empregado, tentanto ser o mais neutral possível, ainda me perguntou porque razão tinha então comprado o telemóvel. Lá arenguei que não sabia que seria assim. E rematei: "Estas coisas são endemoinhadas e só podem estar a fazer-nos MUITO mal!". O empregado não me tirou a razão, mas também não ma deu. Claro, não podem. Encontrava-me  preparada para uma chinfrineira que poderia incluir pôr-me de pé em cima do balcão a gritar para o povo circundante que o Demo em figura de telemóvel espreitava como "anjo de luz" em cada superfície luzidia, em cada modelo elegante e pró-activo em que dessem com a córnea, para além de que remeteria cartas a todos os Ministérios, à Comissão Europeia, ao Tribunal Europeu, caso me dificultassem a devolução. Não foi preciso. O dinheiro foi-me creditado naquele mesmo momento no cartão e, passadas umas (boas) semanas, todos os meus pontos voltaram a mim. Que é onde eles estão bem.

E as maleitas? As maleitas, dilectos leitores, começaram gradualmente a evaporar-se à medida que conquistava metros de chão sem o malquisto "negócio" nas minhas mãos. Melhorei tanto, e tão depressa, que só pude confirmar o óbvio: os TEFTOE são uma ruína. Querem mapas? Vão ao pc! Querem listinhas de restaurantes? Vão ao pc, à Biblioteca Nacional, palmilhem as ruas à procura que só faz bem à balofice. Ah, mas e a portabilidade. A portabilidade uma pinóia! Portátil sou eu, e a minha cabeça, os meus olhinhos, todo este gentil esqueleto, e quero continuar portátil e sem vómitos e enxaquecas até que motivos de força maior me mudem a condição. Não, lamento, não será uma caixinha irritante em cujo écran (se tudo se tivesse dado com o écran inferior só deveria piorar a coisa em muito) o meu Facebook parece a minha lista de SMS na caixa de entrada do telemóvel. Nãoooooooooooo! Não será aquele frenesi das coisas a mexerem quase via sopro que me ofertará a lua. N-Ã-O! Quero a minha paz, a minha paz, a minha saúde, a minha saudinha! A EED o CQLFAC (Camandro Que Lhes Fez A Cabeça)!

Chamem-me patega. Eu sei o que é bom.

domingo, 9 de outubro de 2011

Salvar o mundo?

Foto de Zim

Por acaso (?) fico um bocado chateada, acho que até triste, quando me perguntam com uma piruetazinha de escárnio na ponta da voz se quero ou se vou salvar o mundo por comer soja, tofu, seitan, tempeh (todos deliciosos), etc, em vez de continuar a comer animais, seres vivos como eu, com lágrimas e alegrias e medos como eu.

Sabe-se. Reflecte-se. Sente-se. Decide-se. Age-se.

Será que ainda não perceberam que eu há muito compreendo a vastidão do mundo, estando portanto tristemente ciente de que não poderei, ainda que quisesse, soubesse, fosse digna disso, salvá-lo?

Desconhecerão, talvez, que o mundo é feito destes biliões de mundos que consistem em cada uma das nossas carcaças com coração e miolos inclusos?

Será que não entenderam ainda que é a mim, a mim mesma, que tento salvar-me?

Quem não entender a existência como Demanda, viagem e auto-regeneração, para onde caminhará?

Afinal é a brincar (que a gente se entende)

Jogos Infantis, Pieter Bruegel (1560)


Lembram-se do post A Terapia Nacional ? (Bem me parecia que não...) Mas aí salientava as manigâncias da noite, daminha sempre faceira e acetinada, prontinha, especialmente quando bela, a fazer-nos escorregar para a mais boçal das figurinhas.

E é talvez esse noctívago espírito que me fez voar o pensamento, já de si tão apto a voejar, para a grande e feliz rambóia de um quadro do Bruegel de que gosto muito: Jogos Infantis. Se é certo que as criancinhas são, em geral (duas palavras da maior utilidade, salvíficas mesmo, "em geral"),  de uma pestilência negro-bubónica sem limites, também não é mentira que estas 84 brincadeiras registadas na tela são das coisas mais sedutoramente gaiatas que se pintaram. Pião, cavalitas, cabra-cega, de um tudo os alegres trombadinhos (lembro-me de uma das minhas musas, Feodora Abdala, na novela Sassarincando) executam naquela praça cheia de movimento e de cor. (Contudo, contudo...dir-se-ia que o próprio cenárico brinca numa caprichosa gangorra entre o movimento e a quietude, qual teatro, qual partida pelos séculos ao impressionado observador.) Dá-se praticamente o perigo de podermos vir a gostar dos pequenotes. Mas é a noite, tenra é a noite, tenra é a noite...Tarada deveras.

Sim, somos crianças toda a vida. É vero. É certamente uma benção reconhecermos em nós essa substância de coisas tão agitadas quanto doces, tão remotas quanto imorredouras. Mas é também um momento em que o nosso "um" mais íntimo se retorce de alegria doida e muito ufana quando alguém reconhece, por via de um olhar, um trejeito, um monossílabo com um certo açúcar dentro, a nossa dimensão infantil, o nosso "jogo infantil" em situação. Dá-se assim um não sei quê de ternurento entreolhar, dois sorrisos acutilantes e tácitos, uma solene e magnânime certificação, talvez mais sedutora do que seduzida, da sã loucura de nunca sermos totalmente crescidos. Faz parte da perspicácia do humor e de uma benfazeja empatia entre seres.

Agora aproveitem o Domingo cujo soalheiro amanhecer em breve surgirá, como pãozinho quente e estaladiço, do forno desta noite de Outono, para identificar cada uma das 84 brincadeiras do quadro do Pieter. Não sejam calinas.

sábado, 8 de outubro de 2011

Bosquejo


Virginia Woolf

Solta-se, dentre a tralha e o bafio do baú, uma fotografia esmaecida. A preto e branco, a sépia? (Sépia é tão déjà lu...Ou por outra, que sei eu?)

Mas de qualquer forma ela escrevia. Vivia de germinações de enredos e  pólens de romances engendrados na noite preta. Escrevia em folhas, gastava velas, varava os sóis e passeava muito, onde as acácias se inclinam mansamente para o beija-mão do fim de tarde. Empalidecia, escrevia a própria palidez nas folhas amarelecidas, escrevia como se esquecesse imediatamente o vocábulo anterior, como quem inventasse a linguagem do tempo em cada movimento da caneta, do lápis, da polpa dos dedos apenas. Escrevia a andar, a sonhar, moldava romances sonâmbulos, emulava o trinar dos pássaros. Escrevia como os cães que ladram, pensativos, nas masmorras da sua noite só.

Envelhecia em milhões de páginas com a sua letra torta. Folhas encapeladas em tecto, chão, sacada. Nelas a sensaboria, a desolação, o despertar e a felicidade.

Escrevia como quem navega à porfia ou como quem, simplesmente, arde.

O baú é um computador futurista dentro da minha cabeça.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

A coerência, a coerência

Z3 - Estou feito ao bife contigo!

TZ - Ao bife não! Ao tofu, ao seitan, à soja... mas ao bife não!

Da claridade na noite



Ontem caminhava para casa. Já escuro, noite fechada, ventania e o reconforto da chegada ao bairro. E ocorreu-me, dentre o escuro e a noite fechada e a ventania e o reconforto e o meu natural espírito meditabundo que, se Deus existir (e quanto queria que sim!), deve ser Claridade e Dom. E nessa luminosidade avancei pela noite escura.

E lembro-me agora de uma canção que amo, cantada por uma das minhas mais amadas cantoras, A Diva, Marisa Monte. A canção é, creio, do Arnaldo Antunes. Aqui fica Alta Noite, nesta maravilhosa versão que apenas hoje descobri apesar de já ter dezoito anos, com o fabuloso Dori Caymmi a participar, e uma esplendorosa Marisa a vivificar.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Sobre os desencantos com a blogosfera ou Do que o mundo precisa


A jardinar é que a gente se entende meu povo

Ainda enquanto apenas espectadora blogosférica, apercebi-me do desconforto, da insatisfação e até de uma certa carga saudosista por parte de vários bloggers e leitores quanto aos rumos do mundo dos blogs. Confesso que a minha vivência do meio data de apenas dois ou três anos, por aí, pelo que não serei propriamente experiente, mas esboço aqui a minha investida altamente sócio-blogo-lógica acerca do fenómeno. Desconheço se antes o cenário era idílico ou mais talentoso. Reconheço, porém, que é perfeitamente possível que, como talvez aconteça com todas as coisas, se respirasse uma pureza maior no início, e até um perfume de reconfortante exclusividade.
Mas, dilectos leitores, é como tudo: cresce o interesse, cresce o público, crescem os produtos ou, neste caso, os blogs. Milhares por dia. É assim. Da minha parte, gosto muito deste libérrimo acesso. Toda a gente, desde que tenha acesso à Internet (bom, neste caso não será toda a gente, mas percebe-se aqui a generalização), pode criar o seu blog, divulgar os seus gostos, confrontar as suas opiniões, publicar finalmente poemas e poemetos, raciocínios inauditos e o que lanchou. Livre acesso, livre utilização.
No meio de uma ou outra análise mais sincera e avisada sobre os blogosféricos rumos, abunda a invejite, a sonsice, a ferroada, a tristeza dos ressabiados e os puramente desprovidos de qualquer interesse que não seja a ofensa cega e abstrusa.
A menina que mostra sapatos (mas que mostra muito mais do que isso) e tem sucesso com o seu blog logo é atacada por fundas consciências literatas que, não deixando de ler atentamente o tal blog, se confessam exauridas do seu espírito. E, claro, fashion blogs, ou pretensamente fashion, nascem como cogumelos. Ainda assim, parecem-me bastante preferíveis aos faxina blogs, ou blogs de lavagem de roupa (entre outros) suja. Se é campo aberto, é campo aberto, meus caros. Não há livros de conteúdos e qualidades tão díspares, não sucede o mesmo com a música, com a pintura contemporânea, com o cinema, com um rol de coisas? Pretenderemos que os blogs sejam uma espécie de sacrossanta criação exclusiva de raríssimas pedras preciosas, de tiradas magistrais, de prémios Nobel?
O que tenho a bitaitar sobre o tema, e já o fiz em comentários a outros blogs, é que cada blogger deve zelar pelo seu espaço. Fazê-lo diferente, sim, seu. O voltairiano “cuidar do seu jardim”. Quanto mais seu, mais interessante será partilhá-lo. O mundo precisa de regeneração da pureza. Que isso vos inspire o espírito blogueiro. Renovem-se, abram horizontes, ou continuem os vossos bons trabalhos e bons textos. Há muita gente a gostar de ler diferentes tipos de escrita, muita gente que perfilha mundividências diversas, gente que gosta de inteligência, de humor, de charme, de encanto e de conversar. Com bem vestidos, com mal vestidos, com ricos e pobres, com novos e com vetustos.
Acabei de criar este meu blog, e é isso que pretendo tentar. Com, espero, muito prazer. Não é por bons momentos que fazemos isto?

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Mudar

Foto de Zim


Mudar, diria, é do camandro.

Mudar de cores, de ideias, de sonhos e de pesadelos.

Mudar de casa, mudar de labores, mudar de penteado.

Mudar os preconceitos, torná-los preceitos de bem pensar.

Mudar de livro, de música, de bebida, de dieta, de regime (mas sempre para a República, até não vir nada melhor).

Mudar de sexo, se mudar de sexo se impuser.

Mudar o usual destino dos passeios e vogar noutras águas, voar noutros ares, se possível distantes, intensos, secretíssimos e intocáveis pelos olhos gordos do mundo.

Mudar de rumo.

Mudar o coração. Abri-lo, dissecá-lo, regá-lo e drená-lo com foros de cirurgião-artista-pintor-poeta-louco.

Somar o pouco, resultar em tanto.

Mudar de assunto. Mudar de ponto. De vista, de partida, de chegada.

Ser, com a maior das lealdades, o maior cúmplice do tempo, entendê-lo por fim no seu irresistível fluir de rio, e navegá-lo com desvelada atenção sem nunca perder da vista e do sentimento o imenso, eterno apelo da aventura.

Mudar a cura.

"Sê a mudança que queres ver no mundo." - "You must be the difference you wish to see in the world." (Ghandi)

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Dia Mundial do Animal - As pequenas-grandes Entrevistas

"Podemos não ser todos iguais, mas o nosso desejo de viver não é diferente."


Neste dia mundial do Animal, centremos as atenções nos nossos companheiros animais não humanos. Em prol de alguma reflexão, por vezes pelos ínvios mas amistosos caminhos do humor, aqui fica um recorte “jornalístico” da Alegoria da Primaverve com interessantes diálogos sobre a nossa relação com as demais espécies. Digno do National Geographic.

TZ – Obrigada por nos disponibilizar breves instantes. Gosta de animais?
O Esbaforido – Sim, pá claro…O meu cãozinho, aquilo é o máximo! Um amigo!
TZ – Qual é a sua opinião sobre o facto dos seres humanos se alimentarem à custa do sacrifício dos animais, aos milhões, aos biliões?
O Esbaforido – Eh pá…É assim…A gente alguma coisa tem de comer, e sempre assim se fez.
TZ – Mas há muitos médicos, nutricionistas, investigadores, estudiosos, que nos asseguram que não é necessário o consumo de produtos de origem animal para vivermos e para sermos saudáveis, para além do exemplo de tantos vegetarianos e vegans pelo mundo fora que respiram saúde e que até se livraram de muitos medicamentos com os seus hábitos alimentares! E a FAO já aprovou a dieta vegan.
O Esbaforido – Ãh?.. Pois isso não sei, só sei que alguma coisa a gente tem de meter para o saco senão pá…ah ah Está a ver. Tenho mesmo de ir agora ãh?, sorte!


TZ- Muito obrigada por nos conceder a sua atenção. Tem algum animal doméstico?
O Contemplativo – Não tenho. Mas aprecio.
TZ – Aprecia por gostar de animais, ou pela relação interessante que se estabelece entre estes e nós, seres humanos?
O Contemplativo – Por ambas as razões. Os animais são muito dedicados, engraçados, e ajudam-nos a sociabilizar. (Eu pessoalmente detesto a massa, se me permite o desabafo, e gosto de viver de forma independente, mas as virtudes dos animais são inegáveis).
TZ – E qual é a sua perspectiva sobre o morticínio massivo de animais para consumo humano? Como sabemos, há estudos diversos, e exemplos práticos que confirmam a não necessidade de carne, peixe, produtos animais e de origem animal para a nossa saúde.Há alimentos alternativos e até suplementos para a vitamina B12 – da qual carecemos em pequenas quantidades.
O Contemplativo – (pausa) Bom, há estudos que dizem tudo. E infelizmente, a morte é certa. Como diz o povo, lá teremos de morrer de alguma coisa. É muito triste, a morte, mas é um facto. Fatídico. (Sorriso lúgubre e muito delicado.)
TZ – Sendo a morte inevitável (mas “prognósticos só no final do jogo” eh eh ), o sofrimento pode ser evitável ao máximo. Será que estamos a dar o nosso melhor pelos nossos companheiros de Planeta não humanos?
O Contemplativo – Sem dúvida que não. (Pausa.) Não. Há muitos animais que são abandonados e até maltratados.
TZ -  Mas mais ainda são mortos. Todos os dias. Para os comermos. E não precisamos. O que acha disso?
O Contemplativo – Na verdade acho que é uma tradição que nunca desaparecerá. São assim os tempos.
TZ – No entanto, o nosso olhar crítico sobre a forma de viver e sobre as pessoas que somos pode mudar as tradições. Ou não?
O Contemplativo – (pausa) Pode ser que sim. Pode ser que não. Quem sabe? (Sorriso bondoso.)
TZ – Cada um de nós sabe?
O Contemplativo – Pois. Pode ser. São assim os tempos.
TZ – E, por exemplo, da sua parte, o que pensa que pode ou deve fazer quanto a esta situação?
O Contemplativo – Sinceramente, nada. Eu observo os tempos e vou vivendo.


TZ – Obrigada por parar e dar-nos uns momentos preciosos do seu tempo. O que é que acha da vida das vaquinhas , encurtada a 80 ou 90% para que as comamos? Entre outros animais, naturalmente.
O Abespinhado – Eh pá, se é para dar dinheiro às Associações de Animais isso não que a coisa está muito má por estes lados…
TZ – Não, nada disso. É apenas uma entrevista, aliás, uma troca de ideias. Já alguma vez deu consigo a pensar na vida e na morte desses animais? Das vaquinhas, por exemplo?
O Abespinhado – Pois mas elas existem mesmo para isso. Eh eh. É chato, realmente, a gente devia poder comer do ar mas não dá. Eu nem gosto de vacas pá.
TZ – E de cães, gatos, passaritos?
O Abespinhado – Tive um canarito por 10 anos e depois morreu olha, nunca mais tive nenhum. Era um bom compincha. Mas ele é ele e eu sou eu. Eh eh.
TZ – Não acredita que se estabeleça uma relação afectiva entre pessoas e animais? Entreajuda, carinho, amizade, respeito?
O Abespinhado – Ná pá! Eles são eles e nós somos nós. Vaquinhas, canarinho, cavalos, éguas, burros!...Eles são eles e nós somos nós, é assim. Sempre foi e sempre será.
TZ – E…hum…tem de ser assim por que razão, para além de ser tradição?
O Abespinhado – Oh pá sei lá, não leve a mal você é meio chata…Olhe, não leve a mal, vem aí o eléctrico, vou!...


TZ – Obrigada por nos dar este bocadinho. A senhora tem animais?
A Amável – Obrigada. Tenho sim, três gatinhos.
TZ – E consome animais?
A Amável (acercando-se) – Como diz?
TZ – Consome animais, costuma comê-los?
A Amável (quase em persignação) – Não, credo! Aos meus gatinhos, nunca menina!
TZ – Não, referia-me a outros animais. Vacas, porcos, atuns, por exemplo.
A Amável (sorrindo de alívio) – Oh, sim! Mas isso é diferente, esses são para comer!
TZ – Por exemplo, os hindus não comem vacas, são sagradas para a sua religião. Já viu como são pacíficas nos campos, como nos olham curiosas, como são ligadas aos seus filhotes? Qual é a diferença entre uma vaca e um gato?
A Amável – Pois, eu percebo, os animais sofrem. Mas há uns para comer e outros não, não é? Nós precisamos de alimento e de nutrientes, não podemos evitar.
TZ – Mas qual é a diferença, no seu ponto de vista, entre uma vaca e um gato?
A Amável – Bem, a vaca é um bicho muito grande, que não se dá em casas, mas no campo. São bichos criados para abater, coitadinhos, mas é essa a verdade.
TZ – Mas a senhora considera que a vaca, por exemplo, tem uma capacidade inferior de sentir dor, prazer, medo, conforto ou alegria que um gato?
A Amável – Sei lá coitadinhas. A gente também as vê sempre lá longe a pastar quando andamos pelas aldeias, não se percebe bem se estão contentes ou tristes. Certamente sentirão dor, são criaturas de Deus.
TZ – Falando em Deus, é de opinião que Ele concordaria com a forma como tratamos os demais animais, seres vivos como nós?
A Amável – Mas se Ele os criou foi para isso mesmo, menina. Penso eu. Eu não gosto de maltratar nenhum. Eu não mato nenhum.
TZ – Mas no fundo paga para alguém o fazer, pois consome-os.
A Amável – Bom, eu não pago para o fazerem. Eu vou ao mercado e eles já estão lá.
TZ – Em sinceridade, a senhora não acredita que há meios alternativos, hoje em dia, mais do que suficientes? Tofu, seitan, soja, todas as leguminosas, cereais, tempeh, cogumelos, e tantas mais coisas, para além da carne e do peixe? Ou melhor, não acredita que poderíamos, com a variedade de que hoje dispomos, viver com saúde sem matar animais?
A Amável (pausa) – Olhe menina, é possível. Mas é assim olhe.


TZ – Muito obrigada por aceitar esta breve entrevista. Hoje é o Dia Mundial do Animal e gostava de perguntar-lhe se não a choca a forma como os tratamos: animais abandonados, animais maltratados e, em quantidades incontáveis, animais mortos para nosso alimento.
A Moderna – A mim não me choca. É a lei da vida, é a cadeia alimentar.
TZ – Mas não considera que nós podemos mudar as leis da vida até certo ponto, desde que queiramos? E por que é que é uma lei? Temos direitos sobre as vidas de outros seres?
A Moderna – De outros seres humanos não, mas dos animais sim. Eles são irracionais e basicamente existem, enquadram-se nos seus ecossistemas mas existem para consumo. Senão nem existiam. Ia dar ao mesmo.
TZ – Mas acha mesmo que é o mesmo não existir por nunca ter sido concebido ou existir, sofrer, ser separado dos filhos, dos pais, penar mil torturas e dores físicas, medo, extrema ansiedade, e finalmente morrer sem o direito a uma vida, à vida que seria a sua se não lha tirassem?
A Moderna – Não, essas visões estão ultrapassadas. O Homem já convive perfeitamente com a ideia de ser um omnívoro, e há métodos de abatimento não cruéis.
TZ – Mas há-os muito cruéis, fora toda a forma como são criados. Imagine uma galinha a viver permanentemente com a dor de ter as suas patinhas em fios de arame enquanto põe ovos, ou uma vaca a ser engravidada constantemente para ter leite, e a chorar dias a fio pelos seus filhos que foram levados para, por sua vez, viverem em cubículos irrespiráveis para não ganharem músculo e permitirem a degustação da carne tenra. Poderemos chamar humanista a um sistema semelhante?
A Moderna – Dores e males há em tudo na vida. Temos de lidar com a ideia da finitude, do sofrimento e da morte.
TZ – Mas há sofrimentos e mortes evitáveis, e vidas deploráveis. Não acredita na liberdade de cada ser para usufruir do seu direito à vida?
A Moderna – Acredito acima de tudo na liberdade. Mas a liberdade não assiste aos animais.
TZ – Mas é isso mesmo que gostaria que me clarificasse. Não lhes assiste a liberdade por serem, como diz, irracionais, por não serem humanos?
A Moderna – É isso.
TZ – O facto de sentirem dor, prazer, medo, alegria, conforto ou alívio, de estabelecerem as suas próprias relações sociais e familiares, e de contribuírem, em muitos casos, para uma relação de ternura com os seres humanos não acrescenta um outro ponto de vista a essa perspectiva?
A Moderna – Não.


TZ – Obrigada por parar. Este dia não está fácil…Hoje é o Dia Mundial do Animal e gostava de saber se não considera uma insanidade sem nome, uma tremenda de uma sacanice, desculpe os termos, o que se faz com os animais diariamente. Maus tratos, morticínio, morticínio, morticínio…
O Atento  - Obrigado. Eu não tenho animais. Mas não consumo animais. Há 10 anos. Como ovos e lacticínios mas estou a pensar tornar-me vegan, e já ando a ler muito a esse respeito.
TZ – (olhar no vazio) – Mas não considera que os animais têm, como nós, o direito à sua dignidade existencial?
O Atento (admirado) – Naturalmente! Por isso não os consumo.
TZ – Mas não considera isso uma contradição do caraças? Respeita-os muito, tem muita pena e pumba, consome-os?
O Atento (em direcção à estupefacção) – Mas minha senhora, justamente. Não os consumo.
TZ – (colérica) – Consome, consome! Acabou de dizer que os consome, que dá dinheiro para lhes racharem as cabeças, os cascos, estraçalharem as guelras, violentarem as vacas com máquinas toda a sua vida!
O Atento (tomando as rédeas ao problema) – Calma. Por favor. Eu já percebi tudo. É a habituação, não passa de uma alucinação auditiva. Minha senhora, por favor, leia os meus lábios, confie em mim: Eu NÃO como animais. Eu NÃO como animais, compreende agora? Simplesmente não os como. Há 10 anos. NÃO como.
TZ  (de olhos esbugalhados e sentindo-se empalidecer e subitamente renascer) – Oh! Oh, mas mil, milhões de perdões. Por favor desculpe-me. Foi, como diz…o hábito. Turva-nos, tolda-nos, enlouquece-nos. Hum…Portanto, não come animais, não é?
O Atento (a sorrir francamente) – Não, não como, esteja tranquila. Há 10 anos. E gosto muito. Vivo muito bem assim, está tudo bem com a minha saúde, não tenho qualquer tipo de saudades de contribuir para o seu sacrifício. Durante muito tempo nem pensava nisso, mas depois de ter pensado…Não pude deixar de continuar a pensar. É viciante. (Sorriso caloroso.)
TZ – Oh…Muito obrigada. Não, não é? (Acrescento muito, muito tímido.)
O Atento (continuando a sorrir tranquilamente) – Não. Não como animais. Há 10 anos. Não. Mesmo.

Fosse esta a proporção! Um em seis. Durante muito tempo pouco diferente fui dos outros cinco. Durante toda a minha vida até agora, aos 35 anos.
Feliz Dia do Animal para todos.
Ah e...pensem um pouco em tudo isto. Pensar é viciante, e sentir ainda mais.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

A Inominável Patifaria

Acabo de saber, via noticiário importante que é, nos nossos dias, o muito simpático Facebook, que a comitiva do PSD da Madeira, encontrando-se em campanha para as Autárquicas, foi responsável por um feito que certamente lhes deve ter reforçado a confiança: atropelou um cão e não parou, deixando o animal morrer junto da população que entretanto se aproximara.

Uma campanha eleitoral, supostamente um momento de transmissão dos melhores valores de cada partido, mesmo se apenas teóricos; um carro em andamento; um condutor racional, consciente, humano; um animal na via pública, um ser vivo, um cão, que sente a mesma dor que cada um de nós sente quando se magoa; um atropelamento fatal; nenhuma paragem, nenhum auxílio, zero condolências da comitiva.

São poucas as linhas para o que me apetece dizer. Ou melhor, são muitas. No fundo resume-se a NOJO e a absoluto REPÚDIO. Seja qual fora a cor política, esta atitude que, num qualquer país civilizado, seria passível de penalização e do nome de CRIME, caso fosse comprovada negligência  por parte do condutor, no nosso alegrete país da absurda cumplicidade com toda a sorte de javardices deve, ao menos, merecer o nosso mais sonoro escarro.

Quando é que as pessoas entenderão que é preciso fazermo-nos humanos diariamente, e que a ética não se esgota nas relações entre seres humanos, nem em palavrinhas ordenhadas nas tetas da politiquice?

7646bc5t4g xw0++m4hjgfpop3008947 = Asneiras feias à Vossa melhor consideração.

domingo, 2 de outubro de 2011

Lindas de viver!

Boutique Pé Chato (Ai que morro por elas!)*
Por mais que um não queira, um tem de enfastiar-se, mais, eriçar-se medonhamente assim que aporta à capital - que, todavia, me viu nascer, tendo isso a seu favor. É um camarada com a biclazinha façanhuda no passeio, é outro amigo que, constante na intenção de disputar o PASSEIO aos peões, cavalga sereno na sua respectiva bicla, é o cheiro, são as gentes, é o calor, arre, diacho, nãoooooooooooooo!... Eu sei, eu sei e por respeito aos Vossos digníssimos e sensibilíssimos estômagos não me adianto com pormenores do horror.

Estaco e prevejo mentalmente que não há muito a fazer. Decidi, para lenitivo da minha raiva urbana, tornar-me uma grande, renomada e adulada fashion blogger e multiplicar-me em termos como trendy e stylish e nãoseiquish. E, sim, apresentarei a 546ª edição da Chuva de Estrelas, e quem sabe uma qualquer Casa sem qualquer imaginável tipo de segredo. A Pipoca Mais Doce que me perdoe, mas desta vez é meu o prémio glamour-bloguiê.

Merecem, assim, a visão das minhas botas* depois dos dias de férias e opíparas caminhadas. Como diria a Oprah, "take a look". O cheiro não chega aí, pois não? São rosas, leitores...

* Tamborim brinca, Tamborim brinca...Não, não são estas as minhas botas (nem, já agora, as minhas unhacas), mas de uma feliz catrapiscagem na net. De qualquer forma, não são uma fofura só? As desta que vos escreve ainda não permitem que os gloriosos dedinhos vejam a luz do dia. Ainda, registe-se. (Tom final grave, frutado e prolongado no écran, quasi soturno, quasi em agoiro).